Roger Abdelmassih foi condenado, em 2010, a 278 anos de prisão por 48 estupros cometidos contra 37 mulheres e estava entre os dez criminosos mais procurados do Brasil. Até essa terça-feira, quando foi preso em Assunção, capital do Paraguai. Nesta quarta, ele será encaminhado para a Penitenciária do Tremembé, no Vale do Paraíba. Além de vítimas perplexas, a fuga do ex-médico deixou credores com milhões a receber. Confira a matéria abaixo sobre o caso, publicada na revista PODER de fevereiro de 2012.
Por Fabiana Parajara e Ines Garçoni
Não é só a polícia que está atrás de Roger Abdelmassih. O ex-médico condenado a 278 anos de prisão por 55 estupros fugiu, em janeiro de 2011, deixando para trás uma herança maldita. Trata-se de um caminhão de dívidas milionárias, incontáveis ações na Justiça de vítimas que buscam indenizações, uma legião de especialistas em reprodução humana que ainda luta para recuperar o prestígio abalado da profissão e uma dúvida para promotores e advogados: como fazer com que o foragido repare os danos causados a centenas de famílias, e a dezenas de bancos e empresas nos quais deu o calote? Nem a polícia, nem o Ministério Público sabem onde se esconde o “doutor Vida”, como se autodenominava o ex-médico de 68 anos. Seu patrimônio teria sido “blindado”, ou seja, transferido para terceiros a fim de burlar a Justiça. Para as vítimas à espera de um desfecho justo, pior é saber, pelos jornais, que ele leva, em algum lugar do planeta, uma vida normal ao lado da esposa e de dois filhos gêmeos recém-nascidos, além de promover bazares de objetos decorativos de luxo e obras de arte, em São Paulo, que ajudam a patrocinar sua fuga.
Seu paradeiro não é secreto para todos os amigos e pacientes que frequentaram a clínica onde as pacientes foram estupradas, na nobre Avenida Brasil paulistana. Polícia e Ministério Público desconfiam de que o ex-médico, cassado pelo Conselho Federal de Medicina em 2009 por causar “danos graves e irreparáveis”, após sofrer 51 processos éticos, esteja no Líbano, de onde mantém contatos, pelo menos, com parentes – tem cinco filhos e dez netos no Brasil. A principal tese é de que Abdelmassih tenha fugido para o país do qual é cidadão, munido de passaporte falso, via Uruguai. Sua saída só foi possível graças a um habeas corpus assinado pelo ministro Gilmar Mendes, do STF, às vésperas do Natal de 2009. Chegou a passar quatro meses preso enquanto aguardava o julgamento, mas da pena a qual foi condenado nunca cumpriu uma hora de cadeia.
Por lei, a polícia deve se limitar a buscá-lo no Brasil, tendo como base possíveis pistas. E a única informação anônima já recebida pela Delegacia de Capturas da Polícia Civil paulista até hoje foi sobre a presença de Abdelmassih em um estado nordestino. Checada, garante o delegado Waldomiro Milanese, não era procedente. “A alta sociedade, da qual ele faz parte, não colabora para que o encontremos, muitos sabem ou tem pistas de onde ele está e não nos informam”, reclama. “É um foragido da Justiça, precisa ser preso”.
Roger é o mais velho dos três filhos de Jorge Abdelmassih, um mascate libanês que desembarcou no Brasil por volta de 1925, e nasceu em São João da Boa Vista, interior de São Paulo. Por ironia, é conterrâneo da escritora Patrícia Galvão, a Pagu, cuja herança feminista, certamente, nunca inspirou o ex-médico. As ligações com a família no Líbano nunca foram interrompidas. Portanto, as chances de o foragido estar naquele país são grandes. O promotor do Ministério Público paulista Luiz Henrique Dal Poz considera a hipótese “factível”: “Ele é cidadão libanês e o Brasil não possui acordo de extradição com o país”. Neste caso, sua captura depende única e exclusivamente de um vacilo do próprio condenado: a exemplo do ex-banqueiro ítalo-brasileiro Salvatore Cacciola, preso em Mônaco pela Interpol depois de gozar a liberdade por seis anos na Itália, Abdelmassih pode ser capturado em outro país, se um dia resolver passear pela Europa. “Além do mais, tem recursos para se manter no exterior”, avalia Dal Poz. “O endividamento em si não significa que a pessoa não tenha fundos. Posso ser devedor e ter muito dinheiro por aí afora”.
