PODER: os altos e baixos de Paulo Veras, homem por trás da 99Taxis

Todo mês, 1 milhão de passageiros chama um táxi pelo 99Taxis, aplicativo de Paulo Veras e seus dois sócios, que já é o maior do país. Apenas dois anos depois do lançamento, eles já têm mais de 70 mil taxistas no cadastro

por Márcia Rocha e Alexandre Makhlouf para revista PODER de setembro

Os pais do paulistano Paulo Veras comemoraram muito quando ele passou no vestibular de engenharia mecatrônica, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). Ele só tinha 17 anos e o vestibular da Poli era um dos mais concorridos do país. Mas não acharam a menor graça quando, seis meses depois de formado e já trabalhando na ABB, multinacional especializada em tecnologias de energia e de automação, Veras anunciou que ia pedir demissão para cuidar de seu próprio negócio. “Minha mãe ficou apavorada e, ao ver o sossego do meu pai, perguntou: ‘Como você pode estar tão tranquilo?!’. Ele respondeu: ‘É porque o Paulo está brincando!’”, lembra. Acontece que Veras estava falando sério e saiu mesmo da ABB para se dedicar à Tesla, uma das primeiras empresas em serviços de internet do país que ele criou, em 1995, com três sócios, todos amigos do Santo Américo, colégio da capital paulistana onde estudou. O banco americano JPMorgan Chase comprou parte da Tesla, em 2000. No mesmo ano, os quatro venderam também outra empresa que tinham criado, o Guia SP (primeiro guia online do país) para o StarMedia Group, gigante mundial da internet. “Ganhei dinheiro, mas não digo quanto”, admite.

Aos 42 anos, ele diz que sempre quis abrir seu próprio negócio. Desde os tempos da faculdade.  O pai tinha uma fábrica de autopeças em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, mas nunca quis que o caçula (Veras tem duas irmãs mais velhas) trabalhasse com ele. “Acho que meu pai queria que eu seguisse meu próprio caminho”, conta. E ele seguiu. A 99Taxis, empresa que ele criou em 2012 com os engenheiros Ariel Lambrecht, de 33 anos, e Renato Freitas, de 30, começou com cinco pessoas, contando com os donos. Dois anos depois, já são 85 funcionários – metade em São Paulo e metade espalhada pelo país. “Brinco que chegamos em 99 cidades e paramos de contar. Hoje, já ultrapassamos as 150”, conta Veras.  Atualmente, o 99Taxis é o maior aplicativo para chamar táxis do país, já tem 75% da frota de São Paulo cadastrada – o que representa cerca de 25 mil táxis – e só no mês de agosto realizou mais 1 milhão de corridas. Até o fim do ano, a meta é ter 100 mil táxis e 2 milhões de passageiros no cadastro.

O nome 99Taxis foi escolhido por ser universal – já que, segundo Veras, há planos de expandir os negócios fora do Brasil. “Sem falar que é um nome divertido e fácil de lembrar. Outra coisa é que, quando você escreve táxi no navegador, ele vem primeiro na indexação por começar com um número.” Eles não usaram o número 100, porque o resultado seria um tiro no pé. Veras diz que o nome foi uma ideia de Lambrecht, que hoje ocupa o cargo de diretor de produto da empresa. Aqui, os principais trechos da entrevista que ele concedeu a PODER na nova sede da 99Taxis, um prédio de três andares localizado no Brooklin, bairro da zona sul de São Paulo.

 

ONDA GRANDE

Antes da Tesla e do Guia SP, pesquisamos muito. Quando começou a onda dos provedores de acesso, ninguém sabia o que ia virar e ninguém sabia fazer, mas eu queria surfar aquela onda. Então, resolvi aprender para vender esse tipo de serviço. Com a Tesla, criamos os primeiros sites de e-commerce do país: o da Siciliano (livraria), do Sé Supermercados. Isso em 1995.

Fizemos o Guia SP porque queríamos entregar serviços de internet e não sabíamos como. Queríamos ter um projeto para mostrar. Como não tínhamos dinheiro para comprar um notebook, levávamos um desktop com monitor de tubo para as reuniões – para dar um ar de que sabíamos do que estávamos falando.

MBA E SABÁTICO

Meus pais começaram a perceber que as coisas estavam dando certo em 2000, quando vendemos a Tesla e o Guia SP. Nessa época, decidi fazer um MBA no Insead, na França.  Fiz engenharia, tinha uma formação muito técnica, e, apesar de ter tocado meu próprio negócio, não tinha noção de administração, de finanças ou de marketing. Estava sentindo falta desse lado de estratégia, de gestão.

