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Romero Rodrigues
Rodrigues tem o que ele chama de três C: competência, condições e coragem – além de ser um agente de transformação

O lançamento da revista PODER de agosto, nesta terça-feira, em São Paulo, vai contar com a presença do idealizador do Buscapé, Romero Rodrigues, e capa desta edição. O evento vai acontecer às 20h, para convidados, na recém-inaugurada Barbearia Corleone, no Itaim Bibi, e será o primeiro de muitos que a revista vai organizar em São Paulo, para aproximar nomes importantes do business brasileiro. Confira abaixo, na íntegra, a entrevista com Romero Rodrigues para a PODER.

Quer pagar QUANTO?

por Bruna Narcizo e fotos de Roberto Setton

Em 2009, ao liderar o maior negócio realizado na internet brasileira depois do estouro da bolha, no final da década de 1990, Romero Rodrigues tratou de realizar um sonho e comprou um Ford Mustang Fastback 1969. Na época, Rodrigues passou, para o grupo sul-africano Naspers, 91% de participação do Buscapé – nesse bolo, entraram a fatia do fundo americano Great Hill Partners, então sócio majoritário da empresa, e as ações de cinco dos nove sócios minoritários.

Mesmo não tendo embolsado o total da transação – que foi de US$ 342 milhões – e de não revelar quanto ganhou na época, para alguém com 31 anos, o montante certamente significava sombra e água fresca para Rodrigues, seus filhos e netos. Acontece que parar de trabalhar nunca passou pela cabeça dele, que hoje tem 36 anos. “Grandes empresários, artistas e pensadores e todos aqueles que resolveram não se aposentar vivem mais. É uma boa receita de longevidade. O que me motiva a trabalhar é estar apaixonado pelo que faço”, conta ele, que, mesmo depois da venda, permaneceu como sócio e CEO da Buscapé Company. No início deste ano, a companhia incorporou 13 sites de comparação de preços da Europa e da África e se tornou a maior do mundo no segmento. Com isso, Rodrigues foi promovido a CEO global de comparação de preços do Naspers e passa pelo menos metade de seu tempo em viagens para fora do país. “É uma das poucas, senão a única empresa digital brasileira, a se tornar líder nesse mercado”, conta.

Na Mosca

Gostar muito do que faz é uma das principais características desse paulistano. Seus olhos brilham quando fala sobre o negócio que fundou, em 1998, ao lado de três amigos, enquanto ainda cursava engenharia na Escola Politécnica, da Universidade de São Paulo (Poli-USP). Outra de suas paixões é apostar em novos empreendedores, como investidor-anjo. Hoje, ele é sócio de nada menos do que 12 start-ups. “Mais do que uma forma de investir e de ter algum retorno financeiro, é também uma maneira de aprender. Já fiz cursos na Poli e em Harvard, mas considero essa efervescência de ideias o meu MBA”, explica. Para Rodrigues, descobrir soluções de problemas, que fogem do conhecimento acadêmico, é uma forma de se expor a desafios e de conhecer outras linhas de raciocínio.

O perfil de procurar saídas e novos modelos de negócio faz parte de sua vida desde os tempos de colégio, quando passava os intervalos das aulas trocando disquetes com os amigos. Várias vezes, ele deixou de lado as namoradas e as baladas de sábado para ficar em casa trabalhando. “Minha mãe chegou a comentar com uma amiga que estava preocupada porque ‘o Romerinho passa tempo demais no computador’”, lembra. Ele agia assim porque acreditava que, para ser seu próprio chefe, era mais fácil empreender na área de tecnologia, já que não é necessário fazer um grande investimento inicial. Depois de fracassar em suas primeiras empresas, ele e os amigos Rodrigo, Ronaldo e Mário tiveram a ideia de criar o site de comparação de preços. “O Buscapé morreu muitas vezes ao longo do processo. Saber fracassar é importante para saber ter sucesso”, diz Rodrigues.

Oceano Azul

A chamada cultura de fracassos, no entanto, não é tão facilmente aplicável em qualquer setor da economia. É mais fácil associá-la aos negócios da internet. Silvio Meira, professor titular de engenharia de software da Universidade Federal de Pernambuco e da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, acredita que esse seja o principal motivo para a área de tecnologia ser tão fértil de novas ideias. “Ao contrário dos setores de petroquímica, de fármacos ou da indústria em geral, os empreendimentos que dependem de insumos da internet são muito baratos e dá para todos sentirem o prazer de tentar, errar e, eventualmente, conseguir”, explica Meira, um dos profissionais mais reconhecidos do mercado de tecnologia da informação no Brasil.

O perfil inovador de Rodrigues fez com que ele intuitivamente seguisse o que se chama de A Estratégia do Oceano Azul – título do livro escrito por W. Chan Kim e Renée Mauborgne (Campus), que mostra a importância de investir em mercados inexplorados. Rodrigues, aliás, só foi ler o livro anos depois de fundar o Buscapé. “Ele é o tipo de pessoa que quer fazer a diferença na sociedade e que enxerga coisas onde os outros não enxergam”, explica Robert Wong, headhunter e CEO da Robert Wong Consultoria Executiva. Para Wong, além de visionário, Rodrigues tem o que ele chama de três C: competência, condições e coragem – além de ser um agente de transformação. “Transformar é diferente de mudar. Mudança tem a ver com uma nova forma de agir. Transformação é uma coisa mais profunda, é uma nova forma de ser.”

