Por Paulo Sampaio para revista Joyce Pascowitch
Patrícia Abravanel é a melhor entrevistada do mundo. Para cada pergunta, ela responde três. Basta deixá-la falar. E lá vai Patrícia! “Oiê”, saúda, ao chegar, sorrindo com todos os dentes, como o pai, o apresentador Silvio Santos. Na TV, ela se alterna nos programas Roda a Roda Jequiti, junto com ele, e Cante se Puder. No primeiro, ela e Silvio se alfinetam o tempo todo de brincadeirinha. Num dos episódios, quando ela usa o termo “vergonha alheia”, o pai diz: “Você, falando de vergonha? Você já me envergonha há muito tempo, quer ver?”. E reprisa um momento do programa Show Maravilha, de 1988, em que ela dubla a cantora Jennifer Beals ao som de Flashdance. Enquanto Patrícia-criança dança freneticamente, Patrícia-adulta aparece em um detalhe no canto da tela, com a mão na cabeça, mostrando indignação. Tida como a queridinha do apresentador, Patrícia, 35 anos, é chamada por ele de “ número 4”, já que é a quarta num total de seis filhas.
“Como você era feia, hein, Patrícia!”, provoca Silvio. “Era nada!”, ela responde, com voz de garotinha. “Não acredito no que você fez. Isso é abuso!” As participantes do programa são vendedoras e consumidoras da marca de produtos de beleza Jequiti, um dos muitos investimentos de Silvio Santos. Em 1997, ele comprou o hotel Jequitimar, na praia de Pernambuco, no Guarujá, e dez anos depois o reinaugurou totalmente repaginado. Patrícia cuida da linha de cosméticos do spa local. Formada em administração de empresas, ela se orgulha de ter criado uma solução mais em conta para fabricar as embalagens. “Fizemos frascos diferentes, ficaram incríveis”, diz. No programa Cante se Puder, que ela comanda junto com o apresentador Márcio Ballas, os participantes são submetidos aos mais diversos tipos de terrorismo. Têm de cantar, por exemplo, durante uma sessão de depilação; com uma cobra no colo; ou sendo alvo de um atirador de facas. Patrícia, sempre muito vibrante, grita como se fosse competidora. “Sou a artista que mais grava na emissora!”, comemora. Será que Silvio opina sobre a atuação dela? “Ele só dá coordenadas sobre o figurino. Não gosta de sapato plataforma ou algo muito chamativo, que distraia a atenção do telespectador.”
Coisa de pele
São por volta de 11h30 e Patrícia Abravanel está alegríssima. Será que ela acorda sempre assim? “Sempre. Dizem que a gente tem de chegar de mansinho, mas sou agitada.” Logo, alguém a senta em uma cadeira Luís 15 no antiquário onde acontecem as fotos, para maquiá-la. O primeiro assunto abordado pela entrevistada, e aquele para o qual ela volta o tempo todo, é família. A filha número 4 diz que seus pais têm “um casamento lindo”, “coisa de pele, olhar, química”. “Meu pai sempre se declara pra minha mãe, diz ‘eu te amo’, e é de verdade! Com 82 anos, ele ainda a beija. Um surpreende o outro, sabe?” Na avaliação de Patrícia, sua mãe, Iris Abravanel, que atualmente escreve a quarta novela para o SBT, Chiquititas, “é uma mulher muito forte”. “Imagina ser casada com um cara que sempre esteve rodeado de mulheres e, mesmo assim, manter a autoestima lá no alto.” Na ode ao relacionamento do casal, Patrícia conta que a mãe costumava ir para os Estados Unidos com as quatro filhas pequenas, “sem babá!”, e que Silvio até hoje a ajuda lavando a louça quando estão na casa da família em Orlando.
Iris se considera “abençoada”: “Hoje percebo que Deus já havia preparado o meu encontro com o homem que compartilharia minha vida. Nossas filhas têm como parâmetro nossa vida de casal, pois, mesmo nos momentos mais turbulentos, nosso amor sempre prevaleceu”, diz ela, que chegou a se separar do marido. Ao que tudo indica, o casal sem querer prestou à filha uma espécie de desserviço. Patrícia vive em um mundo bem mais “selvagem” do que aquele em que seus pais se conheceram, quase 40 anos atrás. “Não que eu esteja triste, mas imaginava que, com a minha idade, já teria casado e tido filhos. Sei que não vai ser fácil conseguir um casamento como o dos meus pais, mas não tenho pressa”, garante.
Em 2004, depois de tornar-se evangélica, ela se casou na Igreja Vida Nova com o empresário chileno Phillipe Carrasco. Patrícia retifica: “Não sou evangélica, sou judia-cristã”. O casamento durou seis anos. “Racionalmente, ele era o marido perfeito: amigo, companheiro, parceiro, cheio de valores. Mas acho que eu não estava legal comigo mesma.” Tempos depois, ela retomou o relacionamento com Marcos Faria, filho do banqueiro José Roberto Lamacchia, com quem tinha namorado entre os 19 e 21 anos. Marcos é ex da modelo Letícia Birkheuer e da empresária Cristiana Arcangeli. Ele e Patrícia romperam em outubro do ano passado. “Terminei gostando, mas em paz. Eu e o Marcos não podemos ficar muito juntos, sabe? É como brincar com o fogo. A gente ia se casar, mas, na hora do vai ou racha, eu rachei”, conta ela.