O “doutor Vida” sabia se promover como ninguém, e tinha um poder de convencimento fora do comum. “Todo mundo se deixava levar pela lábia dele”, diz um médico da mesma especialidade. A exposição na mídia ajudava a dar credibilidade aos seus serviços. Era visto em programas de televisão e revistas de celebridades com frequência – e quando uma reportagem sobre reprodução assistida não incluía seu nome, passava a mão no telefone para se queixar aos diretores de redação. Quase sempre era atendido, porque, entre outros métodos persuasivos, Abdelmassih costumava oferecer a jornalistas e apresentadores poderosos tratamentos de fertilidade gratuitos. A economia de, pelo menos, R$ 30 mil, preço cobrado por ele por um pacote de três tentativas, era agradecida com reportagens elogiosas ao seu trabalho. No entanto, suas habilidades – eticamente questionáveis – de empresário paravam na seara do marketing pessoal. Financeiramente, era um verdadeiro fracasso.
Não herdou da mãe, Olga, o talento para a administração – ela, nos anos 40, criou o Bazar Changai, um verdadeiro sucesso sanjoanense, e ajudou a dar aos três filhos uma vida de classe média alta, bons colégios e formação católica rígida. Morta em julho passado aos 98 anos, viveu para ver a derrocada do filho. Já Roger nunca soube conduzir os próprios negócios e acumulava dívidas em diversos bancos antes mesmo das denúncias virem à tona. Nos últimos dois anos, sem poder exercer a profissão, fechou a clínica dos horrores e se endividou ainda mais. Um consultor financeiro e ex-funcionário de Roger ouvido pela PODER explica como e por que o caldo entornou. Chamado para ajudá-lo a sanear as contas nos anos 90, o economista conta que Abdelmassih, cuja clínica faturava cerca de US$ 700 mil por mês, sempre gastou mais do que ganhava.
Comprava, comprava, comprava. “É um megalômano. Toda semana um designer fazia joias especialmente para a Sônia (primeira mulher de Roger, falecida em 2008, vítima de câncer). O casal jantava em Paris nos finais de semana, tinha um apartamento lá e outro na Bahia. Trocava os carros importados a cada dois meses. Só ia de helicóptero para as fazendas no interior e dizia que o seu Cherokee era um ‘jipezinho’, por isso tinha uma Mercedes só para andar dentro da fazenda de Avaré”, lembra o consultor, que prefere não se identificar. “Era especialista em dar golpes na praça. Quando a corda estava no pescoço, pedia empréstimos. Depois ligava para os presidentes dos bancos, alguns eram seus pacientes, e usava a influência para não pagar, protelar, etc.”
No entanto, segundo o consultor, Abdelmassih sempre foi um sujeito previdente e temeroso quanto ao próprio futuro. A despeito de todas as dívidas, não deixava, jamais, de depositar mensalmente US$ 60 mil em um seguro de vida mantido nos Estados Unidos. Ao fim de 30 anos, a aplicação garantiria uma renda mensal de cerca de R$ 1 milhão. “Ele sempre dizia que aquela seria sua aposentadoria. Não deve ter usado ainda porque tem muito patrimônio para queimar”. O resultado de tamanha sanha consumista pode ser conferido nos bazares que a família dele promove em São Paulo: um tapete, por exemplo, era vendido por R$ 130 mil, e um candelabro de cristal saía por R$ 22 mil. O “família vende tudo” só foi possível porque a Justiça extinguiu uma ação civil pública da Promotoria do Consumidor que obteve o bloqueio de todos os bens móveis e imóveis, contas e aplicações de Roger e seu filho, o obstetra Vicente, sócio do pai na clínica, depois do escândalo. “A decisão é incompreensível”, reclama o promotor Roberto Senise Lisboa. O objetivo da ação era garantir dinheiro para indenizar as vítimas.
