As redes sociais definitivamente mudaram a forma como vemos o mundo, porém nem sempre para a melhor. Colunista de comportamento do “The Guardian”, Bella Mackie publicou um texto há cerca de um mês no qual defende a tese de que o Instagram tornou obrigatório que certos lugares como restaurantes e museus sejam acima de
tudo fotogênicos e não necessariamente pontos de referência naquilo que deveriam oferecer – no caso, comida boa e arte digna de ser apreciada, respectivamente. “Ao focarmos em um mundo visto de uma telinha, estamos perdendo o quadro maior?”, a jornalista inglesa questiona em sua análise.
Mackie citou como exemplo um problema recente que tem tirado o sono dos donos do El Sobrino de Botín, o restaurante que é considerado mais antigo do mundo e foi aberto em 1725 em Madri, capital da Espanha. Super famoso e bem frequentado (Ernest Hemingway era cliente assíduo), o hotspot não anda agrandando certos viajantes
contemporâneos que não conseguem se posicionar bem em seu interior modesto na hora de posar para uma selfie. No site de viagens “TripAdvisor”, o restô famoso por servir um dos melhores leitões assados da Europa é descrito simplesmente como “apertado e com escadas estreitas”.
Sem surpresas, esse tipo de estabelecimento cuja origem data de outros séculos é bastante comum no velho continente, e sempre foi um de seus maiores charmes. Mas nesses tempos de Insta a história perdeu um pouco de importância para o design, que precisa ser perfeito a fim de render bons cliques. Cheia de ruas medievais, Londres também tem feito o possível para se adaptar a essa nova demanda, e muitos cafés de lá, sobretudo os localizados na região central da cidade, estão sendo redecorados exclusivamente para ficarem “”instagramáveis”.
Até o Louvre, que já é o museu mais fotografado do mundo, aderiu a essa moda. Por causa do videoclipe que Beyoncé Knowles e Jay Z filmaram lá, o ponto turístico que está entre os mais visitados de Paris criou recentemente um tour baseado no filminho, no qual seus visitantes podem tirar fotos nos mesmos ângulos usados pelo casal número um da música e postá-las imediatamente na internet. Parece divertido, mas a maioria deles só presta atenção nas obras icônicas que vê em sua frente durante alguns segundos, e logo parte em busca do melhor enquadramento para a próxima.
Algo parecido aconteceu em Los Angeles no ano passado, durante a inauguração de uma exposição da artista japonesa Yayoi Kusama. Aos 89 anos e em plena atividade, ela é uma das papisas das instalações e ativa também na moda e na literatura. Mas o que fez os ingressos para a mostra da veterana batizada “Infinity Mirros” e exibida no museu contemporâneo The Broad de LA se esgotarem em questão de horas não foi esse currículo, mas sim as “salas espelhadas” que atraíram influencers ávidos por registrar a foto perfeita. “Estamos rejeitando a beleza que nos cerca e só nos preocupamos em mexer nos filtros”, Mackie argumenta. É ou não é? (Por Anderson Antunes)