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Ilustração Gustavo Prata
Créditos: Ilustração Gustavo Prata

Brasil ganha versão dos sites norte-americanos que promovem a aproximação de senhores experientes, ricos e generosos com mocinhas desamparadas.  O “sugar daddy” se propõe a pagar faculdade, aluguel, prestações atrasadas e ainda a levar a “sugar baby” para viajar. Batizado de Meu Patrocínio, o site nacional cita a primeira-dama Marcela Temer como exemplo de “sugar baby”

Por Paulo Sampaio para revista PODER  

“Homem maduro procura moça mais nova para relacionamento sem compromisso. Se propõe a ajudá-la com aluguel, estudos e prestações atrasadas. Dá preferência às que têm disponibilidade para viajar.” Em um passado nem tão remoto, o senhor acima teria como opção de busca os “classificados de pessoas” dos jornais. As garotas, por sua vez, costumavam cobrar adiantado, em dinheiro vivo, e não viam problemas em figurar na categoria “de programa”. Os anos passaram e agora o encontro da fome com a vontade de comer ganhou uma nova nomenclatura. O endinheirado maduro é chamado de “sugar daddy”, termo em inglês que significa algo como papaizinho doce. O açúcar em questão pode vir na forma de um chocolate, mas também de tudo o que o money pode proporcionar. A moça, em uma adaptação providencial de status, atende por “sugar baby”.

Invenção dos norte-americanos, a terminologia serviu para acomodar o patrocinador e a patrocinada em um quadrado moralizante. Graças à retórica do pragmatismo, o acordo fica supostamente preservado da suspeita automática de prostituição disfarçada (ou ‘soft prostitution’, segundo a definição de um jornal inglês). A ideia é apresentar o encontro financiado como um empreendimento igual a outro qualquer. Nos Estados Unidos, já tem até ranking dos melhores serviços do gênero, a maioria inaugurado há mais de dez anos. Entre os tópicos avaliados estão tempo em que está no ar; alcance; e quantidade (maior) de moças em relação aos homens.  O Brasil ganhou uma versão tropical do negócio. Funciona desde janeiro, chama-se Meu Patrocínio e tem 10 mil sugar daddies registrados, contra 41 mil sugar babies. A primeira-dama Marcela Temer aparece no blog do site como exemplo de sugar baby. Noticiou-se que o Planalto iria acionar judicialmente o Meu Patrocínio, mas o site informou a PODER que não foi procurado nem acionado pela presidência.  O advogado Marcelo Augusto Brandão Camello, do site, lamenta o “cunho negativo” com que o serviço eventualmente sai na imprensa. Diz que reafirma “total apreço a Primeira Dama da República Federativa do Brasil” e que não permitirá que “distorções interpretativas se perpetuem de forma impune”.  Procurada, a assessoria da presidência não retornou o contato.

Blog do Meu Patrocínio
Blog do Meu Patrocínio || Créditos: Reprodução

SERÁ QUE ELA É? 

O Meu Patrocínio cobra “matrícula” apenas dos homens. Eles podem escolher entre três categorias: a básica é gratuita e proporciona apenas verificar as informações sobre as moças; a premium, com taxa de R$ 199, abre todos os canais de contato com as sugar babies; a elite, de R$ 999,  proporciona uma exposição maior do perfil do “daddy” (por todo o Brasil), acompanhado da ficha completa dele – incluindo antecedentes criminais. “Nessa versão, o cliente chega a receber 200 mensagens de meninas por dia”, garante a empresária Jennifer Lobo, 29 anos, criadora do site. Jennifer é uma espécie de cartão de visitas do próprio negócio. Alta, loira, bronzeada, ela conta a PODER que nasceu na Flórida, é filha de brasileiros e há quatro anos mora com a avó em Moema, bairro da zona sul de São Paulo. Diz que tem o seu próprio sugar daddy – um executivo do mercado financeiro de 37 anos. Ela aparece no café onde a entrevista foi marcada, no Itaim, também na zona sul da capital paulista, usando um vestido preto, sandálias altas da mesma cor e um trench coat bege. Todos prestam atenção quando ela caminha até a mesa. Muito disponível, a empresária se propõe a falar francamente a respeito de seu negócio, e isso já facilita fazer a primeira – e mais óbvia – pergunta: mas, afinal, qual a diferença do Meu Patrocínio para um site de garotas de programa? “Justamente a ausência de garotas de programa”, afirma, rindo, enquanto empurra o cabelão para o lado.

Para saber se a candidata é ou não GP (já que dificilmente a moça declara isso voluntariamente), Jennifer aposta em sua “convicção”, como o procurador Dalton Dallagnol, do Ministério Público Federal. “Se na primeira conversa percebemos que há interesse em fazer sexo por dinheiro, a candidata não será aprovada.” Levando-se em conta que o sugar daddy está pagando, deduz-se então que ele nunca fará sexo com a sugar baby. “A partir do primeiro encontro, eles decidirão o que vai acontecer. Já não é mais com a gente. Pode acabar ali, continuar por uma semana, permanecer por anos.” A análise do perfil da moça é feita pela equipe de Jennifer, que é composta por cerca de seis pessoas. Ela afirma que há fila de espera. “Quando a interessada em se inscrever manda o material fotográfico, a gente vê se não há tentativa de parecer o que não é, o que seria um mau começo. A imagem da cadastrada tem de corresponder à realidade, caso contrário o sugar daddy pode denunciá-la, e nós a investigaremos.” A questão é que não existe contrato assinado entre as partes, ou qualquer documento que assegure o vínculo entre ambas. Nada garante que o sugar daddy vai pagar os estudos da sugar baby até o fim do curso, nem que ela se manterá fiel a ele. A forma como se dará a “gratificação” (cash ou por depósito em conta) depende deles. Não há controle sobre o destino desse dinheiro. Se vai virar prestação, aluguel ou bolsa Michael Kors, só a baby saberá dizer. “Cada um faz o seu acordo. Tudo se conversa”, diz Jennifer. Segundo ela, o sucesso do relacionamento pode ser decidido logo no primeiro encontro. “É ali que a moça toma conhecimento do estilo de vida que o interessado está propondo. Em que restaurante ele marcou o encontro? Como é a roupa dele? O carro?” O  “bom senso” conta muito, diz ela. Perfis que apresentam fotos do daddy em helicópteros “bombam”.

