Revista J.P: os luxos, mulheres e fama de quatro adoráveis playboys

Da esq. pra dir. : Baby Pignatari, Porfírio Rubirosa, Chiquinho Scarpa e Jorginho Guinle || Créditos: Arquivo/ Agência O Globo; Folha Imagem; Divulgação

Recordar é viver! Edições passadas das revistas J.P, PODER, Modo de Vida e MODA vão ressurgir com a seção “Baú Glamurama”. A matéria da vez é “Adoráveis Playboys”, da revista J.P, de Renato Fernandes, nosso colaborador. Abaixo, mergulhe na vida fora de série de quatro playboys poderosos do high society brasileiro. 

Bem-nascidos, elegantes e conquistadores, eles tiveram algumas das mulheres mais desejadas do planeta. Sempre foram movidos a adrenalina e aventuras, mas também sofreram muitas desventuras. Aqui, a vida de quatro playboys que viveram intensamente

I love you, baby!

Sorriso de conquistador, dono de um corpaço bronzeado, 1.91 metro de altura, mãos enormes e pés idem – calçava 45. O latin lover Francisco Matarazzo Pignatari foi um dos maiores playboys que o Brasil conheceu. Tinha até codinome para isso: Baby – apelido que ganhou de uma babá inglesa. E foi também um grande empresário. Dividia bem seu tempo: quando trabalhava, era capaz de varar noites com seus funcionários em reuniões de suas empresas, nas quais costumava chegar pontualmente às 8h. Mas, quando se dava de presente férias de bon vivant, também virava madrugadas ao lado das mais belas mulheres do mundo.

Morou décadas em São Paulo, no Morumbi, em uma casa de 100 mil m2 de jardins, circundada por eucaliptos. A residência era ponto de referência. “Você passa pelo portão das tochas e segue.’’ Era assim que se referiam ao bairro, ainda pouco explorado. O portão das tochas? O de Baby, claro. Hoje sua propriedade virou um condomínio de residências de luxo, bem próxima ao Palácio do Governo.

Baby Pignatari nasceu em Nápoles, Itália, em 11 de fevereiro de 1917, filho do médico e industrial Giulio Pignatari e de Lydia, filha do conde Francesco Matarazzo. Baby veio para São Paulo garoto, estudou no Colégio Dante Alighieri e aqui se naturalizou brasileiro. Seu pai era dono da Laminação Nacional de Metais, que teve na fundação o apoio do sogro Matarazzo. A empresa começou como uma simples metalúrgica, com 400 funcionários, mas Giulio a fez crescer rapidamente. Aos 18 anos, Baby já trabalhava lá, chegando a varrer o chão e colocar óleo nas máquinas.

Quando Giulio faleceu, Baby tinha 21 anos e, junto aos homens de confiança de seu pai, começou a comandar a holding Pignatari, que cresceu vertiginosamente. Consta que, por ser muito jovem, um dos membros da família Matarazzo o achava incapacitado para tocar a indústria. Ofendido, Baby tirou o Matarazzo do nome.

Sob seu comando, em torno da empresa – a primeira no ramo da laminação de metais não ferrosos no país – foram surgindo outras, como as companhias brasileiras de aço, de zinco e de cobre. Passou a chefiar mais de 11 mil funcionários. Só trabalhava de manga de camisa. Aos 23 anos, com o aval de Getúlio Vargas, tornou-se presidente da FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

Baby sempre foi de aprontar. Aos 17 anos já dava rasantes pelas praias de Santos. Começava aí sua fama de playboy e boêmio. Aos 22 anos, se casou com Marina Parodi-Delfino, o que deixou muitas normalistas do Colégio Sion roendo as unhas. Marina era linda, educada, rica e carismática. E foi ela quem deu a Baby seu maior bem: Giulio Cesare, o único filho (dizem que ele teve sérios problemas com alcoolismo e drogas, com constantes internações em clinica para dependentes). O casamento durou pouco mais de sete anos e logo Baby estava solto pelas melhores praças do mundo. Conheceu uma das mulheres mais bonitas da sociedade paulistana: Nelita Alves de Lima. Ficaram casados também por sete anos.