Escolhi fazer o MBA do Insead porque ele só tem um ano de duração. Quando eu estava terminando o curso, rolou a crise de 2001. Todo mundo parou de investir e, por isso, achei que não haveria problema tirar um sabático no ano seguinte. Aproveitei para rodar o mundo com o dinheiro que ganhei com a venda das empresas. Fui para a Europa, passei três meses na África, visitei as pirâmides do Egito, mergulhei na Austrália. Alternei viagens tipo mochilão com coisas mais legais, tipo ir ver os jogos da Copa do Mundo da Coreia do Sul e do Japão, em 2002.

DINHEIRO É CONSEQUÊNCIA

Não gastei o dinheiro todo, mas também não investi. Aliás, não sou um bom investidor, e não gosto de investir. Coloco meu dinheiro no banco e fico monitorando.  Como sou empreendedor, dinheiro para mim é consequência, e não o que me move. Essa história de banco, de dinheiro pelo dinheiro, é a coisa mais chata do mundo. Não gosto de investir em nada em que eu só tenha de ficar olhando o dinheiro crescer. O que tem graça é participar de um projeto e fazê-lo dar certo.

DE VOLTA PARA CASA

Voltei para o Brasil em novembro de 2002. Eu tinha prometido que não iria trabalhar naquele ano. Mas, como empreendedor não gosta de ficar parado, decidi escrever um livro para contar a história da bolha da internet no Brasil (Por Dentro da Bolha, lançado pela  Edições Inteligentes). Em 2003, entrei na Gradus, consultoria de São Paulo que, na época, atendia a empresas como Ambev e GP Investimentos. Foi uma experiência muito interessante.

PARADA ESTRATÉGICA

Em 2005, entrei no Instituto Empreender Endeavor Brasil (ONG que estimula o desenvolvimento sustentável do Brasil incentivando o empreendedorismo) e percebi que seria uma oportunidade e tanto: propostas incríveis, muita gente boa lá dentro e a possibilidade de trabalhar em várias áreas. Joguei meu plano de empreender para frente e assumi como diretor-geral. Minha ideia era ganhar experiência e fazer uma rede de relacionamentos mais robusta. Foi uma experiência riquíssima, principalmente porque consegui diversificar – já que, até então, estava muito focado na área de tecnologia. No meu último ano, em 2008, começamos a expansão. Fizemos a Semana Global do Empreendedorismo em parceria com a Rede Globo (evento que acontece todo ano e envolve mais de 100 países). Quando saí da Endeavor, senti que tinha cumprido minha missão. Em 2009, ganhei o Prêmio Faz Diferença (iniciativa do jornal O Globo para premiar aqueles que trabalham para mudar o país). Eu estava concorrendo com o ministro das Relações Exteriores Celso Amorim (atual ministro da Defesa, conhecido por sua habilidade diplomática) e outro candidato. Foi um fechamento de ciclo muito especial e, hoje, a gente vê que todo mundo fala sobre empreendedorismo no país.

TENTATIVA E ERRO

Antes da 99Taxis, tentei uma porção de coisas. Tentar faz parte da vida de qualquer empreendedor. Montei com sócios uma produtora de vídeos digitais chamada PixIt, que vendemos para um grupo de comunicação. Fiz um dos primeiros sites de compra coletiva do país, o Imperdível, que se tornou um dos maiores. Um crescimento absurdo por seis meses e depois uma desaceleração idem. Aí, saí do negócio. Foi uma grande aposta e  a gente fez um trabalho benfeito, mas foi uma coisa que saiu de moda rapidamente também. Perdi dinheiro. Nunca vou falar quanto, mas doeu. Mas a dor é mais pelo fato de não ter dado certo do que pela parte financeira.

ERA UMA VEZ

Em abril de 2012, o Ariel e o Renato, com quem eu tinha contato desde a época da Endeavor, me mostraram o protótipo do 99Taxis em funcionamento. Trouxeram dois celulares para eu ver como seria a comunicação entre o taxista e o passageiro. Os dois queriam montar uma startup para desenvolver o aplicativo e me chamaram para sócio. Recusei e eles não entenderam por que, já que estava tudo pronto.  Eu tinha meus motivos: havia acabado de sair do Imperdível e estava meio frustrado. Expliquei que não bastava ter o produto, que ia ganhar essa corrida quem tivesse mais taxistas e passageiros. Continuamos conversando e, no fim das contas, vimos que o produto estava realmente benfeito. O Renato e o Ariel trabalhavam de graça e já tinham um escritório – alugado para outro projeto deles – o Renato ia ficar na programação e o Ariel iria para a rua e eles me queriam como sócio por conta da minha bagagem em negócios. Acabei topando porque não tinha tanto risco.

