Eduardo Sterblitch vive o melhor momento da carreira. Sucesso na Globo, se prepara para estrear nesta terça-feira a nova temporada de “Amor & Sexo” e uma série com Tatá Werneck na emissora. Na vida pessoal, o ator também tem andado ocupado tentando passar a limpo questões da infância e lidando com sua depressão. Glamurama foi entendendo aos poucos a situação ao entrevista-lo sobre a atração comandada por Fernanda Lima, que tem o humorista na bancada como um dos “jurados” fixos. Vem ler! (por Michelle Licory)
“Estou me reaproximando da minha família, de questões da minha infância”
Como “Amor & Sexo” modificou Eduardo Sterblitch? “Me tornei um cidadão muito melhor. E quem é fã do programa não tenho dúvida de que também se tornou. Abre a cabeça da galera. Eleva as questões, aprofunda… Observando um monte de tabu, uma sociedade de mente arcaica ainda, poder falar de coisas muito novas e propor uma sociedade transmoderna… O programa ajuda a ‘workshopar’, a ‘teletubbiar’ a cabeça das pessoas. Fiquei mais responsável com a vida e passei a ter mais empatia pelos outros. Não só tanto por mim. Não que eu vá deixar de pensar em mim, mas hoje penso mais no outro. Mais aberto que já sou não dava pra ficar porque sempre fui muito aberto. Nunca tive pudor. Tive uma faculdade disso que foi o ‘Pânico’. E fiz 31 anos, há um ano virei adulto realmente. Preciso ser responsável de verdade, estou me reaproximando da minha família, de questões da minha infância. E a sociedade também está repensando um monte de coisa”.
“Jesus mostrou que a dor é comum e que a morte não é significativa”
Perguntamos, então, que questões da infância são essas. “Estou colocando todas essas questões para minha terapeuta toda semana, para tentar entender o que é a minha vida, o que eu represento para as pessoas, qual é minha importância. E calculando isso com calma, pra não ficar ansioso. Sou muito ansioso. Para eu entrar em uma crise de pânico e de depressão é fácil. Sempre fui muito deprimido. E sempre vou ser. Lido muito bem com a depressão. Não fico triste por ser deprimido. Não tenho vergonha de ser triste. Todo mundo se coloca muito feliz. Pra mim, as pessoas todas são muito felizes, isso me deixa muito triste. Todo mundo muito feliz? Acho muito difícil ser feliz. E acho que, quando você está muito feliz, não pensa muito. Quando você está triste, calcula um pouco mais. Gosto da minha tristeza não por drama, por me entregar à dor, mas acho que a dor pode ser algo bom. Jesus mostrou que a dor é comum e que a morte não é significativa. Mostrou que a carne não é nada, é humano só. Eu tenho isso em mim”.
“Elas percebem que tem algo estranho aqui”
E mais: “Sempre fui muito melancólico, e isso está muito ligado ao meu tipo de humor. As pessoas gostam muito do meu humor também porque sou um melancólico bobo. Elas percebem que tem algo estranho aqui. Tenho um olharzinho triste, uma coisa meio ‘renatoaragônica’. Mas isso é charme também”.
“‘Eduardo Sterblicht já quis se matar’. Pode botar aí”
Sempre fez terapia? “Faço a análise há muito tempo, mas uma boa análise há um ano. Foi quando entendi que eu tinha que falar mesmo. Antes eu jogava muito comigo, mentia pra mim mesmo. Já tive crises sérias. Já deixei de trabalhar por depressão, claro. ‘Eduardo Sterblitch já quis se matar’. Pode botar aí [risos]. A depressão é um estágio de vida perigoso. Tento lidar com felicidade, tristeza, medo, angústia todos os dias. Reverto em criatividade. Minha analista diz para eu fazer isso, jogar pra outro lugar, para que eu não fique refém disso”.
“… uma educação sexual baseada em filme pornô”
Quando a gente fala de “entre quatro paredes”, o “Amor & Sexo” também trouxe novidades para Edu? “Na intimidade? No programa aprendi que grande parte dos homens teve uma educação sexual baseada em filme pornô. A gente aprendeu assim. E isso não representa o sexo real. Aprendemos a fazer um sexo pra gente, usando a mulher como um objeto do nosso gozo, do nosso prazer final. Tem muito poucos filmes pornográficos dirigidos por mulheres, sempre foi um mercado masculino. E agora estamos pensando sobre essas questões”.