Adorava aviões, chegando a fabricar o famoso Paulistinha, monomotor que ainda existe em alguns aeroclubes do Brasil. Para as Forças Armadas também produziu metralhadoras. Quando terminou a Segunda Guerra Mundial, era um homem rico.    Por volta de 1950, todo o seu império está debaixo da holding Pignatari S.A. Administração, Indústria e Comércio. Mas sabia curtir e viver a vida: tinha suíte permanente no Copacabana Palace, iate ancorado no porto de Gênova e um avião Electra todo equipado: bar, sala de reunião e até mesmo cama.

Mas foi o terceiro casamento, com a italiana Ira de Furstenberg, que o levou para a imprensa mundial – e também para a cadeia. Os dois se conheceram, no fim dos anos 50, num rinque de patinação em Cortina d’Ampezzo, na região de Vêneto. Ira já havia se casado aos 15 anos com um príncipe espanhol, com quem teve dois filhos. E não estava nem um pouco satisfeita: aos 19 anos era bela, triste e sozinha. Enquanto o príncipe estava no México com os filhos, uma foto de Baby e Ira dançando juntos foi publicada. O casamento estava liquidado.

Quando já retornara para a Itália, Ira recebeu um telefonema: era Baby a pedindo em casamento. Estava apaixonada, mas não queria abrir mão dos filhos. Baby foi com Ira para o México e, chegando lá, acabou detido por 36 horas, sob a acusação de adultério e rapto das crianças.

O fato é que Baby ganhou a parada. Em 1961, em Reno, Nevada, nos Estados Unidos, casou com Ira e a trouxe para o Brasil. Viveram pouco tempo juntos, entre Paris e São Paulo. Em 1963, o divorcio aconteceu em Las Vegas, também nos Estados Unidos.  A relação foi tumultuada do começo ao fim.  E teve lances de grande emoção quando Ira contratou advogado no Brasil e exigiu pensão anual de US$1 milhão. O processo teve grande destaque na imprensa, mas poderia ter sido maior se soubessem que Ira era herdeira da Fiat (a mãe de Ira, Clara Agnelli Nasi, era prima de Gianni Agnelli).

Para desgosto de Baby, depois da separação Ira manteve laços com o Brasil. Ela participou da novela “Na idade do lobo”, dirigida por Walter Avancini e protagonizada por Carlos Alberto. Logo depois, participou do filme “O amante de minha mulher”, ao lado de Milton Moraes e David Cardoso. Na Itália, fez comédias como “Super Macho”, com Lando Buzzanca e, mais tarde, voltou ao Brasil para estrelar uma produção do rei da pornochanchada, David Cardoso, intitulada “Desejo Selvagem”. Durante as filmagens, Ira se picou para um desfile de Valentino na Europa e, quando voltou, 15 dias depois, o filme já havia sido concluído e foi salvo pela nudez de outra atriz, Sonia Saeg. Em 1975, Ira posou seminua para um ensaio publicado pela revista Status, mas acabou perdendo a capa para Alcione Mazzeo.

Separado de Ira, Baby caiu na noite e não declinou em dar roupas e pertences que a presenteara – como perfumes e vestidos Dior – para mulatas que faziam shows na boate Oásis, na Boca do Lixo, em São Paulo. Entre as musas de Baby, ainda consta a atriz Rossana Schiaffino, uma das mulheres mais belas do cinema italiano. A imprensa também chegou a divulgar uma romance com a atriz italiana Elsa Martinelli, apaixonada pelo Brasil, e que volta e meia está no Rio. Outra figura que está presente na lista de Baby é a atriz americana Jill St. John, a mais cortejada entre personagens da época, como Frank Sinatra, Henry Kissinger e Sean Connery.