Combinamos que íamos tocar a empresa até o fim de 2012 e que, depois, decidiríamos o que fazer. Estava tudo indo devagar, mas, em novembro, começaram as primeiras corridas. Os taxistas ligavam para nós, felizes da vida. O negócio era ridiculamente pequeno, a gente tinha contratado uma pessoa só, mas estava muito legal!  Quase ninguém usava o 99Taxis, mas, quando usava, se encantava. As pessoas gostavam do visual, de acompanhar o táxi chegando, porque o aplicativo é interativo. É uma experiência transformadora para os dois lados. Quando terminou o prazo que tínhamos estipulado, nem lembramos que tínhamos pensado em parar. Não posso falar em valores, mas, em julho de 2013, negociamos um aporte de dinheiro com a Monashees Capital (fundo de venture capital focado em empresas de internet e de educação on-line), e com a Qualcomm (maior fabricante de chips de dispositivos móveis do mundo).

VOU DE TÁXI

Ando muito táxi – até porque é um jeito de testar nosso aplicativo. Segundo nossos levantamentos, os taxistas ganham de R$ 1 mil a R$ 2 mil a mais por mês com o 99Taxis. Já aconteceu de chamar um táxi e, depois de contar onde trabalho e quem sou, o taxista não me deixar pagar a corrida, dizendo  que eu havia mudado a vida dele.  Indicamos a corrida mais próxima do taxista, mostramos como ele chega até o passageiro, temos uma taxa menor de cancelamentos, porque validamos o número de telefone do passageiro e, se ele cancelar duas corridas no mesmo dia, fica impedido de usar o aplicativo durante 24 horas. Pensamos muito para desenvolver um produto que fosse bom para os taxistas. Se você procurar na cidade de São Paulo, dificilmente vai encontrar um taxista que rode com aplicativos e não use o 99Taxis e, quase sempre, eles falam que gostam mais do nosso.

ACELERADOR

Começamos 2013 com 230 táxis cadastrados. Hoje, temos 70 mil. Desde maio, fazemos cerca de 1 milhão de corridas mensais. Só para você ter uma ideia, no início levávamos 13 meses para fazer esse mesmo número. No começo, foram necessários seis meses para cadastrar os primeiros 200 táxis, que é a média de cadastros que fazemos por dia hoje.

TUDO EM PAZ

Não existe relacionamento com as cooperativas de táxi porque a adesão dos taxistas ao nosso aplicativo é uma decisão pessoal. Temos alguns taxistas que são de cooperativas e que também têm o 99Taxis,  e não vemos problema nisso. A única coisa que exigimos é que eles estejam com toda a documentação em ordem. Temos um sistema e uma equipe para checar isso. As cooperativas nunca nos procuraram. A gente vê pela imprensa que elas estão bravas conosco, mas ninguém nunca entrou em contato. Estamos fazendo uma coisa 100% regular e temos boa relação com a prefeitura, que aprova nosso trabalho porque sabe que estamos melhorando muito a qualidade do serviço de táxi na cidade. Por isso, as cooperativas não têm como reclamar. Mas, existem, por exemplo, algumas tecnologias que podem fazer qualquer pessoa virar uma espécie de taxista, um aplicativo de carona paga. Isso é  totalmente ilegal e, nesse caso, as prefeituras caem em cima.

CAIXA REGISTRADORA

No modelo atual da empresa, é tudo de graça para o taxista e o passageiro quando a corrida é paga no táxi em dinheiro ou com o cartão de débito ou de crédito. Nesses casos, a 99Taxis não ganha nada. Até hoje, seguramos a empresa com o aporte financeiro que tivemos no meio do ano passado. A partir de agora é que o negócio vai começar a dar dinheiro.  Nosso plano é faturar com dois novos serviços: um específico para empresas, que está funcionando desde abril. Já temos mais de 100 clientes corporativos e cadastramos pelo menos uma nova empresa por dia. O dinheiro vai vir daí, porque cobramos uma taxa das empresas, já que fornecemos um serviço de gestão de táxis, um software que permite que elas façam a distribuição por centros de custo, que vejam gastos por funcionário etc. Ou seja, em vez de contar com uma frota de 600 táxis, o que a maioria das cooperativas oferece, elas passam a contar com uma frota de 25 mil taxis – como os clientes pessoa física. Na hora de pagar, o funcionário escolhe a opção “voucher” com o nome da empresa, seleciona o centro de custo de que faz parte e o relatório de despesas já está pronto. O aplicativo soluciona o problema de fraudes dentro das empresas.

