Paleta de cores nostálgicas, takes calculados, estética dos anos 60 e 70: o fascinante e visualmente inesquecível cinema teatral de Wes Anderson

Wes Anderson || Créditos: Getty Images

Por Ana Elisa Meyer para revista J.P

A primeira coisa que nos salta aos olhos diante de um filme de Wes Anderson, com certeza, é a vibração das cores. A habilidade de trabalhar com paletas específicas em cada uma de suas obras nos mostra que estamos diante de algo visualmente único e sedutor. Mas um outro traço tão forte quanto a exuberância do colorido que completa o universo fascinante de seus longas-metragens é a simetria. Em parceria com Robert Yeoman, diretor de fotografia que está em todos os seus filmes, exceto nas animações, ele faz uma medição física para determinar o centro geométrico de todas as cenas, deixando tudo milimetricamente alinhado – assim como Stanley Kubrick fazia –, antes de começar as gravações. O modo como filma longas tomadas também é algo bem característico. As câmeras passeiam pelos cenários junto com os atores – que sempre se movem em linha reta, nunca em diagonal –, permitindo que os diálogos sejam desenvolvidos completamente, demonstram a intencionalidade de compor imagens teatrais. Nada é por acaso. E tudo é composição em sua obra.

Nascido em 1969 em Houston, no Texas, Wes Anderson fez diversos filmes mudos na juventude até dirigir seu primeiro curta, Bottle Rocket, em 1992, que foi selecionado para o Festival de Sundance, impulsionando sua entrada profissional no cinema. Seu longa de estreia, Pura Adrenalina, de 1996, foi indicado como um dos dez melhores filmes da década de 1990 pelo diretor Martin Scorsese. A partir daí, sua carreira deslanchou em grande estilo. Marcado pela separação dos pais quando tinha 8 anos, Anderson explora bastante esse trauma em suas produções, mostrando que muitos dos transtornos dos personagens são originados por problemas vindos da infância e do interior de relações familiares. Esse é um aspecto bem usado em seu primeiro grande sucesso de bilheteria, Os Excêntricos Tenenbaums, lançado em 2001. Com roteiro escrito pelo diretor em parceria com Owen Wilson, seu colega de quarto na faculdade e amigo da vida toda, o filme, que traz um elenco brilhante, retrata uma família com dificuldade de demonstrar afeto e faz uma crítica sarcástica ao que chamamos de “dar certo na vida”. Nos longas A Vida Marinha com Steve Zissou (2004), que homenageia o oceanógrafo e documentarista Jacques-Yves Cousteau, e Viagem a Darjeeling (2007), um road movie sobre reconciliação e redenção, ele coloca em cena personagens cuja principal característica é o distanciamento emocional. É dentro de famílias disfuncionais que o diretor desenvolve suas tramas. As relações conflituosas entre os membros produzem cenas fortes, que tanto podem ser dramáticas como cômicas.

As cores tão presentes possuem uma função clara: revelam elementos psicológicos dos personagens. Assim, cada filme tem sua própria linguagem cromática, com um tom predominante e outros que o acompanham. Na animação em stop motion O Fantástico Sr. Raposo (2009), adaptação da fábula Raposas e Fazendeiros, do escritor britânico Roald Dahl, tal como em Moonrise King dom (2012), que retrata um universo pré-adolescente e a perda da inocência, segundo o diretor, predominam tons terrosos e amarelos. Já no seu penúltimo filme, O Grande Hotel Budapeste, de 2014, ambientado em três diferentes décadas, cada período ganhou seu próprio esquema de cores sempre permeados por um constante rosa.

Assistir a um trabalho de Wes Anderson nos faz entrar em um mundo completamente diferente do nosso, com sua visão muito particular e levemente fantástica do mundo e do cinema.

UNIVERSO WES ANDERSON

Na galeria, um guia para ficar por dentro da estética do cineasta e do universo construído ao redor de seus filmes – é possível até se hospedar em uma casa decorada ao estilo Wes Anderson, além de uma seleção inspirada no mundo fantástico do diretor. Só seguir a seta!

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