Nos anos 1970, um grupo de pioneiras mudou-se de malas e cuias para viver na Flórida, numa comunidade perto da praia, batizada de “Pagoda”. O que elas tinham em comum? O gosto por mulheres. No calor do feminismo, formaram uma comunidade onde os homens não eram bem-vindos, a ponto de uma simples visita de um menino à sua terra santa ser motivo de debates acalorados. Essa é a história que Sarah Kershaw conta no “The New York Times” de 30 de janeiro.
Em 1997 a comunidade transferiu-se para o Alabama e mudou o nome para Alapine. Suas integrantes, atualmente na faixa etária entre 50 e 75 anos, agora estão se agilizando para levantar dinheiro e construir ali uma espécie de asilo, onde poderão ser cuidadas, quando as dificuldades da velhice baterem à sua porta.
Alapine, com suas 20 habitantes, é uma entre aproximadamente 100 comunidades lésbicas nos EUA, e está entre as de densidade demográfica mais alta. Sim, o que era revolução nos anos 1970, agora é um hábito fora de moda. Aparentemente novas lesbian-chic não estão dispostas a trocar a badalação das grandes cidades com seus bares, restaurantes, lojas e boates, por uma vida restrita a um pacato círculo de mulheres. Realmente, para quem não tem mais a necessidade de esconder suas preferências sexuais, e vive numa época em que basta ligar a TV para ver sua identidade reforçada na série “The L Word”, onde o lesbianismo é tratado com respeito, competência e glamour Hollywoodiano, qual o sentido de se enfiar numa casinha no meio do mato para viver com seus pares? Mas para as senhoras de Alapine, que durante muito tempo tiveram que esconder seus relacionamentos, e inclusive casar-se com homens, viver em pequenas casas ou trailers em ruas com nomes de deusas, como Diana, ainda é uma espécie de paraíso terrestre.
O cotidiano dessas mulheres é simples. Elas se reúnem em jantares de adesão, para ver filmes, jogar, e em cerimônias onde homenageiam a lua cheia, onde cantam, lêem poemas e discutem astrologia. Sua preocupação agora é atrair jovens, antes que a comunidade entre em extinção.
Fora as 20 mulheres que vivem por lá, outras 15 possuem terras no local e têm planos de construir uma casa de veraneio ou mudar-se depois de aposentadas. Um terreno de aproximadamente 9 mil metros quadrados custa U$ 25 mil, e ainda existem 7 à venda. Um dos obstáculos para atrair jovens lésbicas é a falta de trabalho, uma vez que a comunidade fica distante dos centros urbanos, onde estão os empregos; além da radicalidade dos estatutos do lugar. Veja bem: homens, mesmo os bebês, são permitidos apenas como visitantes temporários, assim como mulheres heterossexuais, bissexuais e transexuais também não podem fixar residência. Fato que coloca as senhoras de Alapine numa sinuca de bico: elas afirmam sua necessidade de viver longe do “mundo dos homens” com toda convicção, e esse pensamento separatista pode vir a acabar com o seu Éden.
Por Luciana Pessanha