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Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro para a revista PODER || Créditos: Gabriel Rinaldi
Morreu na madrugada desta terça-feira, em São Paulo, Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, ex-presidente do Santos. Laor, como era conhecido, estava internado no hospital Albert Einstein e não resistiu ao câncer, aos 73 anos. Em sua homenagem, Glamurama relembra matéria publicada pela revista PODER em julho de 2013 (63ª edição).
Considerado um dos dirigentes mais queridos do futebol brasileiro, Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro levou o Santos ao status de clube-empresa, o que quase triplicou o faturamento durante seu mandato

por Bruna Narcizo

Estima-se que quase metade da população do mundo assistiu pela televisão, ao menos durante um minuto, a Copa do Mundo da África do Sul. As informações são do site oficial da Fifa. Isso significa que cerca de 3 bilhões de pessoas viram os jogos que levaram a seleção espanhola a conquistar seu primeiro título mundial em 2010. São dados como esse que consolidam o futebol como o esporte mais popular e rentável do mundo. Ainda assim, no Brasil, a maneira como os clubes são tratados por seus dirigentes beira o amadorismo. Os cargos de confiança geralmente são ocupados não por especialidade e competência profissional, mas por afinidade ou para agradecer o apoio durante a campanha.
Para quebrar esse círculo, assim que assumiu a presidência do Santos, em dezembro de 2009, Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, conhecido como Laor (as iniciais de seu nome), trouxe seus anos de experiência no mercado financeiro (no fim da década de 1980, ele foi diretor do Banco Central). “Ao contrário de uma empresa, o sócio do clube não espera que no fim do ano sejam creditados dividendos em sua conta bancária. Ele espera o intangível, que é a glória da vitória e o gol”, explica.
O primeiro passo foi propor uma mudança no estatuto do clube – trabalho que consumiu os dois primeiros anos de mandato. Mas hoje o Peixe é um dos únicos times em que apenas o  comitê de gestão trabalha de forma voluntária. “Todo o resto é preenchido por profissionais com compromisso de tempo integral e salário. Se não servir, tchau”, argumenta.  E deu certo. O time passou de um faturamento de R$ 70,4 milhões, em 2009, para R$ 197,8 milhões, em 2012. O Santos também foi o clube cuja marca mais cresceu em 2012 entre os 50 maiores clubes do mundo, segundo a Brand Finance, consultoria inglesa especializada em avaliar marcas intangíveis.
Laor recebeu PODER em seu apartamento, no bairro de Alto de Pinheiros, em São Paulo. Ele está em recuperação depois de passar mais de 20 dias na UTI e outros 20 na semi-intensiva do Hospital Albert Einstein – onde deu entrada com 2% de chance de sobreviver. Ainda com falta de ar, o cartola fala, entre outros assuntos, sobre a venda de Neymar e qual o segredo para gerenciar o negócio chamado futebol.
PODER: Como tem sido a preparação para o último ano de mandato?
LUIS ALVARO DE OLIVEIRA RIBEIRO: “Nosso grande objetivo é deixar um legado que seja permanente. Restabelecemos o amor-próprio do santista, ganhamos título, demos um exemplo pioneiro de segurar o Neymar o tempo que seguramos e aumentamos o número de sócios. Agora, vamos encarar um novo desafio do centro de treinamento e de um novo estádio. A gente também conseguiu a Certidão Negativa de Débito (CND). É um documento emitido pelo Ministério da Fazenda – quer dizer que a pessoa é um bom pagador.”
PODER: Pensa em se aposentar?
LAOR: “De jeito nenhum. Sou um jovem menino da Vila. Pretendo continuar como conselheiro nato. Dediquei cinco anos da minha vida para transformar o Santos em um clube de prestígio internacional. O futebol brasileiro precisa ser visto como um negócio. Não pode ser administrado de maneira amadora e passional. Os clubes são olhados como um quintal da casa do presidente. Acho que o Santos inaugurou uma nova era. Eu vejo o Santos como uma unidade de negócios muito próspera. Então, tenho de administrar com princípio de governança corporativa.”
PODER: É difícil ser completamente isento, já que é algo tão passional.
LAOR: “O futebol não é um negócio pura e simplesmente. O sócio do clube, ao contrário do de uma empresa, não espera que no fim do ano sejam creditados dividendos em sua conta bancária. Ele espera o intangível, que é a glória da vitória e o gol. Temperar o fogo da paixão com a frieza dos números. E esse ponto de equilíbrio foi um desafio para mim: conciliar uma estrutura saudável do ponto de vista financeiro com os limites do possível das ambições que a gente tem como torcedor.”
PODER: Já recebeu ameaça da torcida?
