Em sua versão mais leve, as mulheres de sociedade são etéreas, ultrassensíveis e divertidas. Flanam pelo mundo como se estivessem sobrevoando a própria vida. Um clássico do gênero é a Daisy, que Mia Farrow construiu na versão de 1974 do filme “The Great Gatsby”
Por Paulo Sampaio para a revista Joyce Pascowitch de março
“Sai pra lá, Gucci!”, diz a colunável Alessandra “Lê” Campiglia, empurrando a microcadela yorkshire com a perna, enquanto abre a porta da ampla sala envidraçada de sua casa, no Morumbi, e passa para o varandão que dá para o jardim e a piscina guarnecida de pastilhas em tons de azul. Ao dirigir-se a Gucci, Lê suspende com as mãos sua cabeleira loira, da qual sente muito orgulho. Ela conta que, mesmo nos tempos em que sofria de anorexia nervosa, não perdeu um fio do basto potencial capilar. Diga-se, aliás, que também não perdeu o humor, nem a alegria. Quando decidiu se internar no Einstein para se tratar, “não estava nada deprimida”. “Imagina! Um dia antes de ir para o hospital, pesando 42 quilos (em 1,70 metro de altura), dei um jantar em casa para 50 pessoas.” Recuperada, Lê agora pesa 49 quilos, mas é a mesma socialight (ou socialeve) de sempre. A única lastimável diferença é que o ortopedista a proibiu de usar suas bolsas Birkin porque as considerou muito pesadas.
Diferentemente da socialite básica, a versão light apresenta uma forma de enxergar o mundo tão, digamos, otimista que frequentemente nos leva a crer que ela vive em outro planeta. Ou que sobrevoa a própria vida. “Põe aí: eu sou fe-liz”, soletra Tania Derani, na festa de casamento de Manuela Elias, dentro de um modelo Moschino. Depois de explicar que seu segredo é “ter Jesus no coração”, Tania afirma que possui uma sólida base religiosa e que isso a faz manter acesa “uma luz que sai de dentro para fora”. “Ontem fui a uma festa infantil, hoje almocei com a Donatella (Versace) e agora estou no casamento da Manu. Vou da feira ao baile, com a mesma alegria!” Na mesa ao lado está Ruthinha Malzoni, festejada pela beleza eterna, o charme e a elegância. Em seu discurso, Ruthinha leva o interlocutor a inferir que a verdadeira “socialight” é leve por natureza: “Eu acho que a gente nasce assim, sabia? Você vê: mesmo vivendo neste país, com todos os problemas políticos, eu penso: ‘Tenho um marido encantador, filhos maravilhosos, netos lindos, por que vou estragar as coisas com pensamentos pessimistas?’”.
O modelo clássico de “socialight” – guardando todas as proporções de tempo, espaço e atitude – é a Daisy que Mia Farrow compôs na segunda versão de “The Great Gatsby” (1974), baseado no romance de Scott Fitzgerald. Logo no início do filme, ela está deitada languidamente em um sofá claro, na varanda de casa, no melhor pedaço de Long Island, quando o marido, Tom, entra com um primo que Daisy não via havia muito tempo, Nick Carraway. Ela veste (dentro de casa) um longo de tule pastel, um chapéu de aba larga no mesmo tom e usa um colar comprido de pérolas.
Ao ver o primo, levanta-se lentamente e diz, com voz de menininha maravilhada: “Nick, é você mesmo? Querido, você sumiu. Estou paralisada de felicidade. Podemos nos cumprimentar com um beijo?”. Ela o beija no rosto e prossegue. “Tom disse que você está vindo de Chicago. Conte-me: eles lá sentem falta de mim?” E Nick, entre tímido e incrédulo: “Você não pode imaginar. Os motoristas pintam as rodas dos carros de preto em sinal de luto”. Ela ri, sem energia: “Hahaha”.
Ao ouvir a alusão a “The Great Gatsby” e a Daisy, Ruthinha Malzoni franze a testa. Adora o filme, mas ressalva: “É um personagem muito frívolo. Não acho que para ser alegre você precisa ser fútil”. Aí que está: classificar a socialight como “fútil”, ou “frívola”, é uma atitude reducionista e até injusta. Quando Joanna Trabulsi conta que, desde que teve sua segunda filha, Anna Helena, nascida há seis meses, está vivendo um momento “mãe”, seria raso, mesquinho e até (por que não?) fútil cobrar dela que tirasse o escarpim alto e dourado, removesse a maquiagem e aparecesse para receber J.P, na sala de sua casa, de penhoar. “O primeiro banho das minhas filhas foi com as minhas joias. De acordo com uma tradição libanesa, traz prosperidade.” Casada com o empresário carioca Filipe Bernardo Luigi Ridolfi, que é marquês e único filho homem, Joanna conta que na família dele havia uma certa expectativa para que ela tivesse um menino. Não aconteceu. Na falta de um filho, ela reconhece que mima o quanto pode o próprio marido, “porque ele merece”: “O Fi trabalha tanto”, diz, afetando uma expressão de sofrimento, enquanto joga o cabelo para trás. Agora que está dona de casa e, como ela diz, “cuidando das minhas meninas”, Joanna prepara pessoalmente o jantar do marido: “Ontem teve uma massinha ao pomodoro. Eu mesma faço o molho: cozinho o tomate, tiro a pele, a semente”. Diz que Ridolfi adora doce, por isso ela faz brigadeiro para ele comer “de madrugada”. E não deixa faltar coco na casa (“ele é viciado”). “O Fi agora cismou com açaí.”
Graças a Anna Catharina, 2 anos, e Anna Helena, Joanna mudou bastante o seu estilo de vida. “Sempre fomos de sair muito, ir a festas, mas quando você tem filho, família, quer se afastar dos holofotes.” Segundo ela, seus gastos hoje são basicamente com educação das meninas e viagens. Diz que já fez a “application” de Anna Helena em um colégio bilíngue, “para garantir a vaga dela daqui a dois anos”. Como se casou grávida de cinco meses, e não pôde aproveitar direito a festa, ela agora planeja promover outra, em Capri, na Itália, “e chamar todos os amigos”.
Apesar de o marido ser carioca, ela não gosta de ir à praia no Rio (“nem ele”). Quando está na cidade, é mais fácil encontrar o casal na piscina do Country ou do Fasano, do que no mar de Ipanema: “Eu não curto essa coisa de areia, calor, cadeirinha de alumínio. Eles lá saem da praia com o corpo salgado e vão direto almoçar”. Porém, Joanna escolheu as ilhas Maldivas e Dubai para promover uma “segunda lua de mel”: “É outra coisa nadar numa água transparente, cheia de corais, ver os peixinhos”. Viajar nas férias escolares, encarar aeroportos cheios e seguir o fluxo das multidões é algo que provoca arrepios na socialight. Ainda assim, às vezes Joanna embarca numa cilada: “Fomos para a Disney no Natal de 2013 com a Anna Catharina, imagina. Uma multidão de gente, filas intermináveis para entrar nos brinquedos. Até a babá, que nunca tinha ido para lá, odiou!”. Babálight.