“A nossa bolha”
“A gente sempre levou o sexo como algo sujo, proibido. O programa mostra que é uma coisa normal e que a gente tem que lidar como uma coisa normal. Isso liberta nossa criatividade, nossa libido, nossa relação. O casal que está assistindo ao programa, tentando junto e não tem mais ideia do que fazer… A gente provoca e inspira esse casal. Geralmente, quando a gente conversa sobre sexo ou amor, é com os nossos amigos, com a nossa bolha. No programa, não. Temos todo tipo de gente, de gênero… Percebi lá que um homem branco hetero não tem muito o que falar nesse momento. Tem é que ouvir, prestar atenção, aprender. E é muito difícil admitir isso”.
“Fiz ‘pirucoptero’ na cara do Juliano Cazarré”
Prepare-se, telespectador: “Nessa temporada, fiquei pelado de um jeito bem pelado mesmo. Ok, já tinha ficado pelado no ‘Pânico’, mas nunca tinha ficado pelado sem blur [efeito que embaça a imagem]. E era um programa machista para um público de homens. Mas eu sempre tive problema com a nudez, até com a minha mulher mesmo. Demorou muito para eu ficar pelado com muita luz, sabe? Sempre preferi o escuro. Eu tinha vergonha. Mesmo assim, acho que nunca ninguém ficou tão pelado quanto eu dentro da Globo. Fiquei entregue à minha nudez com muitas câmeras, plateia, e fiz ‘pirucoptero’ na cara do Juliano Cazarré. É real, foi ótimo, inclusive. Nós dois adoramos. Foi meu erê que fez aquilo, não eu. Mas foi libertador. A gente erotiza a nudez, pornografiza. O corpo é só um corpo. A mente que erotiza. Não sou bonito pelado. É apenas revelador”.
“Campo minado para piada”
Por falar no ‘Pânico’… “Sim, me reeduquei. Mas não é uma questão de comparar os dois programas. É uma questão de evolução, não só minha. De quem está preocupado em ter bom senso e ser uma pessoa boa… No ‘Amor & Sexo’ é um campo minado para se fazer piada porque são assuntos muito sérios. Minha preocupação, como artista, é agregar público. Antes meu público era uma molecada muito homem. Agora muitas mulheres estão gostando de mim também, sabendo meu nome. O ‘Pânico’ é aquela galera do fundão que sangra a piada e no ‘Amor & Sexo’ é uma galera que chora, que se emociona com a piada. Ri porque é gracioso, não engraçado”.
“Meu nome também está sujo”
Glamurama comentou que é visível o cuidado do ator ao escolher as palavras para não “cuspir no prato que comeu”. “Sim, tenho um cuidado de não cuspir no prato que comi. Isso porque meu nome também está sujo. Quem participou do ‘Pânico’ tem nome sujo. Você tem que entender isso… Mas eu não sou o ‘Pânico’, não o represento exatamente. Eu participei do ‘Pânico’. Entrei quando já era um programa de sucesso. Já existiam as ‘sandálias da humildade’, o “vou ou não vou’, a ‘dança do siri’. São todos meus amigos. Saí porque achei que estava fazendo mais do mesmo e queria me provocar em outros lugares. Era mais confortável ter ficado, me ofereceram mais [dinheiro] pra ficar. E eu saí pra ficar desempregado. E acharam que eu tinha ido pra Globo pra ganhar mais. Eu sempre quis fazer sentido, nunca quis fazer sucesso. Até depois que fiz sucesso, entendi o que era e decidi que era o momento de passar a fazer o que eu gosto mesmo”.
Voltando ao tema “como fazer piada no ‘Amor & Sexo'”… “Tenho muitas piadas escatológicas e pesadas na minha cabeça, e antes pergunto se posso colocar, se é machista ou racista. Às vezes fica até com a mensagem contrária, oprimindo o opressor, o que também não pode. Você tem que igualar todo mundo. Aprendo muito com eles. Não é pieguice, é real”.
“Shippados”
No mais… “Tive que sair do ‘Ta No Ar’ [outro programa da Globo] porque vou fazer uma série com a Tatá Werneck, ‘Shippados’, da Fernanda Young e do Alexandre Machado. Saiu que seria um remake de Os Normais, mas não é. Só não posso contar muito porque ainda não começamos a gravar”.
“Meu sonho é ter um filho drag queen”
No fim do papo, perguntamos sobre o desejo de ser pai… “Tenho, sim. Mas desde que casei perguntam tanto que não falo mais. Meu sonho é ter um filho drag queen. Falei de verdade e as pessoas acham que é mentira, como se fosse uma piada. Deram risada disso…”