No entanto, apesar da derrota do MP, outras ações indenizatórias correm em sigilo de Justiça, além de pedidos de arresto e penhora – alguns já foram concedidos. Das 17 propriedades em seu nome, 14 já foram tomadas. MP e advogados dizem que a maior parte do patrimônio está em nome de terceiros, como da atual esposa de Abdelmassih, a ex-procuradora Larissa Maria Sacco, sua irmã, filhos etc.. “A mulher dele deve tê-lo ajudado a blindar tudo. É procuradora, conhece bem a lei”, suspeita o advogado de um banco ao qual Abdelmassih deve R$ 1 milhão. Ele diz ter encontrado bens suficientes para saldar o passivo, mas não revela quais são por medo da “concorrência”: “Está um pega para capar. Se eu contar, outros bancos podem obter a penhora antes. E é praticamente impossível reverter doações para pessoas físicas. É mais fácil quando os bens estão no nome do devedor”, explica o advogado. Entre as ações que correm na Justiça contra o ex-médico, há um despejo no valor de R$ 888 mil, uma dívida cobrada pela TAM no valor de R$ 100 mil e outra de R$ 300 mil em nome de um banco pequeno. Alguns dos empréstimos foram feitos para a filha mais velha, a biomédica Soraya Abdelmassih, que também trabalhava na clínica, tendo o pai como avalista.
Onde quer que viva, além do seguro de vida e outros investimentos, bazares e empréstimos nunca pagos, é possível que o foragido também lucre com uma clínica de reprodução humana e medicina fetal em pleno funcionamento, na mesma Avenida Brasil. A Embryo Fetus, constituída em maio de 2010 com capital de R$ 100 mil, tem três sócios, segundo a Junta Comercial de São Paulo: Repro Assistência Médica LTDA, com R$ 25 mil, SC&C Serviços Médicos, com R$ 30 mil, Reprodutiva Participações e Negócios, com R$ 45 mil. Ocorre que a mulher de Abdelmassih figurou, entre julho de 2010 e maio de 2011, como representante das empresas Repro e Reprodutiva. Hoje, o papel é exercido pelas filhas Soraya e Karime. Ou seja, é possível enxergar sombra e digitais de Roger na Embryo Fetus.
Quem responde pela SC&C é o livre-docente da Faculdade de Medicina da USP Sang Chon Cha, um médico de boa fama entre seus pares. É ele o responsável pela administração “isolada e individualmente”, segundo a Junta, da Embryo Fetus. A placa em frente à mansão da Avenida Brasil – onde estão também os equipamentos da antiga clínica de Abdelmassih – ostenta o nome de Sang. A biomédica Soraya dá expediente pela manhã, informa uma secretária. E o filho Vicente, cujo nome não aparece nos documentos, atua como obstetra no mesmo endereço.
Tribunais
A defesa recorre da condenação junto ao STF – aliás, consta que Abdelmassih teria pago R$ 5 milhões ao criminalista, e ex-ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos para defendê-lo. Por outro lado, o MP também pede uma revisão da pena mínima aplicada pela juíza Kenarik Felippe. “Para que seja feita justiça, a pena precisa aumentar. São vários os fatores envolvidos, como a repetição dos casos, a repercussão. Admiro e acho brilhante o trabalho da juíza, mas ela tem, por convicção, uma tendência absolutamente liberal”, observa Dal Poz. Em seu escritório, no centro de São Paulo, o advogado José Luís de Oliveira Lima, que divide a causa com Thomaz Bastos, reafirma a inocência do cliente. “Tenho certeza de que ele será absolvido”, diz, comentando a tese da defesa: “Há uma súmula do Supremo que diz que a ação penal pública só existe se houver violência real, ou seja, física. O que o MP fez é uma criação, uma aberração jurídica”. Dal Poz reage indignado: “Será uma surpresa se uma tese desta for aceita a esta altura do campeonato”, comenta. A defesa questiona a legitimidade da ação porque não teria havido violência real, e sim presumida, ou seja, sem violência física, o que impediria o MP de oferecer denúncia – só a vítima poderia fazê-lo, através de queixa crime. “Mas exatamente por causa da Súmula 607, nós, infelizmente, deixamos de lado casos nos quais não foi detectada a violência efetiva. Eu pergunto: e naqueles casos em que, durante a consulta, ele correu atrás da mulher pelo consultório, prensou-a contra a parede, colocou o joelho para imobilizá-la e realizou atos sexuais? Como fica a súmula do Supremo?”, questiona o promotor.
Corporativismo, doutor?