No momento, Patrícia garante que está solteira. E o alardeado romance com o jogador de futebol Pato? “Nunca nem sequer o vi na vida. Só jogando, em um estádio na Suécia. Fui assistir ao jogo com meu pai.” Em relação a fofocas, ela afirma que segue o conselho de SS: “Ele sempre me diz: ‘Relaxa, minha filha, não vai alimentar a mídia.” Patrícia conta que não tem saído, nem se exposto a situações em que poderia encontrar algum pretendente. “Não sou de procurar, não é a minha.” Pelo sim, pelo não, revela: “Os mais novos não têm nada a ver comigo. Gosto dos acima de 38. Se puder, 40 ou mais”.
A Gente Não é Nada
Sempre positiva, Patrícia Abravanel repete feliz da vida que está “em processo de transformação”. Historicamente, mesmo em situações adversas, ela procura “perseverar”. Em 2001, quando foi sequestrada, declarou que o tempo no cativeiro foi tranquilo e, ao lado do pai, na sacada do casarão da família, no Morumbi (zona sul de SP), sugeriu: “Deveríamos amar nossos sequestradores!”. Ela diz que o episódio a fez perceber que “a gente não é nada, Deus é tudo e a vida é muito frágil”. No dia em que Patrícia foi libertada do cativeiro, o artista plástico paulistano Ricardo de Castro, que assistia à cena pela TV, teve uma epifania: “A Abravanel abravanou!”. Surgia ali o manifesto abravanista, abraçado por artistas como a cantora Cibelle, o make-up artist Lau Neves e o estilista Dudu Bertholini. O abravanismo, ou abravanation, celebra o amor, a liberdade e o positivismo. “Influenciar moda e comportamento é sempre algo positivo, pois comprova uma força de expressão e atitude. Sou realmente uma pessoa que não me paraliso com as adversidades da vida”, diz Patrícia sobre o movimento. Castro ressalva que não sabe nada sobre Patrícia, nem acompanha a carreira dela. “Aquele episódio serviu apenas como catalisador de algo positivo que já existia dentro de mim. Eu pensei: ‘Nossa, incrível, ela está transmutando!’.”
Apesar de abravanar constantemente, Patrícia não é assim tão desencanada. Antes de posar para as fotos que ilustram estas páginas, ela parece preocupada. Diz que prefere comer apenas depois da sessão, para não ficar “estufada”. A produção explica que tem salada. “Salada incha a barriga”, acredita. Para aprontá-la, levam-na para o terceiro andar do sobrado onde funciona o antiquário. Lá, ela coloca um vestido Letage, um trench coat Boss e sapato alto Dior. “Tô achando ótimo, adoro aprender! Mas vocês têm de me dirigir! Ai, que divertido!”, repete, em meio a exclamações como: “Relaxa, Patrícia, seja você mesma!”.
Zara e Valentino
Para se vestir, Patrícia pessoa física se diz muito básica. “Gosto de remar contra a maré. Quanto mais elas [a maioria das mulheres] mostram, mais eu escondo”, diz ela, que chegou usando uma blusa “de alguma daquelas lojas de departamentos americanas, talvez a Neiman Marcus”, calça Zara comprada pelo stylist dela no SBT, Douglas, e sapatilha Valentino que trouxe de uma viagem. Visitar países que não conhece, e voltar aos que mais gosta, é seu programa favorito. Do carnaval de 2012 para cá, ela esteve na Rússia, Suécia (“amei”), Dinamarca, Nova Zelândia, Áustria e parte da África. “Não é coisa que eu diria para uma revista popular”, afirma, querendo dizer que não gosta de se ostentar. Graças a uma criação que ela classifica como “sem excessos”, Patrícia se sente à vontade para trafegar em qualquer classe social. Na avaliação dela, “a elite ainda não entende o que é TV, não consome direito”. “Você tem de se despojar, entende? É um veículo para a massa. E eu me orgulho de trabalhar ali. Se não estivesse na TV, não teria a oportunidade de ir ao piscinão de Ramos (no subúrbio carioca, onde gravou um programa).”
Essa nova experiência com “as classes D e E” aproximou-a de um mundo pelo qual parece agora maravilhada. “Sou quase o povo. Eu amo o povo. O Ratinho é o máximo! Você viu esse episódio do Bolsa Família? Em que noticiaram que ia acabar? Eles foram atrás, é uma evolução! É isso mesmo: não pode ter medo de autoridade! Se aparece alguém com dinheiro, não tem de ter medo! Tem de falar!” Ao aconselhar os desafortunados a não temer os endinheirados, Patrícia desperta na reportagem a lembrança de que seu pai entrou na lista dos homens mais ricos do mundo. Três anos atrás, o mesmo Silvio Santos saiu sem um arranhão da fraude de R$ 4,3 bilhões do Banco PanAmericano. E como será que ele reagiu, em casa, quando o escândalo do banco estourou? Patrícia resiste, mas acaba dizendo que seu pai “saiu de tudo muito mais generoso”. “Meu pai enfrentou tudo com a força de um leão. Passou para a gente muita segurança, jamais esmoreceu. Nessas horas, é um privilégio ter um pai mais velho, sabia?” Patrícia parece ter gana de conhecimento. Diz que se informa lendo os jornais todos os dias. “Quer ver? Hoje a manchete foi…”. Leva um tempinho e, de repente: “Lembrei! Tinha Alckmin! Sobre a controvérsia do bônus aos policiais que reduzirem a criminalidade!”. O tom é o de quem acaba de acertar um dos jogos de adivinhação de Roda a Roda Jequiti. “Eu tenho muita opinião sobre tudo!” E haja opinião!
*Assista ao vídeo do making of do ensaio de Patricia Abravanel.
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