LAOR: “Recebi. Dois caras me ameaçaram de morte. Eu tinha dado uma declaração em programa de TV, logo depois que o Santos foi derrotado pelo Corinthians na Copa Libertadores, e o Corinthians ia enfrentar o Boca Juniors.  Queriam saber para que time eu iria torcer. Disse que torceria para o Corinthians, porque é um time brasileiro, tenho dois netos corintianos e eu detesto o Boca Juniors, que é o time do Maradona, que odeia o Pelé. O futebol dá margem para a eclosão dos instintos mais bárbaros das pessoas.”
PODER: Empresarialmente, no que o Santos é diferente dos outros times?
LAOR: “É o único time do Brasil administrado profissionalmente. Todos os outros têm uma estrutura de poder amadora com uma diretoria nomeada pelo presidente. É uma questão de estatuto, que mudamos no Santos. Temos um comitê de gestão, que trabalha de forma voluntária, e todo o resto é preenchido por profissionais com compromisso de tempo integral e salário. Se não servir, tchau.”
PODER: O que é a Teisa? 
LAOR: “Desde o começo havia um grupo de santistas, da área financeira, que tinha demonstrado interesse em criar um fundo para adquirir jogadores no período de formação, colocá-los no Santos por empréstimo e depois vender. Para que a coisa tomasse corpo, seria necessário mudar o estatuto, o que levou dois anos. Como o Santos tinha atletas que queria manter ou comprar, fundou-se uma sociedade anônima, fechada, chamada Teisa, que seria o embrião do fundo, mas não fez captação de dinheiro público. Compramos 5% do Neymar, a preço de mercado, porque o Santos estava precisando de caixa,  e fizemos outras negociações. Agora, vai ser um fundo de investimento qualificado, para quem tem mais de R$ 300 mil aplicados e conhece os riscos do mercado financeiro.”
PODER: Qual a participação do Neymar no crescimento do Santos?
LAOR: “É difícil dar um tratamento científico e uma porcentagem para mensurar isso. Os números ainda não foram computados, serão computados daqui a dez anos. Porque o menino de 4 anos ainda não é um consumidor, não compra a camisa. Se tivéssemos vendido Neymar há dois anos, o que o Santos teria perdido é imensurável. Eu soube pensar a médio e longo prazo. Ele já gerou algo em torno de R$ 150 milhões e vai gerar outro tanto, mesmo não estando mais aqui.”
PODER: Como preencher essa lacuna deixada por ele?
LAOR: “Com novos Neymar que estão sendo produzidos. Porque o Neymar não é um fato isolado. Teve o Robinho, Diego, Giovanni, Pelé… Essa é a história do Santos. E continuamos atentos: onde pintar um projeto de Neymar, iremos atrás.”
PODER: Como foi a negociação para a venda dele?
LAOR: “Só aceitei negociá-lo depois que ele me disse aqui em casa que estava com vontade de ir. Não adianta manter o jogador insatisfeito, que ele não vai produzir. Para o Santos foi um negócio excepcional. O pior não era ficar no Santos até 2014, era ele ficar até 2014 e infeliz. Vamos deixar o menino ser feliz. De 2011 para cá ele se pagou muito.”
PODER: O grupo DIS, empresa que detinha 40% do passe de Neymar, alega que o Santos declarou um valor de venda menor do que os 57 milhões de euros declarados pelo Barcelona. O que não está claro?
LAOR: “No valor investido eles computam tudo. Até os gastos para vir ao Brasil. Não é o valor que eles pagaram para o Santos. O valor pago para o Santos está no contrato, assinado e com firma reconhecida: R$ 17 milhões.”
PODER: O Santos tem uma categoria de base forte e reconhecida no Brasil. Existe um projeto voltado para a base?
LAOR: “Estamos desenvolvendo uma parceria com o Barcelona e vamos enviar pessoas para aprender um pouco do que eles fizeram. Também vamos aplicar parte do dinheiro que vem com a venda do Neymar nos times de base.”
PODER: Qual o custo pessoal de assumir um cargo assim?
LAOR: “É alto. Significa sacrificar a saúde, o convívio familiar e estar ausente da minha atividade profissional. Eu penso no Santos 24h por dia. São noites maldormidas imaginando a montanha que vou ter que remover no dia seguinte. Mas, por outro lado, tem uma gratificação que é o prazer de ver as pessoas com a camisa do time. As pessoas vêm falar comigo, satisfeitas com os rumos que o Santos adotou. Isso faz compensar largamente os contras. Faria tudo novamente.”
PODER: De onde vem a sua fonte de renda?
LAOR: “Da minha empresa de consultoria. Ajudamos nossos clientes, que podem ser empresas ou pessoas físicas, a tomar decisões relacionadas a imóveis.”
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