A comunidade médica “sabia das atrocidades e ficou calada durante anos”, diz Luiz Henrique Dal Poz, do Ministério Público paulista. Fontes ouvidas pela PODER indicam que o promotor tem razão. Muitos médicos especialistas em reprodução humana estavam acostumados a ouvir relatos escabrosos de pacientes que, antes de os procurarem, estiveram na clínica dos horrores do doutor Roger. “Escutei, sim, e mais de uma vez, mulheres dizendo que ele as assediava”, diz um deles. “Todo mundo sabia destas coisas. Quantas pacientes não sentaram aqui e choraram? Mas ninguém tinha coragem de fazer nada, não tínhamos como provar”, diz outro ex-colega. Corporativismo, doutor? “Não. É que temos responsabilidades, família para criar”, justifica. “E depois, um médico denunciar o outro dá a impressão de que é por interesse próprio, para eliminar a concorrência”.
Sob estes argumentos, médicos nada fizeram ao longo de, pelo menos, 10 anos. Até que uma vítima corajosa, de anonimato garantido pela Justiça, fez a primeira denúncia no MP. “As pessoas tinham medo dele. Era um sujeito que aparecia ao lado do Roberto Carlos, do Pelé, da Hebe. E que usava a abominável expressão ‘você sabe com quem está falando?’”, analisa o promotor Dal Poz. Para agravar a situação, o estupro era o mais terrível dos crimes cometidos por Abdelmassih, mas não o único: houve paternidades não reconhecidas pelos pais depois do nascimento, escolha do sexo dos bebês, utilização de espermas sem autorização dos pacientes, venda ilegal de pacotes por tentativas de fertilização.
Sim, Abdelmassih desrespeitava sistematicamente o Código de Ética do Conselho Federal de Medicina. E o pior: em alguns casos, anunciava, aos quatro ventos, que o fazia. Em 1998, disse em entrevista, sem pudores: “Eu tinha o sêmen dele (do marido de uma paciente) congelado. A pedido dela (a esposa), fiz a fertilização com o embrião feminino. Nasceu a filha e o marido pensa que foi por namoro. São coisas na fertilização e na própria ética onde cada caso é um caso”. Sobre selecionar o sexo do bebê, o que é proibido pelo Código (exceto quando se trate de evitar doenças genéticas): “Se um casal tem três mulheres e quer um homem, por que não? Hoje, quase todos os médicos da área fazem”. Um ex-funcionário de Roger conta que, certa vez, o então médico atendeu a “esposa de um empresário muito famoso” e sugeriu a ela que fizesse a fertilização com o sêmen de outro homem, porém com características físicas semelhantes às do marido, sem que ele soubesse. “Na minha frente, ele disse para ela, ao telefone: ‘Se o seu marido não quer fazer o tratamento, você faz e não conta. Ele vai pensar que o filho é dele’”. Certa vez, perguntado sobre o que responde a quem duvida de sua ética, Abdelmassih foi taxativo: “Tenho pena. Sou extremamente ético, documento tudo”. A frase a seguir pode soar estranha, mas é verdadeira: há algo de positivo no escândalo Abdelmassih. A fiscalização das clínicas por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) tornou-se mais severa, com a criação do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio), que controla o número de embriões congelados em todo o país, podendo, inclusive, determinar a taxa de fertilização das clínicas. “Abdelmassih dizia de cabeça aqueles números grandiosos, taxas muito superiores à média nacional, mas ninguém podia comprovar”, comenta um ex-colega. Para o presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana, Artur Dzik, “depois do caso, conseguiu-se reunir o Conselho Federal de Medicina e a atualizar as normas éticas, torná-las mais reais. Há mais de 200 clínicas no Brasil, o país faz em 25 mil ciclos de fertilização por ano. Em cada capital temos dois ou três serviços excelentes. Abdelmassih é passado”, afirma Dzik.
Psicopata
“Agora a responsabilidade de te dar um filho não é mais de Deus, é minha”, “Eu sou um instrumento de Deus para ajudar casais a terem filhos”, “Você veio buscar seu filho? Você não sairá sem ele, eu vou te dar um”. Vaidoso, cheio de si, do alto de seu 1,80m de altura, doutor Roger soltava frases como estas, dignas de um megalomaníaco, às pacientes, jornalistas, amigos, celebridades. “Abdelmassih significa ‘servo de Deus’”, gostava de repetir. Aliado a outras características, tal comportamento – sempre disposto a chamar atenção para si e suas realizações, como se fosse o melhor do mundo – leva o psiquiatra forense Guido Palomba a afirmar, convicto, que Roger Abdelmassih é um psicopata. “Prefiro chamar pelo sinônimo ‘condutopata’, porque se trata de um transtorno de conduta. São indivíduos que têm distúrbios dos valores éticos e morais. Possuem determinação e vontade anormais, só pensam em si mesmos, na própria satisfação”, explica.
