Poluição sonora: investigamos como a exposição crônica a ruídos prejudica a audição, o humor e o coração

Ruídos altos ou repetitivos podem danificar estruturas sensoriais que nos permitem ouvir e causar uma cascata de problemas por todo o corpo. Eles também estimulam uma reação hormonal de luta ou fuga, relacionada ao estresse, o que pode prejudicar todo o organismo se a exposição for constante.

Tanto o canto dos pássaros quanto o barulho de uma obra são sons produzidos por vibrações que se movem pelo ar, pelo solo ou pela água em ondas invisíveis. Mas por que alguns são associados ao bem-estar, enquanto outros nos deixam estressados? “Quando essas ondas sonoras entram em seu ouvido, elas fazem vibrar a membrana timpânica, ossículos e células ciliadas externas, o que desencadeia sinais elétricos que seu cérebro interpreta como som. Mas, quando esse som é extremamente alto ou frequente, ele pode prejudicar o corpo humano”, explica a otoneurologista Dra. Nathália Prudencio, otorrinolaringologista especialista em tontura e zumbido. “Os efeitos fisiológicos do barulho são geralmente induzidos por dois sistemas diferentes: o eixo da medula da glândula suprarrenal e o eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal (HHA). O eixo da medula da glândula suprarrenal é ativado por uma reação em cadeia que leva à excreção de adrenalina e noradrenalina. O mecanismo prepara o corpo para a luta ou fuga, mobilizando a energia nos músculos, coração e cérebro e reduzindo o fluxo de sangue nos órgãos internos, o que deixa o corpo humano em estado de alerta. É a mesma resposta que é desencadeada quando você está em um beco escuro e vê um pitbull feroz, e seu corpo está dizendo: ‘Ou preciso fugir disso ou preciso lutar contra isso’”, explica a Dra. Deborah Beranger, endocrinologista com pós-graduação em Endocrinologia e Metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ). “Já a hiperatividade do eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal (HHA) está associada a situações de estresse crônico, quando o corpo secreta o hormônio cortisol. Sentimentos de aflição, ansiedade e depressão estão associados a esse quadro e também podem surgir em resposta à exposição crônica aos ruídos”, completa a endocrinologista.

A primeira e mais óbvia consequência da exposição crônica à poluição sonora é a lesão auditiva. A Organização Mundial de Saúde estima que 1,1 bilhão de jovens entre os 12 e os 35 anos correm o risco de perda auditiva devido à exposição crônica ao ruído, incluindo aquele proveniente de dispositivos de áudio pessoais. “Mas os sons urbanos também podem ser perigosos. O limite de exposição considerado seguro para sons de 85 decibéis é de 8 horas diárias. Para sons de 110 decibéis, a orientação é não ultrapassar 30 minutos e, para sons de 120 decibéis, apenas 15 minutos”, explica a otoneurologista. Para se ter uma ideia, 85 decibéis é aproximadamente o mesmo nível de aspiradores de pó, ferramentas elétricas e liquidificadores. “Sons nessa faixa podem exigir que você grite para ser ouvido por alguém a apenas um metro de distância”, explica a Dra. Nathália.

À medida que o volume aumenta, o tempo de exposição a ele deve diminuir. Em um canteiro de obras, o nível de ruído é de 100 decibéis – o que deveria ser ouvido em apenas 15 minutos sem proteção auditiva. Para quem está próximo à construção de um prédio ou mora perto de um aeroporto, esse tipo de poluição sonora pode impactar a saúde de diversas formas. “Quando essa resposta ao estresse é estimulada pelos sons, você começa a respirar mais rápido. Sua frequência cardíaca começa a aumentar. Seu corpo está liberando todos esses hormônios. Se isso acontecer uma ou duas vezes, pode não ser grande coisa, mas, com o tempo, a estimulação constante da resposta do seu corpo ao estresse, ou a exposição crônica ao ruído, podem torná-lo mais propenso a problemas graves de saúde”, destaca a endocrinologista. “Grande parte da literatura está na área cardiovascular. Hipertensão, infarto do miocárdio, mortalidade relacionada a doenças cardiovasculares”, diz a Dra. Deborah.

Dra. Deborah Beranger

Há estimativas que sustentam que a exposição crônica ao ruído contribui para 48.000 novos casos de doenças cardíacas na Europa todos os anos e perturba o sono de 6,5 milhões de pessoas. “Quantificar a contribuição da poluição sonora para os problemas de saúde e a morte no Brasil é um desafio devido à má medição e monitorização. Mas sabemos que o ruído pode aumentar a pressão arterial e a frequência cardíaca mesmo enquanto você dorme”, destaca a Dra. Nathália Prudencio. A exposição crônica aos ruídos também pode levar a danos à saúde mental, como aumento da ansiedade e da depressão.

