Morreu nesta noite de domingo a cronista, escritora e alma iluminada Nina Horta. Depois de um longo tratamento contra um câncer, Nina ainda estava internada no hospital do Câncer, tentando se livrar de uma infecção que teimava em não a largar. Nina era alegre e muito inteligente. Dona de um humor raro e fino. Deixa três filhos (Octavio, Sylvio e Dulce), três netos (Laura, Pedro e Úrsula), um bisneto (Arthur), amigos, admiradores e uma legião de leitores que a considera a melhor colunista deste país. Nina era viúva de Sylvio Horta. Amava a cozinha ( tinha escrito vários livros sobre o tema), amava Paraty, onde tinha um sítio há mais de 30 anos. E amava os amigos que tanto a amavam. (Por Joyce Pascowitch)
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Da redação: A mineira Nina Horta, pós-graduada pela Faculdade de Educação pela USP mas que nunca perdeu o gosto pela culinária-pra-valer das mesas à beira do fogão de lenha do interior de Minas, se tornou uma das mais importantes cronistas do Brasil rapidamente. Desde que estreou sua coluna semanal na “Folha de S. Paulo” em 1987, fincou os dois pés na facção dos mestre-cucas que acreditam que cozinha é afeto, é cultura, é história, é a essência da vida civilizada. Para além da gastronomia – ainda que sempre a usasse de pano de fundo – usava o espaço para pensar os acontecimentos recentes e o cotidiano junto com o leitor, sempre com eu olhar inusitado e algo gauche. Seu livro “Não É Sopa”, de 1995, uma coletânea dos escritos na Folha, tornou-se instantaneamente um must read- para na sequência virar, sem esforço, clássico da cozinha cheia de sentido e sem nenhuma afetação. Adorada por todos, era uma espécie de embaixadora dos intelectuais daqui e de acolá, anfitriã de mão cheia, e recebeu, recebeu, recebeu; apresentou, apresentou, apresentou. A famosa temporada de Gore Vidal, o afiado ensaísta político norte-americano, por exemplo, teve parada obrigatória na casa da Nina, a mais amável hospitalidade dessa parte do globo. Com seu buffet Ginger promovia nas festas a concretude dos afetos que da cozinha e do bem-cuidar que defendia nas páginas dos jornais. Contratá-la era certeza de boa mesa e festa farta. Em 2015, o prêmio Jabuti fez jus a Nina Horta e premiou na categoria Gastronomia o seu livro “O frango ensopado da minha mãe”.