Feridas da China
Durante a Festa Literária Internacional de Paraty, de 1 a 5 de julho, a mesa “China no Divã”, na quinta-feira, 2, às 17h, vai reunir dois autores que remexeram em pontos cruciais da história de seu país.
Ma Jian vem lançar no Brasil seu romance épico sobre a história da China contemporânea, “Pequim em Coma” (Record): ao mesmo tempo alegoria de um país em transformação e uma análise seminal dos protestos estudantis da Praça da Paz Celestial que culminaram no massacre de junho de 1989, o qual está completando vinte anos.
O livro conta a trajetória de Dai Wei – atingido pela bala de um dos soldados, durante o protesto –, cujo corpo se torna sua prisão. As autoridades do hospital para onde é levado se apressam em tachar o estudante de ativista contra o regime comunista e obrigam sua mãe a levá-lo para casa. Dai Wei fica em coma durante uma década, mas pode ouvir e perceber tudo o que acontece a seu redor: o esforço da mãe para mantê-lo com vida; a ação do governo para suprimir toda a memória do massacre da Praça da Paz Celestial; o envolvimento de seus amigos com o capitalismo frenético da China. O drama do rapaz é a representação do conflito interno da sociedade chinesa.
Já a jornalista Xinran abordará seu livro mais recente, “China Witness – Voices from a Silent Generation” (a autora é publicada no Brasil pela Cia. das Letras, mas este livro ainda não está traduzido), que traz relatos de sobreviventes da revolução cultural liderada por Mao Tse-tung, e durante a qual morreram em torno de um milhão de pessoas entre 1966 e 1976.
Essas duas obras mostram que o país que deve liderar a economia neste século XXI ainda tem muitas contas a prestar não só com a sociedade chinesa, mas mundial.
Autores & Idéias
O escritor Milton Hatoum estará na Livraria da Vila shopping Cidade Jardim, na segunda-feira, 15, às 19h30, participando do projeto Autores & Idéias e sendo entrevistado pelo jornalista Thales Guaracy.
Vale lembrar…
Hatoum lançou em fevereiro deste ano seu primeiro livros de contos: “A Cidade Ilhada”, que traz histórias diversas: a primeira visita a um bordel em "Varandas da Eva"; uma passagem de Euclides da Cunha em "Uma carta de Bancroft"; a vida de exilados em "Bárbara no inverno" ou "Encontros na península"; o amor platônico por uma inglesinha em "Uma estrangeira da nossa rua".
Sequências brasileiras
Hatoum também estará na Flip dividindo a mesa “Sequências Brasileiras”, com Chico Buarque, na sexta-feira, 03/7, às 19h.
Para saber
Os ingressos para todas as mesas da Tenda dos Autores na Flip estão esgotados desde a manhã do dia 01/6, quando começaram as vendas. A mesa literária de Chico Buarque e Milton Hatoum também já não tem mais ingressos para a Tenda do Telão.
Próxima viagem
Ao participar do evento Diálogos Literários de Mariñan, durante esta semana em La Corunha (Espanha), o escritor português José Saramago anunciou que, em maio, entregou a seu editor um novo livro que será publicado em outubro deste ano em Portugal e na Espanha, mas não revelou o nome da obra, apenas explicou que ela “será como um círio a arder, que, quando está próximo de se apagar, lança uma chama mais alta”.
A mulher de Saramago, Pilar del Rio, afirmou na saída do evento que, ao regressar a Lanzarote, no arquipélago das Ilhas Canárias (Espanha), onde mora, o marido voltaria à sua atividade diária normal. E ele retrucou imediatamente: “Isso significa que amanhã quando chegar a casa terei que começar a escrever outro livro”.
Antes de partir para La Corunha, Saramago deixara registrado em seu blog:
(…) Estes pensamentos sem nenhuma originalidade fizeram-me recordar o último e breve capítulo da “Viagem a Portugal” que, ouso pensar, alguma originalidade haverá tido. E pensei que não ficaria mal trazê-lo aqui, quando estamos a ponto de partir outra vez, agora para a Corunha. Aí vai, portanto:
“A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o viajante se sentou na areia da praia e disse: “Não há mais que ver”, sabia que não era assim. O fim da viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.» Assim é. Assim seja.
Em nome do pai
O projeto Bossa ao Vivo – uma parceria entre a Livraria da Vila shopping Cidade Jardim e a rádio Alpha – receberá nesta segunda, 8, às 19h, o cantor Jair Rodrigues, que está comemorando 50 anos de carreira, e seu filho Jair Oliveira. Antes deles, às 17h, apresenta-se o músico Milton Guedes.