Mas nenhum romance de Baby valeu tanta publicidade quanto o que teve com a atriz Linda Christian. Nascida no México, ela teve seu auge nas décadas de 40 e 50. Um dia, Baby vai a uma das mais badaladas boates romanas e encontra Linda dançando com um rapaz. Ele puxa a mão da atriz do ombro de seu partner e ela o esbofeteia. Baby estava apaixonado, ficaram noivos. Algum tempo se passou e Linda veio com Baby para o Rio, ficou hospedada no Copacabana Palace e uma surpresa acontece: uma passeata de amigos e contratados passa na frente do hotel para fazer uma espécie de comício, com banda de música e cartazes com os dizeres: “Linda go home”.  Linda Christian foi para o Galeão na situação mais humilhante que qualquer estrela poderia enfrentar. Ibrahim Sued a defendeu em sua coluna porque não gostava de Baby. Um dia, quando Ibrahim estava no lendário Clube dos Cafajestes, no Rio, foi recebido por Baby com um: “Quem te convidou? Eu não te convidei”. Quase rola de Ibrahim dar um murro em Baby. E o mestre do colunismo social é enfático em seu livro “30 anos de Reportagem: “Nunca consegui gostar de Baby Pignatari”.

Foi em meados dos anos 60, pós-Ira, que Baby conheceu a portuguesa Maria Regina Fernandes, sua quarta e última esposa, com quem mais viveu – cerca de dez anos. Passou a sair menos. Em 1974, recebe o diagnóstico: leucemia. “Não tenha medo, vamos fazer tudo o que queríamos nesses anos”, disse. O casal foi para a Índia, Tailândia, Taiti e China. Em testamento público, doou ao governo federal, na época o presidente Garrastazu Médici, os direitos de exploração de cobre e as empresas já estabelecidas em Camaquã e Caraíba.

Em 17 de outubro de 1976, Regina sai de casa. Segundo Baby revelou ao jornal O Globo, soube que ela estava tendo um romance com o cantor francês John Gabilou, que conheceu durante uma das viagens do casal ao Taiti. Consta que o cantor veio algumas vezes a São Paulo e Maria Regina fez freqüentes ligações para o Tahiti. Baby entrou com um processo contra Regina, requisitando as ações que lhe tinha doado. Teve que ouvir como defesa de Regina que “ela estava cansada da vida infeliz que levava, não suportando mais o jejum sexual que a impotência coeundi (incapacidade de manter relações sexuais) do companheiro a conduzia”. Ela não hesitou em pedir que ele fosse submetido a exame pericial. E ele teve que se sujeitar a este constrangimento.

Baby morreu no dia 27 de outubro de 1977, no Hospital Sírio-Libanês, aos 60 anos, de leucemia, numa crise agravada por cirrose hepática, insuficiência renal e broncopneumonia. Seu corpo foi cremado no Cemitério da Vila Alpina e suas cinzas espargidas no jardim de sua casa. Exatamente como queria.

 

Jorginho Guinle e a socialite Tania Caldas, uma de suas mulheres || Créditos: Folha Imagem

 

O gentleman 

Ionita Salles Pinto, uma das mulheres mais bonitas que o Rio de Janeiro teve e tem, estava em casa, quando toca a campainha: “É a última vez que te peço em casamento. Tenho 52 anos, você, 20. Me dê dois anos de sua vida. Para você, isso não é nada; para mim, a vida inteira”. O autor da proposta era Jorginho Guinle, 1,60 metro de pura elegância e humor. Usava um salto alto – muito alto – em seus sapatos e não tinha a menor vergonha disso. Ionita, que sempre foi uma das mais belas de Ipanema, vinha de um casamento e já tinha dois filhos, pensou, repensou e disse sim.

Viveram juntos sete anos, tiveram Georgiana, atriz, escritora e corretora de imóveis. Rodaram o mundo. A entrega do Oscar era sagrada. Ionita atravessava o tapete vermelho como uma verdadeira estrela. Os paparazzi não paravam de fotografar a mulher daquele senhor conhecido como Mr. Brasil – e que ainda hoje no Rio é uma lenda.

Jorge Eduardo Guinle sempre teve um Rolls-Royce na garagem. Nasceu em Petrópolis, no dia 5 de fevereiro de 1916, e dizem que ganhava selos ingleses de Santos Dumont. Na juventude, morou anos em Hollywood e alugava a casa que pertenceu a Jean Harlow. Teve romance e affairs com estrelas como Rita Hayworth, Hedy Lamar, Romy Schneider, Susan Hayward e Kim Novak. Ser playboy naquela época significava ter uma grande bagagem cultural – ele era louco por jazz e filosofia – charme e glamour. Foi atração da mídia nacional e internacional. O ex-playboy Rogério Fasanello disse para a Revista Status em 1977: “Antigamente, com esse rótulo de playboy, o sujeito tinha uma função mais ampla, que era de desbravar, acabar com as convenções”. E Jorginho era um típico exemplo, já que chegou a levar para a cama a atriz Marylin Monroe quando ela ainda assinava Norma Jean.

