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A busca por um orgasmo transcendental se torna uma verdadeira saga com direito a axé, massagens e vibrador com três níveis de intensidade. Tudo isso em um curso de massagem tântrica…

Por Danae Stephan

Uma descarga elétrica percorre todo o corpo. A pele fica eriçada, os mamilos se enrijecem e o abdome vibra ligeiramente. A respiração se intensifica, o corpo começa a ter espasmos e fica difícil abafar um gemido alto e gutural. Por fim, uma onda de prazer começa a se formar no seu chakra sexual e vai se expandindo como um tsunami por todo o corpo, que treme de forma incontrolável durante vários minutos. Isso, minha gente, é um orgasmo tântrico.

Ou deveria ser, de acordo com a explicação dada pelo terapeuta do curso de massagem tântrica do Centro Metamorfose,  em São Paulo, onde resolvi me aventurar em busca do hiperorgasmo. Claro que todo o blá-blá-blá sobre “aumento do autoconhecimento” e “expansão da consciência” também era atraente, mas o principal, o motivo pelo qual me dispus a pagar R$ 1.500 para manipular genitais de desconhecidos – e ser manipulada por eles – era, devo confessar, um pouquinho mais mundano: a esperança de alcançar o orgasmo supremo, o multiorgasmo, o orgasmo transcendental.

AMOR GRUPAL

Fui a última a chegar ao centro e um moço alto, sarado e com cara de Clark Kent me recebeu – descobri depois que era um dos participantes. Na rodinha em torno da mesa do café, um grupo bem heterogêneo de 14 pessoas, de 20 e poucos a 74 anos. Localizo o terapeuta, Evandro Palma, que me chama de lado para explicar que são as mulheres que escolhem os parceiros, e – cavalheirescamente me poupando da tarefa de escolher – sugere: “Acho que você faria uma boa dupla com o Thiago”. Fiquei animada: o moço em questão era um japonês gato e sarado, que, para completar, estava fazendo um curso de capacitação. Dava pra ser melhor?

A primeira coisa que fizemos ao entrar no salão foi uma apresentação rápida. Nesse momento, agradeci mentalmente a sugestão do terapeuta. Teria tido uma enorme dificuldade para escolher alguém. Fui com muita generosidade no coração e disposta a “doar amor” – de acordo com Evandro, no fundo era essa a finalidade daquele curso – a qualquer um dos participantes.

Casais formados, Evandro liga o som e coloca um axé para a gente se aquecer. Dançamos, suamos e damos uma descontraída.

HORA DO SHOW!

A primeira coisa que aprendemos é a massagem sensitive, que consiste em passar as pontas dos dedos levemente por todo o corpo do parceiro, para “ativar a bioeletricidade” e “produzir um estado alterado de percepção e consciência”. Há quem tenha um orgasmo já nessa etapa, mas não é o desejado. Também tem gente, soube depois, que precisa de até oito sessões para começar a sentir algo nessa fase.

Quem aplica a massagem fica vestido, mas quem recebe tem de estar totalmente nu. “Não posso ficar de calcinha?”, pergunta uma das participantes. “Olha… nós vamos manipular os genitais, então é preciso tirar tudo mesmo”, responde Evandro. A sensitive completa dura cerca de uma hora, mais as explicações, e lá se foi a manhã toda.

Depois do almoço, aprendemos as manobras que seriam feitas na yoni e no lingam – é assim que são chamadas as “partes” feminina e masculina em sânscrito, enquanto as mulheres são chamadas de shakti e os homens de shiva.

Mas antes de botar a mão na massa, um pouco mais de sensitive. Os homens recebem primeiro e a certa altura somos orientadas a começar a lingam massagem. Basicamente, massageamos o pênis com movimentos variados de uma das mãos, enquanto a outra aperta a base firmemente. Tudo com luvas e muito gel lubrificante.

A ideia ainda não é fazer gozar, então paramos antes que isso aconteça. É a vez deles trabalharem, e, apesar de o meu parceiro estar executando todas as manobras corretamente, não sinto nenhum prazer. Fico ali deitada, olhando para o teto, e ouvindo os gemidos ao redor, me consolando com a ideia de que no dia seguinte, quem sabe…

 

FICA, VAI TER BULLET!

No segundo dia, Evandro sugere começarmos com uma meditação. Deitamos com as pernas entrelaçadas nas do parceiro e fazemos um exercício de respiração intenso, que me conduz a um relaxamento profundo… Tão profundo que Evandro tem de intervir, respirando forte na minha orelha para me acordar.

