Na esteira de ‘Stranger Things’, por que a nostalgia vende?

Foto: Divulgação/Cr. Tina Rowden/Netflix

A quarta temporada da série “Stranger Things“,que estreou no último dia 27 de maio na Netflix, está dando o que falar, não só por seu enredo cheio de reviravoltas, mas pelas estatísticas de vendas e audiência nos streamings. 

Segundo números levantados pela The Hollywood Reporter, a quarta temporada bateu um total de 286,79 milhões de horas assistidas só entre sexta (27) e o domingo (29), ocupando o pódio de série em língua inglesa mais vista do mundo. O número desbancou com folga a segunda temporada de “Bridgerton”, detentora do recorde anterior, que era de 193 milhões de horas assistidas durante a estreia, em março deste ano. O recorde de série em língua não-inglesa mais vista da plataforma continua com a coreana “Round 6”.

O apelo da nostalgia 

Segundo a neuropsicóloga Carolina Benigno que em seu trabalho faz um paralelo entre psicologia e cultura geek, a nostalgia, que nada mais é do que saudade originada pela lembrança de um momento vivido no passado, tão explorada em séries ambientadas em décadas passadas como a própria “Stranger Things”, tem a ver com a sensação de conforto e da lembrança de quem éramos em outras época, geralmente associada à infância ou adolescência. “A nostalgia pode servir muito como um mecanismo de conforto emocional, principalmente em momentos de dificuldade, desesperança e pessimismo”, explica. 

A nostalgia também guarda um senso de pertencimento e, segundo a análise da psicóloga, causa em nós um sentimento de autocontinuidade e autocoerência, “A sensação de que aquela memória faz parte de você e de quem você é hoje, te reconecta a uma parte sua que pode ter sido negligenciada com o passar dos anos”, afirma.

Aula de engajamento e marketing

Outro impacto curioso que a série teve no comportamento do público foi fazer que a canção “Running Up That Hill” da cantora Kate Bush, famosa nos anos 80 por hits como “Wuthering Heights” e “Babooshka”, ficasse entre as cinco mais ouvidas da semana no mundo, segundo o Spotify. Ou seja, a geração Z, público majoritário de “Stranger Things”,  descobriu Kate Bush, por conta da trilha sonora da série. Dado que faz todo sentido já que, segundo pesquisa recente, uma a cada três pessoas desta geração, não sabe quem foram os Beatles. Bon Jovi, Pink Floyd e David Bowie também são desconhecidos por eles (50%).

O universo de “Stranger Things” abre possibilidades infinitas de apresentação de marcas já consolidadas no mercado, mas que não têm apelo com a nova geração, a grande maioria dentro do mercado de entretenimento, moda e música. Exemplo disso foi a procura por jogos de tabuleiro RPG do sistema “Dungeons’n Dragons”, no qual a série é baseada, desde a primeira temporada. Uma marca que foi muito famosa nos anos 80 e está aproveitando esse revival fé a Quicksilver, especializada em surfwear, que recentemente lançou uma coleção “Stranger Things”.

No Brasil,  marcas como Melissa, M.A.C, esmaltes Impala e lojas de fast fashion como Riachuelo investiram pesado na série e também soltaram produtos temáticos. Algumas estações de metrô de São Paulo foram completamente adesivadas com a temática da série trazendo também cenários instagramáveis com os monstros de “Stranger Things”.  O mundo invertido também pode ser visitado nas Galerias Melissa São Paulo, na Rua Oscar Freire e de  Nova York, com instalações imersivas que prometem ir muito além dos produtos.

Segundo o diretor de planejamento e analista de marketing do grupo Newcom, Thiago Cardim, mais do que construir um produto audiovisual com os dados de consumo e tendências que os seus poderosos algoritmos trazem, o que sabidamente a Netflix faz (e com excelência) em “Stranger Things” é  transformar a nostalgia em uma excelente ferramenta de marketing. 

“Stranger Things pega uma série de referências que já se sabe bem que funcionaram e filtra aquilo que vai conversar com um público mais jovem, mais moderno, mais conectado. Não deixa de ser, mesmo usando telefones com fio, uma aposta nas redes sociais. Ao mesmo tempo, eles capricham na emoção e falam ao coração de um público mais velho, que carrega lembranças de cada um daqueles itens, dos filmes, dos jogos (…) Pronto, a receita de sucesso está pronta”

Portanto, sim, podemos concluir que nostalgia engaja e vende porque todo mundo quer se lembrar de um tempo em que tudo era diferente, mais feliz, mais fácil, mais leve. Quem nunca?

Se quiser assistir outras séries na mesma pegada nostálgica, deixamos aqui algumas dicas: Cobra Kai (Netflix) , Glow (Netflix) The Americans (Star+), Yellowjackets (Paramount) e Pose (Star+)

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