O inicio da onda de caretice

Os anos 1960 fizeram a Revolução Sexual. Na década de 1970, as pessoas transavam com liberdade total: as mulheres não corriam mais o risco de engravidar, camisinha virou coisa do passado, era tempo de fazer experiências sensoriais, homossexuais, pansexuais etc. Todo mundo alegre e contente transando loucamente. Até que nos anos 1980 chegou a conta. Uma conta que ninguém previa nem imaginava, que apareceu na forma de uma doença desconhecida, sexualmente transmissível, que atacou os gays num primeiro momento, e acabou literalmente com a alegria das pessoas.

 

Se hoje alguém que transa sem camisinha é louco, na época era apenas uma pessoa normal, usufruindo da sua sexualidade. Agora imagine o susto e o medo, sem falar nas consequências mais graves que o aparecimento da AIDS causou. É disso que trata o filme “As Testemunhas”, 2007, de Andre Téchiné, em cartaz no Rio de Janeiro.O ano é 1984, Manu, interpretado por Johan Libéreau, um jovem do interior da França, chega a Paris para viver com a irmã, Julie – Julie Depardieu – uma professora de canto lírico. Logo de saída, num parque, conhece Adrién – o sempre excelente Michel Blanc -, um médico gay de meia idade. Adrién apresenta Manu à sua amiga Sarah – Emmanuelle Béart -, uma escritora que acaba de ter um bebê e está em meio a um bloqueio criativo. Sarah é casada com Mehdi – Sami Bouajila – um policial muçulmano. Manu e Mehdi começam a ter um caso e o triângulo está formado. Como é um filme francês, o conflito não começa aí, e sim quando Manu aparece doente.

 

Através da história desses personagens o filme mostra como a AIDS surpreendeu o mundo inteiro, castigou pessoas que não tinham idéia de que um dia teriam que pagar um preço injusto por sua liberdade, e trouxe uma onda de moralismo, que acabou mudando os padrões de comportamento da sociedade, fazendo com que os limites se tornassem mais claros e necessários. Vale registrar que, por ter sido a primeira a ser atingida, a comunidade gay se conscientizou rapidamente da situação, e, sem deixar de desfrutar de sua liberdade, deixou de ser grupo de risco em poucos anos. Hoje, estatisticamente, esse papel é das mulheres casadas, como Sarah, de “As Testemunhas”.

Por Luciana Pessanha

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