Em seguida, começamos o roteiro como no dia anterior: sensitive neles, depois sensitive nelas, pausa para o almoço. Na volta, uma das participantes, que já tinha feito outras sessões, comenta animada: “Hoje tem bullet! Aguarde…”.

Thiago começa a me massagear novamente, e tudo se desenrola como no dia anterior. Até que chega a hora do bullet, um vibradorzinho oval com três níveis de intensidade. A ideia é buscar um ponto determinado no clitóris e manter o bullet ali até que as portas do paraíso se abram. Tarefa complicada, já que, a certa altura, é normal perder o controle do corpo, que começa a ter espasmos como se estivesse em convulsão.

São 30 a 40 minutos de estimulação intensa. Nesse ponto, a coisa toda é um pouco agoniante, um misto de prazer e desconforto. Mas eis que, minutos depois de começar, as portas do céu se abrem ligeiramente e, por uma fresta, tenho um vislumbre do paraíso. No instante seguinte, em vez de fazer minha entrada triunfal na terra sagrada, algo sai do controle, e as portas se fecham. Isso acontece mais umas duas ou três vezes durante a meia hora seguinte. E nada. Foi assim que terminei a sessão. Exausta e com a certeza de que algo ficou faltando.

EU QUERO MEU KUNDALINI!

Inconformada com minha anorgasmia tântrica, resolvi marcar uma sessão individual, para receber a massagem de uma terapeuta profissional. Já conhecia as manobras principais e meu corpo já havia dado uma resposta promissora, o que poderia sair errado?

Bom, para começar, achei a sessão curta. O processo todo levou cerca de uma hora e 15 minutos. Descontados a respiração mais a conversa, menos de uma hora de massagem.

Tive os mesmos espasmos, os mesmos momentos de agonia e uma espiadinha do paraíso pela fechadura. Confesso que esperava mais.

Já que não consegui alcançar meu objetivo, decidi pelo menos colocar em prática o que aprendi sobre o prazer masculino e generosamente conduzir alguém pelos caminhos da transcendência. Escalei um ex-namorado bem disposto e me dediquei com afinco às manobras. Mas, apesar de ter achado gostoso, meu parceiro não sentiu nada demais.

De volta à prancha de projetos! Liguei para o Thiago, meu parceiro do curso, e propus uma reciclagem. Ele, que é contratado pelo centro para servir de modelo nos cursos individuais – que ensina as mesmas técnicas do curso em grupo, mas sem plateia –, foi me lembrando as manobras e orientando sobre o que dava mais prazer a ele. Resultado: final feliz.

Na minha vez de receber a massagem, mesmo roteiro de antes: prazer, indiferença e agonia. Começo a achar que pode ter algo errado comigo, como sugeriu a terapeuta.

Depois do atendimento individual, ela disse que tenho um clitóris pequeno (!), o que dificultaria a massagem.

PALAVRAS DO ORÁCULO

Ligo para o criador do método, Deva Nishok, que primeiro questiona a competência da terapeuta. Ao que retruco: “Mas eu escolhi uma pessoa no site de vocês, formada por vocês!”. “Existem terapeutas e terapeutas, assim como há médicos e médicos.”

“Isso do tamanho do clitóris não tem nada a ver, ela nunca poderia ter dito isso!” Tendo a concordar, até porque em nenhum outro momento o tamanho foi considerado relevante. “A pessoa precisa ser trabalhada terapeuticamente. A hipotonia, ou baixo tônus muscular, pode comprometer [o orgasmo pleno]. E é um processo, não dá para avaliar o resultado em função de um só atendimento.” Ok, mas isso não foi falado antes, durante ou depois das experiências. “É uma fisioterapia, é preciso fazer várias sessões para tonificar [o clitóris] e dar uma condição orgástica satisfatória.”

“Mas Nishok, e a lingam massagem? Tentei colocar em prática e também não rolou!” Ele começa a dizer como é difícil para o homem não treinado manter a ereção por tempo suficiente, e eu esclareço que o homem em questão não tem problema nenhum em manter a ereção por horas. “Mas você cronometrou o tempo?” “Sim, mais de uma vez”. “E ele consegue por mais de uma hora?” “Sim, isso até me incomodava no começo do namoro.” “Então você é uma mulher de sorte! Tá reclamando do quê?”

E foi assim que terminou minha imersão no maravilhoso mundo do tantra, uma vez que a única sugestão para resolver o meu caso seria um tratamento intensivo, com duas sessões semanais, mais a prática de exercícios de respiração em casa, ao custo módico de R$ 3.120 por mês.

É, parece que o paraíso tem seu preço…

 

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