Desligado 

Apesar de trabalhar com tecnologia, Rodrigues passa longe do estereótipo de nerd. Mesmo quando entrou na faculdade de engenharia elétrica com ênfase em informática, em um dos vestibulares mais disputados do país, já mostrava que, além de seus cabelos cacheados, o jeitão desligado destoava do perfil de seus colegas da Poli. É com humor que Ronaldo Takahashi, um dos fundadores do Buscapé, descreve o dia em que se conheceram. Takahashi estava no ônibus a caminho da Cidade Universitária, o campus da USP, quando Rodrigues entrou. Ao ver um japonês careca com a camiseta da faculdade, ele deduziu que estavam indo para o mesmo lugar. “Você vai para a Poli?”, perguntou. “Como é o primeiro dia de aula, podemos ir juntos?” Acontece que o início das aulas fora há 15 dias. Os dois começaram a conversar e se perderam ao chegar ao prédio da engenharia. “Metade dos alunos da Poli é oriental. Ao entrar na multidão, eu sumi. Uns três dias depois, o Romero me vê e diz: ‘Ronaldo, é você? Eu o perdi de vista e passei a seguir outro japonês, que começou a me olhar com a cara amarrada. Agora que me toquei que entrei na sala errada’”, conta. Até hoje, a história é motivo de muitas risadas para a dupla.

Mas os dias de confusão ficaram para trás. Entre os sócios, Rodrigues sempre foi o mais articulado e carismático. “Das pessoas com quem já trabalhei, ele é o mais completo. É como se eu tivesse tido a oportunidade de jogar a Copa do Mundo de 1970 ao lado de Pelé. O Romero é muito forte na parte técnica e de produto e também tem uma comunicação e uma liderança impressionantes”, elogia Mário Letelier, outro fundador do Buscapé. Quando a empresa começou a se profissionalizar e os sócios resolveram eleger um CEO, o nome de Rodrigues foi escolhido por unanimidade – inclusive por ele mesmo – em uma reunião que durou menos de cinco minutos.

A desenvoltura de Rodrigues diante das câmeras e microfones da imprensa ou de uma plateia durante uma apresentação é considerada por seus amigos um dom natural. Outro fator importante para o sucesso do Buscapé é a maturidade com que os jovens empreendedores lidavam com os problemas do dia a dia. “O relacionamento sempre foi racional. Lógico que houve momentos difíceis que se refletiram nas relações pessoais. Mas quando existia alguma divergência, sempre decidíamos pelo que fazia mais sentido”, diz Rodrigo Borges, o outro sócio.

De Degrau em Degrau

Para uma empresa criada um ano antes do estouro da bolha da internet, o Buscapé precisou de muito planejamento para se manter ativo e na liderança de mercado. Um dos planos traçados foi a fusão com um dos principais concorrentes, o Bondfaro. “Em 2005, os comparadores de preço passaram a ser a bola da vez e começamos a conversar com alguns players interessados em comprar ou fundir”, conta Rodrigo Guarino, fundador do Bondfaro e hoje um dos sócios da Buscapé Company. Em 2006, Guarino e seus sócios receberam uma ligação de Rodrigues. “Sentamos com ele e de cara a coisa fez muito sentido. Em três meses, fechamos negócio”, diz ele, que é o único dos sócios, além de Rodrigues, que permanece na Buscapé Company, como diretor de R&DI, sigla para pesquisa e desenvolvimento de informática.

Depois da fusão, uma parte da equipe do Bondfaro saiu do Buscapé. Alguns membros desse time lançaram, em 2011, o Zoom, considerado um dos principais concorrentes nacionais da empresa de Rodrigues. Com uma estratégia agressiva e propagandas na televisão aberta, o site já atingiu o patamar de 15 milhões de visitas por mês. “Não temos contato com o Romero. Estudamos o mercado de e-commerce, que possui 50 milhões de compradores. Sempre soubemos do tamanho do Buscapé, mas queríamos trazer um diferencial”, explica Thiago Flores, diretor-executivo do Zoom, que criou o Zoom Garante – serviço que reembolsa o consumidor em até R$ 3 mil, caso ele não receba o produto que comprou.

A concorrência, no entanto, não tira o sono de Rodrigues – ao contrário. Ele é dos que acredita que empresas de internet acabam colaborando entre si, mesmo quando são competidoras. Isso porque o empreendedor digital tem uma necessidade de ruptura e um lado colaborativo diferente dos empreendedores tradicionais. Além disso, Rodrigues afirma que é muito feliz e realizado com a carreira profissional. “Do mesmo jeito que eu não esperava que tudo isso acontecesse nos últimos cinco anos, eu também não sei o que está por vir”, diz, animado.

Bom para Casar 

Bonito, jovem e bem-sucedido, Rodrigues é o tipo de genro que toda mãe sonha ter. Faz ioga duas vezes por semana, às 6h da manhã, com uma professora particular em seu apartamento, nos Jardins, em São Paulo, fica no escritório das 9h às 20h e passa os fins de semana em sua casa de praia em um condomínio no Guarujá, no litoral sul de São Paulo. Lá, ele aproveita para praticar stand-up paddle e também está aprendendo a surfar. Apesar do dinheiro e do Mustang Fastback 1969 – um de seus poucos luxos, diga-se de passagem – ele é taxativo ao afirmar que seu estilo de vida é dos mais tranquilos. “Alguns amigos têm avião, cinco casas e motorista. Eu tenho meu apartamento e uma diarista duas vezes por semana. Vivo em um mundo em que o direito de uso é mais importante do que o direito de posse”, comenta.

No campo amoroso, Rodrigues confessa que não é de ficar muito tempo solteiro. “Gosto de coisas que são boas para fazer acompanhado. Como ir ao cinema, viajar, frequentar restaurantes e beber bons vinhos”, conta ele, que está namorando depois de passar nove meses sozinho. Entre os planos do casal está uma viagem para Fernando de Noronha e outra para o Sudeste Asiático.

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