Créditos: Ilustração Gustavo Prata
Créditos: Ilustração Gustavo Prata

SEM CRISE
Jennifer Lobo não é apenas uma empresária sensível, ela é ousada. Imagine o que é para uma norte-americana criada na Flórida desembarcar no Brasil e abrir um negócio de encontros entre senhores e mocinhas, com dinheiro no meio, tendo de discernir quem é sugar baby, quem é garota de programa. Isso tudo em um país onde a prostituição – infantil inclusive – prolifera irrefreavelmente. De acordo com dados da última grande pesquisa sobre o assunto, feita em 2010 pela Fundação Mineira de Educação e Cultura (Fumec), 78% das pessoas que se declaram profissionais do sexo no Brasil são mulheres. Apenas 1,5 milhão afirmam estar nesse mercado, mas sabe-se que esse número é muito maior. As mulheres, de qualquer jeito, são maioria. Para ajudar a potencializar os dados, o país está passando por uma das maiores crises econômicas de sua história. Jennifer atribui a esse contexto o crescimento de 34% de seu negócio, entre janeiro e agosto. De fato, em um momento assim, nada como ser adotada por um sugar daddy. De acordo com a empresária, a renda dos inscritos no site gira em torno dos R$ 42 mil, enquanto o patrimônio pessoal está na casa dos R$ 5,8 milhões.

“Mais do que rico, o sugar daddy precisar ser generoso. Tem a ver com atitude”, afirma o norte-mericano Brandon Wade, criador do site Seeking Arrangement, um dos primeiros do gênero no mundo e o segundo do ranking feito pelo blog freesugardaddysites.net especialmente por ser o de maior visibilidade na mídia. No ar há dez anos, o site agrega candidatos de 139 países e fatura US$ 10 milhões por ano.  “Claro que há clientes bilionários, mas também homens que ganham US$ 70 mil por ano e não têm milhares de dólares para gastar. Se esse sujeito vestir o personagem, é o que basta.” Assim como Jennifer, que se identifica com a sugar baby, Wade se considera um sugar daddy. “Posso dizer que criei o site em meu próprio benefício”, costuma afirmar. Embora o site brasileiro seja totalmente independente do norte-americano, ambos compartilham a mesma ideologia em relação ao  “tabu do dinheiro”. “Quanto mais claras as trocas financeiras, mais explícitos ficam os relacionamentos”, dizem.

MERCADO SUGAR
Para que nada fuja do quadrado, Wade foca seu discurso na personagem da estudante descapitalizada. “Existe uma relação direta entre as sugar baby e o aumento das mensalidades nas universidades”, acredita. A ideia é reforçada por sites como o Seeking Arrangement, que divulga um ranking das faculdades mais frequentadas por sugar babies (com informações dadas pelas próprias meninas).  Na Grã-Bretanha, onde o “mercado sugar” está em franca ascensão, o primeiro lugar é da University of Portsmouth; segue-se a de Kent e a de South Wales. Em quarto vem a de Cambridge. O Meu Patrocínio também divulga uma pesquisa do gênero. O resultado coloca a Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) em primeiro lugar; em segundo, a Pontifícia Universidade Católica (PUC), seguida pela Universidade Paulista (Unip) e a Anhembi Morumbi, todas em São Paulo.  Fazer crer que as moças são universitárias desamparadas pode favorecer o empreendimento em pelo menos três frentes: 1) remove do acordo a conotação de prostituição; 2) aguça o fetiche em relação à “colegial”; 3) elitiza, pelo menos na aparência, as cadastradas.

Por sua vez, o sugar daddy costuma ser descrito com glamour nos sites. No Seeking Arrangement aparece assim: “Sucessful men who know what they want. They’re driven, and enjoy attractive company by her side. Money isn’t an issue, thus they’re generous when it comes to supporting a sugar baby” (“Homens de sucesso que sabem o que querem. Curtem  aproveitar a companhia de garotas atraentes. Dinheiro não é problema quando se trata de amparar uma sugar baby”, em tradução livre). Menos sutil, ou mais adaptado ao nosso clima, o texto do Meu Patrocínio vai direto ao ponto: “Homens de sucesso, experientes e generosos estão acostumados a encontrar muita gente interesseira por aí. As sugar babies são garotas que querem conhecer seu mundo e compartilhar um relacionamento duradouro, sincero, transparente e cheio de afinidade”. Para que não fique nenhuma dúvida,  vem o complemento: “Tudo é acordado antes, e ninguém vive expectativas frustrantes, apenas reais”. Ah, bom.

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