Ruído noturno

Quando o sono é perturbado por sons e ruídos, isso pode levar a uma série de efeitos fisiológicos, tais como disfunção dos vasos sanguíneos e alterações no metabolismo da glicose e na regulação do apetite, segundo a endocrinologista. “A capacidade do ruído de interferir no nosso sono é provavelmente o que manteve os humanos seguros ao longo da nossa história evolutiva. Mesmo que você esteja dormindo, seus ouvidos ainda estão examinando ativamente a noite em busca de ameaças potenciais. O ruído noturno pode fragmentar a estrutura do sono, induzindo despertares, criando dificuldades para adormecer e mudando para um sono mais leve e menos restaurador”, diz a otoneurologista Dra. Nathália. “A perturbação crônica do sono pelos ruídos está associada a uma variedade de resultados negativos para a saúde, incluindo obesidade, diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e pior função cognitiva. É claro que, quando se trata de dormir, os ruídos não precisam ser tão altos para causar problemas”, diz a Dra. Deborah Beranger. Sons tão baixos quanto 30 a 40 decibéis podem fazer com que uma pessoa se revire ou acorde. Mas os mais prejudiciais aparecem na faixa de 40 a 55 decibéis, segundo a Dra. Nathália.

Protegendo-se da poluição sonora

Então, como evitar sucumbir à poluição sonora? A primeira solução é óbvia: protetores de ouvido. “Eles podem reduzir drasticamente o impacto de ruídos altos, bloqueando as ondas sonoras antes que elas penetrem no ouvido interno. Os fones de ouvido com cancelamento de ruído produzem um efeito semelhante, mas emitindo ondas sonoras que complementam e cancelam os ruídos ao seu redor. Esses dispositivos também auxiliam nos efeitos psicológicos da poluição sonora, porque ajudam as pessoas a recuperar a sensação de controle sobre o ambiente”, explica a Dra. Nathália. No entanto, ao ouvir música alta, esses mesmos fones de ouvido também podem emitir ondas sonoras em níveis fortes o suficiente para causar lesões, alerta a otoneurologista. “Até crianças podem sofrer com zumbido, uma condição induzida pelo som, em que os ouvidos soam como se estivessem zumbindo ou rugindo. O zumbido, por exemplo, é algo que pode ser sentido por trabalhadores depois de 20 anos na fábrica ou 15 anos no exército. E, em alguns casos, crianças de 10 anos têm zumbido”, comenta a Dra. Nathália.

Para evitar que os ruídos prejudiquem o seu sono, estudos sugerem que reproduzir ruído branco durante a noite pode ajudar a mascarar outros sons. Modificar o quarto para protegê-lo do ruído noturno também é um caminho. “Adicione janelas antirruído, superfícies macias que ajudem a bloquear ou diminuir o ruído, decorações de parede, azulejos acústicos e uma porta de quarto mais grossa”, diz a otoneurologista. É claro que a melhor forma de combater a poluição sonora é focar na fonte, mas, para quem mora perto de avenidas movimentadas, aeroportos ou centros agrícolas e industriais, isso parece impossível. “O barulho em nossas cidades vem de um planejamento urbano muito desastroso. Mas precisamos focar no que é possível para proteger os ouvidos e todo o corpo dos malefícios da poluição sonora”, finaliza a Dra. Nathália.

Dra. Nathalia Prudencio

Fontes

  • Dra. Nathália Prudencio: Médica otorrinolaringologista, especialista em tontura e zumbido. Fez especialização e mestrado em otoneurologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Com foco no diagnóstico e tratamento de distúrbios do equilíbrio e transtornos auditivos causadores de zumbido, a médica possui título de especialista em Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial pela Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF). Graduada em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), fez residência médica em Otorrinolaringologia na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Site: http://www.dranathaliaprudencio.com. CRM-SP 203299 | Instagram: @dranathaliaprudencio
  • Dra. Deborah Beranger: Endocrinologista, com pós-graduação em Endocrinologia e Metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ) e pós-graduação em Terapia Intensiva na Faculdade Redentor/AMIB. Com cursos de extensão em Obesidade, Transtornos Alimentares e Transgêneros pela Harvard Medical School, a médica tem MBAs de Saúde e Qualidade de Vida, de Marketing e Branding Médico e de Mindset, todos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), e curso de Obesidade e de imersão em Medicina Culinária pela Universidade de Campinas (UNICAMP). Fez fellowship pela European Association for the Study of Obesity, em Portugal; é speaker dos laboratórios Servier, Novo Nordisk, Novartis, Merck, AstraZeneca, Lilly e Boehringer. Instagram: @deborahberanger

Esse texto foi produzido pela Holding Comunicações, assessoria de imprensa especializada em saúde, beleza e bem-estar com 30 anos de experiência no setor.

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