Semana de moda de SP abre temporada com desfile de coleção feita por detentos

Look criado pelo Projeto Ponto Firme, que se apresenta na semana de moda de São Paulo || Créditos: Divulgação

No calendário de desfiles da próxima edição da semana de moda de São Paulo, que acontece entre os dias 21 e 26 de abril, destaque para o Projeto Ponto Firme, criado pelo designer e artesão Gustavo Silvestre. A coleção é resultado de um trabalho feito com detentos na penitenciária Desembargador Adriano Marrey, em Guarulhos, onde Gustavo dá aulas de crochê.

“Quando começamos o projeto o foco do trabalho era ensinar a técnica do crochê e oferecer uma alternativa para eles se profissionalizarem. Com o passar do tempo percebi que era possível desenvolver uma coleção de roupas e começamos a trabalhar com força para aumentar o tempo de oficina. O desfile nos permitirá mostrar outros caminhos possíveis de reintegrá-los na sociedade, valorizando o trabalho de forma criativa”, afirma o designer.

Ensiná-los não foi tarefa fácil: “O maior desafio que enfrentei em dar aula aos detentos e dentro da penitenciária sem dúvida foi o preconceito. Homens fazendo crochê e dentro de uma cadeia que é um ambiente completamente machista e masculino foi um grande desafio para mim”, contou ao Glamurama. Mas todo grande esforço tem uma recompensa.

“Eu acho importante qualificar os alunos. Eles vão enfrentar um preconceito enorme quando saírem da cadeia e o crochê é uma técnica que você consegue gerar renda com pouquíssimos recursos. Uma única agulha e um fio e pronto. Isso pode ajudar na reinserção deles no mercado de trabalho e na sociedade”, diz Gustavo sobre o impacto social do projeto.

A coleção que será apresentada no Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Parque do Ibirapuera, é resultado do trabalho de nove meses desenvolvido por uma turma de 20 alunos, coordenados por Gustavo, com peças inspiradas no dia a dia da penitenciária e no sonho de liberdade.

O Projeto Ponto Firme foi criado há dois anos e já formou mais de 100 alunos em Guarulhos levando formação técnica artesã, além de arte, cultura e educação para os detentos. As aulas contribuem para a ressocialização, além de ajudar no desenvolvimento da concentração por meio de uma terapia manual. Os detentos participantes ganham certificação e também remissão de pena.

Após o desfile, as peças da coleção serão expostas no Museu da Resistência de São Paulo, instituição conectada à Pinacoteca do Estado de São Paulo. Abaixo, exemplos de peças já criadas com o projeto.

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