A outra fonte de receita é o pagamento de pessoa física via PayPal, com o cartão de débito e de crédito “dentro” do aplicativo, ou seja, o passageiro não paga a corrida no táxi. O taxista recebe dois dias depois em sua conta corrente com o desconto de 9% da nossa taxa.

Acreditamos que, no futuro, ninguém mais vai pagar o táxi com dinheiro ou cartão – só por meio do aplicativo. É mais seguro e mais conveniente. Nosso modelo de negócios foi criado pensando nisso. Lançamos esse serviço em junho deste ano e temos certeza de que ele será muito importante dentro de um ano e está tudo indo melhor do que o planejado, porque os clientes que o utilizam não voltam a pagar da forma tradicional.

A gente considera que a empresa deixa de ser uma startup quando o modelo de negócios está completo e funcionando, e por mais que o plano seja virar uma empresa, é importante manter essa efervescência de start-up. A gente tem um plano de break even (ponto que o investidor deixa de perder dinheiro e passa a ganhar e a equilibrar o capital investido) para o meio do ano que vem, quando a operação vai parar em pé sozinha.

 VAZIO DA ENTRESSAFRA

Hoje, acordo pensando: “Quero fazer o maior negócio do mercado de táxis do Brasil”. Com a 99Taxis, todo dia, a gente impacta a vida de quase 100 mil pessoas, entre taxistas e passageiros. Nós transformamos a renda desses motoristas, eles mudaram de vida por nossa causa. Então, você vê muito claramente o impacto do que está fazendo para a sociedade como um todo.  Para mim, é muito difícil ficar fazendo a mesma coisa durante dez ou 15 anos. Quando alguém quer comprar a empresa, geralmente esse timing coincide com a hora em que estou pronto para outra.  Fico mal quando estou entre projetos, quando acordo de manhã sem saber o que fazer. Isso me deixa agoniado.

TEMPO CERTO

Trabalho 12, 13 horas por dia e isso não me incomoda. Acordo às 6h45 e, antes de levar minhas filhas para a escola, fico cerca de uma hora checando minha caixa de e-mails. Depois de deixar as meninas no colégio, vou para a empresa. Chego por volta das 8 da manhã e tento ir para casa às 19h. Assim, consigo passar mais tempo com as meninas. Depois que elas vão dormir, trabalho mais um pouco, respondendo e-mails, vendo os números do dia. Vou até as 22 horas e, aí, desligo. O legal é que a 99Taxis não tem um servidor, todas as informações estão na nuvem. Então, tanto faz trabalhar em casa ou no escritório.

TUDO PLANEJADO

Sou metódico e gosto de planejar as coisas. Desonestidade é a única coisa que me tira do sério – no mais, dá para contar nos dedos as vezes em fiquei irritado. Além de trabalhar, adoro brincar com as minhas filhas. Preciso voltar a fazer esporte, coisa que ficou em segundo plano depois que entrei de cabeça na 99Taxis. Jogava futebol e procuro viajar todo ano, porque amo fazer isso, mas não curto muito essa história de ficar hospedado em hotel cinco-estrelas. Gosto mais de viagens inusitadas. Já fiz safáris na África de dois jeitos: no primeiro, fui sozinho, fiquei acampado no meio do parque, com leões passando perto da minha barraca; no segundo, levei minha família comigo, só que em outro esquema, tínhamos pequenos aviões nos transportando de um lado para outro, esses luxos. Sou bem eclético. Na verdade, gosto de qualquer coisa,  desde que esteja viajando. Gosto muito também de fazer viagens de caminhada: já fiz trilhas no Nepal, já subi o Kilimanjaro, na África – mas esse é o tipo de coisa que não dá para fazer quando você está empreendendo, tem de ser nos períodos de entressafra, porque você chega a ficar um mês totalmente inacessível. Se for um programa light, minha mulher me acompanha. Quando é hard, vou sozinho. Sou zero consumista, gosto de ter poucas, porém boas, coisas. Minha última compra foi o MacBook Air que uso para trabalhar. Não tenho vontade de ter avião, helicóptero, Ferrari ou iate. Gosto de ter dinheiro para dar segurança e manter um bom padrão para minha família e para mim – essa é minha principal preocupação.

