Patrícia Melo mostra faceta de pintora no romance “Fogo-Fátuo”

 

Patrícia Melo e o novo livro, “Fogo-Fátuo”, com aquarela dela na capa

A escritora Patrícia Melo vai mostrar sua nova faceta, a de artista plástica, em misto de exposição e lançamento de seu décimo romance , “Fogo-Fátuo”, pela Rocco, nesta quinta no Clube das Artes, em São Paulo. A atividade de artista surgiu aos poucos, enquanto começava o novo livro, e agora entrou na rotina: “Desenho quase todo dia”. Um de seus desenhos estampa a capa de ‘Fogo-Fátuo’, que conta a história da morte de um ator famoso no palco, ‘uma morte espetáculo’”, segundo ela.

Nele, ela apresenta uma nova heroína: Azucena, chefe de perícia que promete virar trilogia. A autora de romances policiais como “O Matador”, adaptado para o cinema em “O Homem do Ano”, e “Inferno”, pelo qual ganhou o Prêmio Jabuti em 2001, conversou com Glamurama quando chegava de uma viagem a Suíça, segunda casa dela e do marido, o maestro e diretor artístico do Theatro Municipal de São Paulo John Neschling. Pode entrar!

Glamurama: É a primeira vez que expõe para o público os seus desenhos? Que técnicas você usa?
Patrícia Melo: É a primeira vez. Estou comemorando 20 anos de carreira, meu primeiro livro foi “Acqua Toffana”, em 1994, achei que era uma forma de comemorar. Uso muito nanquim, aquarela, carvão e guache. É uma coisa recente, uma extensão da minha atividade de escritora. Começou como uma brincadeira, parecia uma escrita, uma linguagem em código que foi virando vasos, flores… Como uma brincadeira com a linguagem escrita. No livro, Azucena [protagonista perita] lê a linguagem dos mortos, eles falam na forma como estão caídos, no tipo de ferimento, que larva está no corpo, uma linguagem muito rica.

Glamurama: O que te inspira nas artes plásticas é o mesmo que te inspira na literatura?
Patrícia Melo: Não. São coisas diferentes. Na literatura são questões existenciais, preocupações, dilemas, tudo isso vai para a literatura. O desenho para mim é menos carregado de angústia, está na esfera do prazer, o que me inspira são os materiais, as formas. Nunca tive um hobbie antes, a pintura está na categoria de hobbie. Comecei desenhando aos poucos e hoje desenho quase todo dia. É um exercício; filosofo enquanto estou desenhando, é um prazer, me libera a mente, me ajuda a focar em questões estéticas, ao contrário da literatura. A escritura me dá muita angústia, o fazer é cheio de angústia.

Glamurama: O que é o fogo-fátuo no livro?
Patrícia Melo: Nesses 20 anos falei de inúmeras facetas da violência e da morte. Neste livro a morte é tratada como espetáculo. Mostra como a mídia deixa as pessoas ligadas, como a sociedade se comporta; o voyeurismo. O fogo-fátuo é aquela chama que aparece em cemitérios, uma combustão natural, fugaz. No livro uso como uma metáfora da fugacidade da vida, da fama, da celebridade. É a história de um ator famoso que morre no palco, mobilizando a sociedade em torno.

Glamurama: A imprensa te inspirou no livro?
Patrícia Melo: Sem dúvida, como o homem se relaciona com a violência. A imprensa sacia o voyeurismo da sociedade, invade a vida das pessoas, dá para a sociedade o que ela quer. O evento é tratado não como uma tragédia, mas como entretenimento. Me lembro da morte daquela criança [Isabela Nardoni], a sociedade começa a julgar muito antes que o julgamento ocorra, há homicídios que viram um verdadeiro circo. A morte vira quase um produto vendável, uma perversidade da nossa cultura. Fico pensando o que faz uma pessoa ir para a porta de uma delegacia… Acho que é um prazer secreto de não ser a vítima, esse desejo de seguir a história como se fosse uma novela, você assiste a tudo do conforto da sua casa no sofá, um prazer secreto de não ser alguém da sua família. E por outro lado essa coisa doentia da imprensa que transforma o assassino em celebridade, uma Madonna às avessas.

Glamurama: A sua protagonista é uma mulher, a Azucena, como é ela?
Patrícia Melo: Eu queria construir uma personagem como na escola americana. Um detetive íntegro, que trabalha em situações precárias. Minha personagem acredita na justiça, no trabalho científico, e vive um drama pessoal. E que se interessa não só pelo crime mas também pela sociedade, uma forma de entender a sociedade. Já a escola inglesa é focada nos detalhes do crime, como se fosse um jogo de xadrez.

Glamurama: A Azucena de “Fogo- Fátuo” vai voltar em próximos romances?
Patrícia Melo: Sim, serão três casos que a Azucena vai resolver, mas não sei se vou escrever na sequência. Ninguém sabe, mas “O Matador” também é uma trilogia; o segundo é “Mundo Perdido”, ainda falta um.

Glamurama: Qual é o papel de Rubem Fonseca hoje na sua vida? Ele lê os seus livros antes de serem publicados? Mais alguém do seu círculo pessoal lê antes?
Patrícia Melo: Ele é um grande amigo, tenho muita admiração por ele. Sim, dou os meus livros para ele ler antes sempre. Também dou para o meu marido [o maestro John Neschling], para o meu enteado Pedro Neschling [ator e filho do maestro com Lucélia Santos] e para a minha enteada Rebeca Barreto [filha de Hugo Barreto, seu primeiro marido]. Eu os ouço sempre, às vezes mudo alguma coisa, às vezes não. Tenho intuições, coisas que me incomodam mas não localizo, para isso essas leituras são importantes. Tem algo interessante neste livro, a Azucena é louca por óperas e o John me ajudou muito nisso. O livro é todo pontuado por óperas. Eu já gostava, mas hoje sou uma amante de óperas, é algo muito presente na minha vida.

(Por Verrô Campos)

Siga a seta e confira alguns dos desenhos de Patrícia Melo.

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