Logo depois de Ionita, Jorginho teve uma união com a socialite e starlet de pornochanchadas, Tânia Caldas. Foi no apartamento dele que ela posou seminua para a revista Status. Seus volumosos seios sempre foram deslumbrantes e fotografados em verso e prosa por Antonio Guerreiro, Marisa Alvarez Lima e Bubby Costa. Generoso, no fim da relação Jorginho deu um apartamento para ela. Os voluptuoso seios da americana Jayne Mansfield também deixaram Jorginho louco. O romance durou dois anos e quando se encontravam em Los Angeles, Jayne começava a tirar a roupa no carro mesmo.

Apesar de nunca ter tido um trabalho fixo, Jorginho foi um dos maiores responsáveis pela internacionalização do Rio de Janeiro, pois viajava constantemente e convidava várias personalidades para conhecerem a cidade – mais de 43 artistas vieram a seu convite para o Rio. Todos achavam que ele era dono do Copacabana Palace, mas o dono mesmo era seu tio Otávio. Jorginho possuía apenas algumas poucas ações, em torno de 5%. As aventuras de Jorginho pelo grand monde eram patrocinadas pelo pai, que morreu em 1969. Depois, o padrão de vida foi mantido com a venda de seu patrimônio.

Seu primeiro casamento foi com a americana Dolores Bosshard e com ela teve o seu primeiro filho, Jorginho Guinle Filho, artista plástico renomado que morreu de Aids em 1987. Dolores é viva e até hoje move ação judicial contra o ex- companheiro do filho, um fotógrafo, para ficar com o apartamento de Jorge Filho, no Leblon. Jorge, o pai, nunca teve preconceito com a homossexualidade do filho. Cocaína, também não. Não gostava, mas já declarou que usava – socialmente – em seus tempos de USA e nas festas dos anos 70, com fileiras passadas em bandejas de prata.

Seu último casamento foi com Maria Helena, com quem teve Gabriel, hoje agente penitenciário. Maria Helena também posou nua para a Playboy, vendada e de pernas abertas. Escândalo no hi-society carioca.

Na última década de vida, a fortuna de Jorginho acabou e ele passou por problemas financeiros sérios. Teve que se desfazer de todos seus bens, até mesmo parte de sua fabulosa coleção de discos de jazz e a antológica de trenzinhos. O Rolls Royce foi substituído por táxi. Mesmo tendo tido as maiores estrelas internacionais em sua cama, revelou a Playboy em janeiro de 1985: “Sempre tive muitas amigas entre as prostitutas. Puta não enche o saco e não quer que você troque sua mulher por ela. Você trepa, paga e acabou. Ela não fica te telefonando e não te exige mais nada”. Jorginho sempre foi sincero até mesmo ao falar das putas. E viva as putas!

Mesmo assim, quando completou 80 anos, o colunista Zózimo Barrozo do Amaral escreveu em O Globo, em 1996 : “O convívio com Jorge Guinle – 80 anos de boas maneiras – é mais do que um prazer, um permanente aprendizado. O cavalheirismo e a educação de Jorginho em qualquer circunstância são de como um cidadão deve se comportar em sociedade”. No início de março de 2004, Jorginho foi internado no Hospital Municipal de Ipanema com desnutrição, desidratação, arritmia cardíaca e o diagnóstico de um aneurisma na aorta abdominal. Não quis fazer a operação, pois o risco de sobreviver era pequeno – estava com 88 anos. Assinou um termo de responsabilidade e recebeu alta. Consta que ao deixar o hospital, beijou a mão de seu médico e disse: “Vou para o céu. Vou para o Copacabana Palace”. E para lá foi. Tomou seu milk-shake de baunilha com calda de caramelo e depois jantou estrogonofe de frango. Jorginho Guinle morreu às 4h30 do dia 5 de março, na suíte 153 do Copacabana Palace, deixando dois livros publicados: “Um Século de Boa Vida” e “Jazz Panorama”, escrito em 1953. E não é que certa vez, nos anos 70, durante um festival de Cannes, Jorginho estava com Fernanda Bruni e falou: “Fernanda você tem 22 anos de vida, eu tenho..”. Não colou.

