Repórter da Globo, Manoel Soares fala sobre de hipersexualização do negro: “Quando me reduzem ao meu órgão sexual, não reconhecem minha inteligência”

Manoel Soares deu um show de sabedoria na live com Joyce Pascowitch nesta segunda-feira. O repórter e apresentador da TV Globo falou sobre a importância do novo jornalismo que trabalha em prol das causas sociais. Pai de seis filhos, Manoel desenvolve em suas mídias sociais um projeto pessoal para combater a masculinidade tóxica e desenvolver paternidade qualificada dentro da periferia. Ele fala como essas abordagens são trabalhadas: “Primeiro dentro de casa, precisa trabalhar seus próprios filhos. Ficar se policiando todo dia.Faço isso para tentar ser uma pessoa melhor. Prestar atenção no meu conteúdo jornalistico para ver se atendo essas demandas. A janela que me deram autorização para abrir e fechar uso a favor do que nesse momento é necessário para que a gente tenha um país melhor”, comenta Manoel.

“O europeu ensinou para o homem negro que filho é fardo e que a gente precisa se livrar dele. A África nos ensinou que filho é benção. O nosso processo de escravização ensinou que quando você tem um filho, o filho vai ser vendido. Fomos ensinados que quanto mais você for apegado a seus filhos, mas você vai sofrer com a partida deles. Quando temos um genocídio da juventude negra como no Brasil, ser pai de um menino negro é a possibilidade de sentir mais dor. Ser pai preto afetivo é uma novidade porque há 130 anos éramos mercadoria”, explica.

O racismo, a desigualdade e a masculinidade tóxica também entraram na conversa:  “A grande questão que o negro no Brasil é intruso. Enquanto eu for visto como intruso, vai ser difícil, vou continuar sendo a exceção das coisas”, comenta o jornalista. “Nós negros fomos animalizados, fomos ensinados que não tínhamos poder nenhum é natural o homem negro ter uma masculinidade mais tóxica que o branco. O homem branco pode dividir suas alegrias entre viajar ao exterior, ter carro importado… Nós negros somos hostilizados pela polícia, ganhamos mal, somos maltratados. Quando a gente chega em casa, o único lugar de reinado que nós temos é a nossa casa com nossa esposa. Se por acaso ela tentar tirar de nós esse reinado, a tendência natural é que façamos o uso da nossa masculinidade tóxica e venhamos a oprimir ela mais do que o homem branco faria”. Além disso, ele também falou da hipersexualização do negro: “Tiveram meninas brancas que namoraram comigo para provocar os pais. Quando as pessoas me reduzem ao meu órgão sexual, não reconhecem minha sensibilidade, minha inteligência e meus outros atributos”.

E por falar em desigualdade, Manoel opinou sobre as cotas raciais: “Eu vejo as cotas como quem vê uma cadeira de rodas. Se você chega para uma pessoa com deficiência e pergunta se ela quer a cadeira de roda ou voltar ou andar, ela vai querer andar. Se perguntar se quer uma cadeira de roda ou ficar se arrastando no asfalta, a pessoa vai querer a cadeira. A cota para gente é a cadeira de rodas. A gente está se arrastando, não por falta de mérito,  e sim por falta de oportunidade”. O papo completo você confere abaixo.

 

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