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Jennifer Pritzker || Créditos: Reprodução
Jennifer Pritzker || Créditos: Reprodução

Quando Caitlyn Jenner anunciou, bem antes do final surpreendente que teve a campanha de 2016 pela presidência dos Estados Unidos, que votaria no ainda candidato Donald Trump naquele pleito, o mundo praticamente caiu sobre sua cabeça. Acusada de traição pela comunidade LGBT americana, da qual sempre afirmou ser defensora, a transexual mais famosa do país justificou a escolha citando apenas o fato de que era partidária do agora presidente-celebridade (ambos são republicanos de carteirinha há tempos) e tratou como algo menor as declarações de teor classificadas como homofóbicas e feitas pelo político e aliados durante a corrida eleitoral. “Conheço o Trump, não acredito que ele seja uma ameaça [para nós]”, disse a ex-atleta olímpica e patriarca do clã Jenner/Kardashian na época.

Demorou quase duas primaveras desde a vitória histórica de Trump para que Jenner, em artigo assinado no “The Washigton Post” e publicado em outubro do ano passado pelo jornal, expressasse com todas as letras o que todos já desconfiavam. “Me enganei”, ela escreveu, antes de condenar o vazamento de um plano do governo de Trump então recente que na prática condenaria o reconhecimento oficial da transexualidade nos EUA. A reviravolta deu o que falar, mas não chegou a se destacar no noticiário sobre Washington e foi esquecida em poucas semanas.

Quase três meses depois, o assunto está de volta à tona, mais uma vez pelas páginas do “Post” – que, comprado em 2013 por Jeff Bezos, se transformou em um dos meios de mídia mais críticos à atual Casa Branca – e graças a uma personalidade bem menos conhecida que Jenner porém muito mais poderosa, a coronel reformada do Exército americano Jennifer Pritzer, de 68 anos. O fato de que uma é celebridade, ao contrário da outra, não é a única diferença que impera entre as duas, e a mais gritante está nas cifras que as separam: membro de uma das famílias mais ricas e tradicionais da América, a última tem estimados US$ 2 bilhões (R$ 7,4 bilhões) e é uma das mulheres mais ricas de lá, razão pela qual deverá ter um papel grande nas eleições presidenciais de 2020.

Isso porque há uma semana, e também a convite dos editores do jornalão que custou US$ 250 milhões (R$ 931,7 milhões) ao fundador e CEO da Amazon, Pritzker assinou um texto de opinião na publicação com críticas a Trump e companhia e com a autoridade de quem é republicana ativa desde a adolescência e grande contribuidora do “Partido Velhão” (o “Grand Old Party”, ou GOP, como dizem os americanos), com mais de US$ 100 milhões (R$ 372,7 milhões) doados a este só na última década. “Sou a favor da economia de mercado e do estado mínimo, mas como posso continuar apoiando uma agremiação política que [defende isso mas] está me marginalizando por causa da minha própria existência?”, questionou a bilionária, em um momento de rara manifestação pública que deixou muitos caciques republicanos que a querem por perto de cabelos em pé.

De origem judia e nascida James Nicholas Pritzker, ela se “assumiu” Jennifer Natalya em 2013 em uma nota simples porém direta enviada para as entidades filantrópicas que apóia na qual usou oficialmente pela primeira vez o pronome feminino para se referir a si mesma e conclui revelando a nova identidade. Considerada a pessoa transgênero mais rica do mundo, Pritzer nasceu em berço de ouro (os Pritzkers são donos da redes de hotéis Hyatt, que fundaram nos anos 1950, e da empresa de cruzeiros Royal Caribbean, e juntos têm uma fortuna somada de US$ 31,5 bilhões/R$ 117,4 bilhões que os torna a sétima família mais rica dos EUA), é formada em história e ligada em questões sociais desde sempre.

O uniforme militar foi adicionado ao guarda-roupa dela no começo dos anos 1970, depois de um tour por Israel e região que lhe permitiu testemunhar a guerra de Yom Kippur e a convenceu a lutar por justiça. Sobre a presença de pessoas trans em conflitos desse tipo, aliás, Pritzker pensa de forma bastante pragmática. “Quando 300 soldados saltam de uma aeronave em pleno voo em intervalos de um segundo, o que importa é fazer o trabalho”, ela argumentou no editorial do “Post”. O currículo invejável e a conta bancária recheada de dólares a tornam uma republicana boa demais para ser ignorada mesmo em caso de puxão de orelha nacional, e também em um prato cheio para a concorrência, tanto que vários membros do Partido Democrata já andam atrás da nova e inusitada “influencer” com propostas de maior acolhimento para suas causas.

“Tudo que peço aos republicanos é que priorizem as políticas pensadas para melhorar nosso país para todos os americanos. Mas da próxima vez que eles me procurarem para pedir doações de quantias de seis ou sete dígitos para as próximas eleições, a minha reposta estará na ponta da língua: por que eu deveria contribuir para a minha própria destruição?”, Pritzker ameaçou em seu artigo, dando a entender que pode estar cogitando mudar de lado, ao contrário de Jenner, que apesar de toda a insatisfação vivida continua sendo republicana. Resta saber do lado de qual delas Trump e sua trupe vão escolher ficar. (Por Anderson Antunes)

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