 

TROCA DE COMANDO

Em 2004, Marilia Rocca, atual vice-presidente de plataformas e-cloud da Totvs, era diretora-geral da Endeavor e precisava de um substituto. “Tínhamos de encontrar alguém com capacidade para administrar a expansão da Endeavor”, explica ela. O sucessor, escolhido com a ajuda da Korn Ferry: Leadership & Talent Consulting, uma das maiores consultorias do ramo, foi Paulo Veras. Além do crescimento, outra parte importante do cargo era “despersonificar” a ONG que ainda era muito associada à imagem de Marilia e à de Carlos Alberto Sicupira, responsável por trazer a Endeavor para o Brasil, além de Jorge Paulo Lemann e de Marcel Telles, membros do conselho. “O Paulo não é um líder carismático típico nem é daqueles que dá tapinha nas costas. Ele tem o lado empreendedor e é um ótimo gestor, além de ser muito inteligente e de ter uma formação consistente”, diz Marilia.

EM BOA COMPANHIA

Foi no início de 2012, em uma das viagens que fez para a Alemanha, que o engenheiro paulistano Ariel Lambrecht viu pela primeira vez um aplicativo para chamar táxis: o GetTaxi. “Sempre fui meio geek e, assim que voltei, liguei para o Renato (Freitas) e começamos a desenvolver o protótipo do que seria o 99Taxis”, conta ele, que é um dos sócios de Paulo Veras na empresa e, hoje, ocupa o cargo de diretor de produto. Assim que criaram o app,  Lambrecht e Freitas entraram em contato com Veras. “Nós já o conhecíamos da Endeavor e pensamos nele como sócio por causa de sua experiência em negócios”, revela. Sobre o relacionamento entre os três, Lambrecht garante que é bem tranquilo, apesar da diferença de idade. “O Paulo é muito sério e, às vezes, até um pouco bravo, mas nós nos divertimos muito. É como se ele fosse o irmão mais velho. A sensação é de que somos um bando de crianças criativas que têm a supervisão de um adulto”, diz.

TIRO CERTEIRO

Na época da sucessão da Endeavor, quem estava à frente da Korn Ferry era Robert Wong, hoje CEO da Robert Wong Consultoria Executiva, em São Paulo.  Ele cuidou pessoalmente do processo. “O Paulo é o que chamo de carismático introvertido – como o Antônio Ermírio de Moraes. Ele me encantou pelas coisas que vi que seria capaz de fazer. Ele tem disciplina, cabeça processual para conduzir o dia a dia e uma qualidade fundamental em um líder, que é distância de visão, a capacidade de enxergar longe”, explica. Segundo o consultor, Veras viu a Endeavor como uma oportunidade de crescimento pessoal, já que lá poderia fazer contatos interessantes para sua carreira de empreendedor.

 DE CARONA

Presente em 42 países e recém-chegado ao Brasil, o Uber é um aplicativo semelhante ao de  seus concorrentes, mas com uma diferença que tem causado muita polêmica por violar a legislação do mercado de táxis nacional: funciona no sistema “carona remunerada”, em que o passageiro paga o serviço via aplicativo e a empresa bonifica o motorista de acordo com o tempo e a distância da corrida. Para se cadastrar como motorista, basta ter uma carteira de habilitação profissional e seguro para os passageiros. No Brasil, o serviço mais pedido é o Uber Black, que conta só com veículos de luxo e oferece entretenimento e água a bordo. O custo, em geral, é 30% mais alto que o de uma corrida tradicional.

O OUTRO LADO

Pioneiro no Brasil, o EasyTaxi, aplicativo semelhante ao 99Taxis, já garantiu seu lugar no mercado nacional. “Somos o maior player global, estamos em 32 países e não temos nenhum concorrente do nosso tamanho” afirma Dennis Wang, coCEO da empresa. Criada na metade de 2011, depois de ser apresentada em uma feira de start-ups e de receber um aporte de R$ 10 milhões do fundo alemão Rocket Internet, a companhia já nasceu internacional e tem, hoje, cerca de mil funcionários. Em junho do ano passado, o Easy recebeu mais R$ 45 milhões e, em julho deste ano, mais R$ 90 milhões de fundos diversos. Entre os principais diferenciais do Easy estão as parcerias, como a estabelecida com o Banco  Santander, em que clientes têm descontos nas corridas, e com a (distribuidora de bebidas) Diageo, em que as corridas de até R$ 30 saíam de graça nas madrugadas dos fins de semana. Para Wang, a concorrência da 99Taxis não assusta, mas é muito respeitada. “Nosso objetivo é único: fazer o mercado de táxis crescer no Brasil. São poucos os aplicativos que vingaram e o 99Taxis é um deles. Temos uma boa relação e é bacana perceber que conseguimos trabalhar em uma concorrência leal, mas é claro que todos queremos a liderança do mercado”, pontua.

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