Por Thayana Nunes para revista Joyce Pascowitch
Fotos Adriano Damas
Uma casa desenhada pelo arquiteto Sergio Bernardes nos anos 1960, no bairro paulistano de Higienópolis, serve como espaço de criação para a artista plástica Jacqueline Aronis, 59 anos. É nesse ambiente todo especial que a gravurista brasileira se conecta e transforma suas reflexões sobre o mundo em arte. “Gosto muito de gente, mas posso ficar dias sozinha no meu ateliê. É onde me sinto bem”, diz, cercada por seu universo mágico de livros, pincéis e tintas. A arte que cria, tipo conceitual, acaba refletindo até na sua maneira de se vestir. “Sou minimalista. Meu guarda-roupa quase não tem cor ou estampa. Me incomodaria trabalhar com muita informação”, explica. Mas, apesar do jeitão introspectivo, Jacqueline segue à toda com diversos projetos, incluindo a segunda edição do estande Livraria de Artistas, que comanda dentro do evento SP Estampa ao lado da amiga e também artista Constança Lucas, e uma residência artsy em Veneza. “Arte nos faz muito bem.”
Lado a lado
Não é à toa que A Festa É Minha e Eu Choro Se Eu Quiser, livro de estreia de Clara Drummond, escritora e ex-repórter da J.P., tornou-se queridinho no circuito cult. Com apenas 27 anos, Clara é supercabeça, mas exerce tal faceta de um jeito todo autêntico. Ao mesmo tempo em que circula pela boêmia carioca e adora uma (boa) balada com os amigos, passa noites em claro lendo e escrevendo, hábito que adotou desde a infância. Fala com propriedade sobre a história do filósofo argelino Albert Camus, um dos expoentes do movimento existencialista ao lado de Jean-Paul Sartre e é fascinada por temas como nazismo. “Fico perturbada com a questão do mal. Não acredito muito na versão fofa da literatura”, afirma. De salto e top cropped, a carioca hoje passa longe da garota introspectiva da adolescência. “Eu sofria muito. Mas hoje nem consigo me reconhecer. Agora até encaro uma barriga de fora. Acho que sou uma existencialista periguete”, conclui em tom divertido que é só dela.
Desassossego
Renata Sarti pode até ser o lado business da Lilly Sarti, marca supercool que possui ao lado da irmã, mas, longe do trabalho, gosta mesmo é de levar a vida de um jeito mais poético. Adora ler Fernando Pessoa – sua obra preferida é o clássico Livro do Desassossego –, escutar clássicos do jazz ou escrever, um de seus hobbies preferidos. “São pensamentos, poesias, tudo o que vem à minha mente. Escrevo para mim mesma”, diz. A personalidade marcante também aparece no jeito de Renata se vestir. Depois de uma fase colorida, a moça de 29 anos declara que hoje só pensa em looks mais sérios e escuros. “Só uso saia mídi ou lápis e não saio de casa sem meia-calça. Acho perna de fora vulgar.” Outra regra? Na praia, onde o sol passa longe de seu alcance, maiô é fundamental. E, para coroar este ensaio, Renata deixou a timidez de lado e recitou parte de seu poema favorito, Não Digas Nada!, também de Pessoa. “Há tanta suavidade em nada se dizer e tudo se entender.”
Sem mimimi
Vera Egito, 32 anos, não tem receio de afirmar que, apesar de dona do próprio nariz – e de bons trabalhos no cinema e na televisão –, vive diante dos dilemas comuns ao universo feminino. A cineasta é dessas pessoas que adoram filosofar sobre Friedrich Nietzsche com os amigos, mas que fazem questão de cuidar bem da casa e da família. “Estou lendo um romance (Beauvoir Apaixonada) que mostra o lado mais mulherzinha de Simone de Beauvoir. Me identifico com a filósofa nesse aspecto, mas também porque ela era muito dura”, conta. E, apesar de realizada na profissão, Vera faz questão de dizer que ainda não encontrou sua essência, tarefa tida como impossível. “A existência é muito perturbadora”, filosofa. O jeitão hi-lo de encarar a vida também aparece no estilo da moça, que prefere peças menos reveladoras. Com o look escolhido para esta foto, da estilista Emannuelle Junqueira, ela explica: “Ela faz uma coisa feminina, mas sem mimimi e é esse meio termo que eu adoro.”