O conde

Nos anos 70, o hi-society paulistano é invadido por dois playboys: Toninho Abdalla e Chiquinho Scarpa. Toninho chegou até mesmo enviar um cartão de natal com ele abraçado a uma mulher nua. Brincou e curtiu um tempo… E depois saiu de cena.

Chiquinho, não. Ficou e barbarizou. Em 1976, entrevistado por Ibrahim Sued para a TV Globo, o colunista insistiu para que ele falasse o nome de mulheres famosas com as quais tinha saído. Chiquinho citou mulheres inatingíveis, entre elas a princesa Caroline de Mônaco. Ibrahim retruca se ela não era virgem. Chiquinho respondeu: “Essa é a sua opinião”. Um processo de US$ 5 milhões foi pedido pela família real para reparar a reputação de Caroline.  Segundo disse Chiquinho em uma entrevista para a Playboy de 1985, o processo não deu em nada, porém  ele precisou fazer uma retratação pública.

Na verdade, Chiquinho sempre foi um gentleman – e extremamente generoso com os amigos. Gostava de aparecer, o que assumia com o maior prazer. Colecionava cada notinha e foto sua publicada nas colunas sociais. Quando Daniel Más traçou um perfil seu para a revista Status em abril de 1976, a ilustração da matéria era de Chiquinho passando sombra nos olhos. E avisou ao jornalista: “Não se esqueça de dizer que só saio e gosto de loira. Nunca curto mulher que possa dar em casamento. Gosto de mulher burra que não atrapalha. Gosto inclusive de mulher mais velha do que eu. Estou com 25 anos’, revelou.

Nos mesmos anos 70 foi divulgado um flerte seu com a travesti Valeria. Vi aquela mulherona entrando e Luis Carços Vinhas me disse que era famosa e tal. Estava de pileque e fiquei encantado”, disse Chiquinho a Daniel Más para a Revista Status em agosto de 1976. Deram um beijo no rosto quando apresentados. Nisso foram fotografados. Na semana seguinte, uma manchete em uma revista de TV: “Valeria e o Playboy Chiquinho Scarpa, o novo caso”. Chiquinho levou a maior bronca do pai. Mas como ela sempre foi muito simpática, nunca retrucou. “Valeria nem é loira e duas vezes maior do que eu”, declarou para colocar um ponto final sobre seu suposto affair com a travesti Valeria, que hoje divide seu tempo entre Paris e Salvador.

Chiquinho dizia que tinha um fichário com o nome e data das mulheres com quem saía, onde dava nota para a performance de cada. Apareceu até em novelas – Ninho da Serpente e Vereda Tropical – como o conde Chiquinho Scarpa. Durante anos, foi jurado do programa Flávio Cavalcanti. Teve uma educação esmerada – aos 2 anos foi para a Europa pela primeira vez e, aos 5, ia para a escola de motorista, no Rolls-Royce da família, com a governanta ao lado. Estudou no Colégio Santo Américo e se formou em direito.

Durante sete anos namorou Alice Bueno de Freitas. Mas ficou longe do altar até 1998, quando se casou com a atriz/modelo Carola de Oliveira. Com toda a pompa e ela vestida de princesa, a união aconteceu na Igreja Nossa Senhora do Brasil, num megaevento, transmitido por telões. Mega baixaria também foi a separação do casal. Depois de nove meses, Carola estava em programas de TV discutindo a sexualidade de Chiquinho: em um programa dizia que o encontrara com dois homens, em outro mudava para travestis. Chiquinho, mais uma vez, foi um gentleman e quieto ficou, instruído pelos seus advogados.