Quem conheceu Abdelmassih pessoalmente pode não acreditar quando alguém lhe atribui a pecha de “egoísta”, já que o ex-doutor costumava se mostrar preocupado com o outro, alguém sempre pronto a ajudar. No entanto, a dissimulação também é uma característica comum aos psicopatas. “Eles enganam muito bem. Para conseguir o que querem, seduzem, mentem, até choram. Mas, na verdade, querem é levar vantagem com aquelas lágrimas”. A psicopatia pode ser leve, moderada ou grave, a depender da frequência com que praticam atos. “Se for um ou dois atos criminosos, o indivíduo pode nem ser considerado sociopata”. Já o caso de Roger é diferente. Os crimes contra as dezenas ou centenas – jamais se conhecerá os números verdadeiros – de pacientes foram cometidos durante anos. Aliás, algumas denúncias ficaram de fora da ação movida pelo MP porque os crimes já estariam prescritos, caso de uma senhora que afirmou ter sido estuprada quando Abdelmassih ainda era médico residente em Campinas, nos anos 60.
Outra característica da personalidade de Abdelmassih semelhante ao comportamento psicopata é o fato de sempre ter negado os crimes. As desculpas foram inúmeras. No início, quando as vítimas não chegavam a dez, dizia que se tratava de uma orquestração promovida por clínicas concorrentes. Depois, afirmou que tais mulheres estavam frustradas porque não terem engravidado – mas se calou diante do fato de que muitas das denunciantes tinham, sim, filhos. E quando as denúncias passavam das dezenas, culpou o anestésico utilizado na hora dos procedimentos de fertilização, o propofol, de produzir alucinações – tese derrubada pela acusação. A Justiça considera a psicopatia uma perturbação mental, mas não ameniza a pena dos réus.
Larissa
O comerciante Vicente Sacco, sogro de Roger Abdelmassih, diz que soube pela imprensa que era avô novamente. A filha dele, Larissa Maria Sacco, teve gêmeos por volta de agosto do ano passado, no esconderijo onde está com o marido. “São dois nenéns que não sabemos onde estão, se são meninos ou meninas”, diz ele, afirmando que a filha não fez contato com a família desde janeiro. “Foi muita perseguição e é muito triste tudo isso. Minha filha é advogada, tinha uma carreira. Agora eu nem sei mais se ela é advogada”. Larissa pediu exoneração do cargo de procuradora em fevereiro de 2011, após o casamento. O desligamento foi publicado em Diário Oficial no mês seguinte. Ao ser informado da exoneração, o comerciante mostrou-se surpreso. “Não sabia de nada. Me deu até mal-estar”, afirmou, pedindo para licença para encerrar a ligação.
Larissa estava em licença não-remunerada desde que o escândalo em torno de Abdelmassih estourou. Na época, eles namoravam. Quando pediu exoneração, estava sendo investigada por suspeita de tentar burlar o bloqueio de bens do marido, transferindo os negócios dele para o próprio nome ou de parentes. Depois de formada em Direito, Larissa começou a carreira no Ministério da Fazenda em São Paulo, até que foi aprovada, com uma das melhores notas, no concurso do Ministério Público Federal. Primeiro, foi locada em Dourados, no Mato Grosso do Sul, de onde pediu transferência para Assis, no interior paulista. Ainda trabalhava lá quando conheceu o médico. As visitas à fazenda dele nos fins de semana ou aos pais dela, em Jaboticabal (SP), faziam parte da rotina do casal.
Bonita, aos 33 anos de idade, com as denúncias e a prisão do namorado, se viu obrigada a trocar os encontros em restaurantes badalados da capital pelas visitas íntimas na penitenciária de Tremembé, no interior de São Paulo, onde ele esteve preso até a liminar concedida pelo Supremo Tribunal Federal. O casamento deles ocorreu logo após a soltura e, poucos meses depois, ela perdeu um primeiro bebê que esperava do médico. Seu paradeiro, como o do marido, talvez seja o Líbano.