Por Michelle Licory
Regina Casé completou 61 anos nessa quarta-feira. Não parece, né? “Esse é o maior preconceito: com idade. Todo mundo vai ficar velho. Não posso falar o que faço de cuidados com a pele porque não tenho nenhum. Sabe protetor solar? Não uso. Fico horas com o Roque [filho dela] no colo e aí termino toda entrevada. Gosto de mar, de vida, fazer as coisas. Cheguei aos 61 sem uma gota de botox. Olha aqui! Tudo mexe no meu rosto. Acho que meu segredo é não ter parado numa época. Se eu tivesse parado na época do Asdrúbal [Trouxe o Trombone, grupo cultural que fundou nos anos 70], hoje seria aquela hippie velha, falando ‘como as letras das músicas eram melhores naquele tempo’. E como as letras poderiam ser melhores agora, com a escola que nós temos? As pessoas têm que se expressar do jeito que conseguem!”
“Vestido caro tem que repetir”
“Falaram mal da minha roupa, que usei terça no casamento da Fernanda Souza com o Thiaguinho. Disseram que parecia a toalha de mesa da dona Zefinha. Mas isso não me incomoda porque eu sei que é lindo, da Isolda, de Londres, bordado à mão. Também comentaram que eu já tinha usado. E daí? A mulher que bordou tudo aquilo deve ter ficado com o dedo doendo… Um vestido caro: quanto mais gente me ver com ele, melhor. Tinha usado no casamento do meu sobrinho, que não tinha imprensa, e no baile da amfAR, que só fiquei uma hora e eram convidados completamente diferentes. Só não repetiria se fosse casamento do Thiaguinho e do Péricles, onde encontraria as mesmas pessoas. A nossa roupa também traz alegria pra festa.”
“Ela é paraíba”
“Essa roupa de hoje [o nosso papo rolou nos bastidores da gravação do ‘Esquenta’ especial de aniversário dela, no Projac] vão falar mal com certeza… Só porque é estampada. Já aviso logo que esse tecido é do Marimekko, um designer superfamoso da Finlândia. Quem me deu foi o Alberto Renault. Quando decidimos fazer um programa de aniversário, me falaram pra gente colocar tudo com as minhas cores preferidas, que são rosa e amarelo. Aí a Claudia Kopke [sua figurinista] lembrou desse tecido e a gente fez a roupa. Sou vítima de um preconceito que às vezes nem é comigo. As pessoas acham que todo nordestino é palhaço, caricato. Como ando com todo mundo, falam: ‘ela é paraíba’, como falariam para o nordestino. Essas coisas eu seguro a onda. Agora quando a agressão é uma mentira, quando falam uma coisa que não aconteceu… Aí a Benedita, minha filha, fica arrasada, chora, e eu às vezes choro também. Outro dia disseram que a Benedita queria comprar um livro num sebo e que eu não deixei falando que aquele lugar era horrível e que ela tinha que pagar mais caro numa livraria. Imagina! Isso sim me incomoda: esse hospício social. São viagens de ácido. As pessoas inventam. E às vezes choro, sim.”
Exposta, suada
“Quando você faz uma coisa nova, tem que saber: vai levar porrada, cacete. Afinal, você está esticando a corda, forçando. E estou exposta. Hoje os famosos tem vários seguranças, carro blindado. Eu ando na rua todo dia. Claro que a relação fica mais difícil, desgastada, isso porque é suada, no corpo a corpo. Claro que se estou no meio de uma multidão, posso não ouvir alguém me chamar. Mas o dia que não puder mais fazer minha própria feira, o que eu adoro… Converso com todo mundo na rua, não é à toa que sou a rainha dos garis. Eles vão me contando tudo pelo meu caminho.”