No ano passado, aos 57 anos, o playboy voltou a ser notícia. Com muitos quilos a mais, ele resolve fazer um cirurgia de estômago – chegou a pesar 118 quilos com 1,71 metro de altura. Consta que depois da cirurgia, ingeriu 5 litros de água e suco. Um dos pontos estourou, provocando uma peritonite – infecção na membrana que reveste órgãos internos. Chiquinho ficou em coma induzido durante 45 dias, à beira da morte, no Hospital Sírio-Libanês, com infecção generalizada e sinais de falência nos rins, fígado e pâncreas. Recebeu extrema unção duas vezes. Voltou para casa em junho de 2009. Está casado com Rose, uma loira.

No ano passado, sobre sua ex-esposa Carola houve muita especulação: sites noticiaram que ela havia sido convidada para estrelar um filme pornô, “A Socialite do Pornô”. Outros divulgaram que ela teria se tornado garota de programa em Natal, no Rio Grande do Norte. Segundo o colunista Jota Oliveira, do jornal Tribuna do Norte, “Carola atualmente é estudante de Direito de uma universidade particular de Natal, mora com familiares, não badala e nem é vista em eventos sociais. Leva uma vida completamente anônima”.

Bom de taco

Porfírio Rubirosa não nasceu rico, mas freqüentou as melhores festas do grand monde. Herdou fortunas das ex-mulheres, fazendo uma bela carreira de playboy. Dominicano, Rubi – chamado assim pelos íntimos – era apadrinhado por Rafael Trujillo, ditador da Republica Dominicana, considerado um dos mais sanguinários da história. Porfírio rodou o mundo e a cama de poderosas mulheres, como representante do governo de Trujillo.

O mais interessante desse playboy é que, por não ter nascido em berço esplêndido, muitas vezes passou por dificuldades financeiras. Mas seu avantajado “taco de beisebol”, como consta em sua biografia “A Vida Louca de Porfírio Rubirosa: O Último Playboy”, de Shawn Levy, nunca o deixou na mão. E as mulheres adoravam suas jogadas. Ganhava fortunas das ex. No livro, o autor ainda relata a participação de Rubi em missões obscuras – seu nome é citado em investigações de roubo de joias e assassinato. Rubi, além de adorar automobilismo, era um bom jogador de polo e veio ao Brasil mais de uma vez para isso.

A primeira mulher de Rubi foi Flor de Oro, filha de Rafael Trujillo. Depois veio a rainha do tabaco, Doris Duke, que, na década de 40, tinha uma renda de mais US$ 30 milhões mensais. Ele também se casou com Barbara Hutton, milionária nova-iorquina, dona da cadeia de lojas Woolworth. Com esta última, o casamento não durou mais que três meses, mas Rubi ficou com US$ 3,5 milhões no bolso e um avião B-25.

Além da fama de bem dotado e bom de cama, tinha também a de violento. A atriz Zsa Zsa Garbor explorou até uma briga que tiveram. Usou um tapa-olho e foi fotografada varias vezes, dizendo ter sido vítima de uma porrada de Rubi. Ele era o estilo tíguere, que no linguajar dominicano quer dizer um macho latino elevado a enésima potencia: destemido e corajoso.

Mas foi numa festa, depois de um torneio de pólo na década de 50, que ele conheceu uma das mulheres mais charmosas do planeta: a jovem atriz Odile Rodin, 28 anos mais jovem. A paixão foi imediata e eles se casaram. Rubi apresentou um novo mundo a ela, mudou seu guarda-roupa e lhe ensinou tudo. Ele sempre foi tido como um dos homens mais elegantes do mundo.

Em 1965, aos 56 anos, voltando sozinho para casa, Rubi bateu sua Ferrari numa árvore no Bois de Boulogne, em Paris. Saiu dos destroços ainda com vida e consta que a última palavra que teria balbuciado foi Odile. Mulher, aliás, que o Brasil recebeu de braços abertos, quando, viúva, chegou ao Rio e se tornou uma das maiores lendas do hi-society carioca. A maior herança de Rubi, a bela Odile, ficou no coração dos brasileiros.

E se você estiver jantando ou almoçando em Paris e alguém pedir para passar o Rubirosa, não se assuste. Trata-se do moedor de pimenta do reino de madeira maciça, grossa, que acabou levando o apelido para todo o sempre.

(Por Renato Fernandes, na revista J.P de março de 2010)

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