Prestes a estrear no início de março em ‘Albatroz’, filme com roteiro de Bráulio Mantovani (de ‘Cidade de Deus’, ‘Tropa de Elite’, ‘Tropa de Elite 2’) e direção de Daniel Augusto, Alexandre Nero é do tipo que não para. Está sempre envolvido em algum projeto, seja no cinema ou na televisão. No longa em questão, ele interpreta Simão, um fotógrafo que fica famoso após registrar um atentado terrorista e acaba mergulhando em uma crise depressiva, chegando a perder a noção do que é sonho e o que é realidade. Estão junto com Nero no elenco, Andrea Beltrão, Camila Morgado e Andreia Horta. Glamurama conversou com Alexandre Nero sobre ‘Albatroz’, cinema, novos projetos, filhos e futuro: “Quero que meus filhos sejam homens dignos, afetuosos… homens, não machos!” . À entrevista.
Glamurama: O suspense está na moda na dramaturgia. O que você gosta e o que não gosta nesse estilo?
Alexandre Nero: ‘Albatroz’ é um filme de suspense, mas bem diferente do tradicional. É um suspense que deixa o espectador numa dúvida tremenda se aquilo está acontecendo ou não. Se é um sonho, um livro ou se aquilo é realmente uma experiência científica.
Glamurama: Qual seu tipo de suspense favorito?
AN: Há vários tipos suspense de que eu gosto muito, como o Hitchcock, que é o mais tradicional. Gostei muito de um filme espanhol chamado “O Orfanato”, me impressionou demais. Gosto quando o filme não entrega de mão beijada o que está acontecendo, quando o espectador tem que trabalhar para chegar a alguma conclusão.
Glamurama: Como levar o público para assistir filmes nacionais, além das comédias?
AN: Esse desafio não é um desafio do Brasil, ele é mundial. Em todos os lugares do mundo as comédias dão mais público. Não se produz apenas comédias porque somos seres humanos e precisamos de mais coisas além da comédia. A gente sente a necessidade de fazer e sempre há quem tenha a necessidade de assistir.
Glamurama: O que te chamou a atenção no personagem? Se identificou com ele de alguma maneira?
AN: O personagem é o que menos me chama a atenção neste roteiro do Bráulio. O roteiro em si é o que chama a atenção. É esse labirinto num quarto escuro no qual o roteiro te joga. Você entra e não sabe bem como sair, é quando o espectador não é apenas um espectador passivo. Tem que estar alerta, tem que trabalhar pra chegar a alguma conclusão. Isso me interessa.
Glamurama: Como foi o processo de criação de seu personagem, o Simão?
AN: O Simão não é um típico personagem que faz o ator ir atrás dele. O processo profundo é sobre o texto, sobre a leitura, sobre o entender o que está sendo dito e, nesse caso, menos é muito mais.
Glamurama: Conte pra gente quais seus projetos para 2019?
AN: Oficialmente, tenho até agora o lançamento de ‘Albatroz’, a segunda temporada de ‘Filhos da Pátria’ e o novo longa do Arnaldo Jabor, ‘O Meu Último Desejo’. Vou fazer ainda o filme baseado no livro do Dráuzio Varela, com direção do Maurício Farias.
Glamurama: Já sabe como será o seu personagem na segunda temporada de ‘Filhos da Pátria’?
AN: Devemos começar a gravar em maio e o personagem é o mesmo, o Geraldo Bulhões. Será a mesma família, os mesmos personagens, mas mudando de época: agora, vamos para a era de Getúlio Vargas. A importância de uma série como essa é contar a história do Brasil de maneira divertida. Sabemos muito pouco sobre nossa própria história. Fala-se muito de alguns personagens míticos, mas só isso. Precisamos falar muito sobre esse tema para não repetirmos os mesmos erros. A história se repete, primeiro como tragédia, depois como farsa, já dizia o velhinho barbudo de vermelho que não é o Papai Noel (risos).
Glamurama: Como foi participar da primeira telenovela para Instagram? Vai ter de novo? ( “Casacaixa” explora por meio de fotos o centro de São Paulo, seus andarilhos, mendigos, poetas, prostitutas, inferninhos e até mesmo personagens míticos, como o Minotauro)
AN: adoro projetos experimentais, pois uma das funções do artista, além de entreter, é também se auto entreter. A gente também faz coisas para se divertir, para testar novas linguagens, acho que foi essa a ideia do Ravel, que foi quem propôs esse projeto. Foi divertido, estou sempre aberto para projetos que me parecem diferentes e inovadores de alguma forma.
Glamurama: Você tem dois filhos pequenos – Noah, de 3 anos, e Inã, de 5 meses. Qual sua maior preocupação na criação deles nos dias de hoje?
AN: Tenho dois filhos e são dois meninos. Tenho consciência da minha responsabilidade em desconstruir esse mundo machista em que fui criado e passar pra eles algo diferente. Dividir o protagonismo, o espaço e o poder com as mulheres. Tenho muitas dúvidas, não sou o dono da verdade, não tenho certezas, mas não quero esse retrocesso que estou vendo ressurgir por aí na vida do meu país. As mulheres conquistaram seu espaço a duras penas e precisam ser ouvidas. Estou escutando e aprendendo muito com elas. Acho que esse é o momento delas. E eu, como homem adulto, posso dizer com tranquilidade que o homem só ganha com isso tudo. Machismo faz mal ao homem também.
Glamurama: Como você quer que eles sejam no futuro?
AN: Eu quero que eles sejam homens dignos, afetuosos… homens, não machos. Acho que muita gente confunde homem com macho. Quero que meus filhos sejam homens no melhor sentido da palavra. Que demonstrem suas carências, suas fraquezas, mas também sejam fortes para estar lado a lado com as mulheres. Se a gente analisar esse tipo de macheza que tem acontecido por aí, desses moleques metidos a machinhos, acho que é por aí: ser mais homem e menos macho.
Glamurama: Você acha que o Brasil tem jeito?
AN: Depende para quem. Para os ricos têm, muito jeito, sempre teve. Mas para o povo não, não tem. Zero de esperança nisso. (por Carla Julien Stagni e Fernanda Grilo)