Em um país onde leis rígidas dificultam que as mulheres alcancem seus objetivos profissionais e pessoais e a violência feminina é justificada muitas vezes pela religião, Sara Barackzay, de 27 anos, tem se destacado na luta para mudar o destino das afegãs por meio da arte. Considerada a primeira ilustradora do Afeganistão, a jovem tem usado os desenhos para retratar sua vida, do seu povo e empoderar outras meninas. E ela não pensa pequeno! Entre os seus objetivos está trabalhar em parceria com a Pixar – um dos maiores estúdio de animação do mundo – e para realizar esse sonho, ela decidiu voltar à sua terra natal na esperança de abrir uma escola especializada em artes de animação no Afeganistão.
Sara começou a desenhar aos quatro anos e cresceu ao redor de Herat, cidade antiga onde está situada a histórica Mesquita Azul, no noroeste do país. Em 2001, depois da invasão liderada pelos Estados Unidos, a família precisou mudar. “A guerra estava presente quando era criança”, disse a ilustradora ao “The Guardian”, ao revelar sua surdez. “Meu pai me ajudou a aprender a falar sem conseguir ouvir, mas era difícil”. Tudo mudou quando, aos oito anos, ela ganhou o seu primeiro aparelho auditivo e começou a estudar com as irmãs.
A ilustradora terminou a escola aos 15 anos, depois fez o vestibular e se candidatou a uma bolsa para estudar artes de animação na Turquia. Enquanto tentava convencer os pais a deixarem ela estudar no outro país, ela recebeu uma oferta de financiamento integral da faculdade. O sonho deu certo e agora ela ensina suas habilidades para jovens afegãs.
Mas isso não significa, no entanto, que a tarefa é fácil. “Até recebo ameaças pelo que faço, mas voltei ao Afeganistão para dar aulas de animação a outras meninas e para um dia abrir uma universidade aqui”, explica. No momento, Sara trabalha na própria série de desenhos animados, além de ilustrar livros infantis, desenhar roupas, ensinar arte e muito mais. Os assuntos mais abordados em suas artes incluem paz, guerra, direitos das mulheres e animais de estimação que fizeram parte da sua infância, entre os gatos, coelhos, galinhas e até sapos da família.
Ao “The Guardian”, Sara revelou: “As mulheres afegãs se esforçam tanto – talvez até mais do que outras – para alcançar seus objetivos. É uma das mensagens que quero comunicar através da minha arte. Sempre tive grandes sonhos, mas lutar por eles nunca foi fácil. As mulheres afegãs continuam enfrentando muitas limitações, e ganhar minha própria liberdade é possivelmente o maior desafio que já enfrentei – e é uma luta que continua. Ainda estou encontrando meu caminho”, revelou Sara. “O outro objetivo é mudar a percepção sobre o Afeganistão: meu país é cheio de gente gentil, comida incrível e uma cultura antiga, e é isso que quero mostrar ao mundo”, concluiu.
A primeira história de Sara é o livro ilustrado Ghazal, que foi concluído neste ano e será publicado em breve, mas a prioridade, no entanto, segue sendo a incansável busca pela paz.