Deu no “Los Angeles Times”: o cérebro dos homens gays apresenta similaridades com o das mulheres heterossexuais. Pesquisas sugerem que pode haver ligação biológica entre a orientação sexual e o conjunto de funções cerebrais. Estudos da National Academy of Sciences dos EUA pretendem oferecer evidências sobre o papel da biologia na orientação sexual, mostrando que o cérebro dos gays se assemelha ao das mulheres heterossexuais. Usando equipamentos para escanear o cérebro, pesquisadores descobriram similaridades entre os circuitos cerebrais que lidam com a linguagem, explicando, talvez, porque os homossexuais masculinos tendem a ter uma performance superior à dos heterossexuais do mesmo sexo, quando se trata de habilidade verbal – assim como acontece com as mulheres heterossexuais. A área do cérebro que processa as emoções também é bem parecida entre gays masculinos e mulheres heterossexuais, e ambos apresentam índices mais altos de distúrbios de depressão do que os homens heterossexuais. Estudos anteriores já haviam encontrado evidências de que a orientação sexual é influenciada por fatores biológicos. Há uma década o neurobiologista Simon LeVay divulgou estudos que mostravam que a área-chave do hipotálamo – a estrutura do cérebro ligada ao comportamento sexual – era menor em homossexuais do que nos heterossexuais masculinos.
A Dra. Ivanka Savic, do Instituto Karolinska, em Estocolmo, também já havia mostrado, através de estudos com ressonância magnética nos cérebros de 50 heterossexuais e 40 homossexuais de ambos os sexos, que nos homens a parte direita do cérebro é mais desenvolvida, enquanto as mulheres apresentam um equilíbrio entre os dois hemisférios. O estudo mostrou também que os gays possuem cérebros simétricos como os das mulheres heterossexuais, enquanto as lésbicas possuem cérebros levemente assimétricos como os dos homens heterossexuais. As diferenças são relevantes. Por exemplo: o hemisfério direito do cérebro nos homens heterossexuais tem 624 centímetros cúbicos – 12 centímetros a mais do que o lado esquerdo. Já nos homens homossexuais o hemisfério direito tem 608 centímetros cúbicos – 1 centímetro cúbico a menos do que o hemisfério esquerdo. Nas mulheres heterossexuais não há diferença de volume entre os hemisférios direito e esquerdo. Já nas mulheres homossexuais, o hemisfério direito é 5 centímetros cúbicos maior do que o esquerdo.
Em outra pesquisa a Dra. Savic usou um exame chamado positron emission topography para medir a fluência do sangue na amídala – lóbulo arredondado na superfície anterior do cerebelo, relacionado ao processamento das emoções -, e constatou que o circuito da amídala dos homens gays se parece mais com o das mulheres heterossexuais do que com o dos homens heterossexuais, e as amídalas das lésbicas se parece mais com as dos homens heterossexuais. A Dra. Savic imagina que as diferenças cerebrais se originam no útero ou na infância, provavelmente como resultado de fatores hormonais ou genéticos. E disse que não pode explicar por que as diferenças são mais pronunciadas em homossexuais do sexo masculino do que em homossexuais do sexo feminino. Logo, se ainda não se sabe se as diferenças aparecem no útero ou na infância, cabe a esta coluna perguntar se não seriam mudanças na subjetividade que causam mudanças no funcionamento do cérebro. Já que a ciência trabalha com provas, o ideal seria fazer todos esses exames em bebês, e acompanhar seu desenvolvimento sexual até a idade adulta, para ter certeza se a biologia é fator determinante nas preferências sexuais. Por enquanto, ao que parece, estes estudos não provam muita coisa, e servem, no máximo para discussões acaloradas em botequins. Se tanto.
Por Luciana Pessanha