O fôlego que falta a todos nós

O diretor coreano Kim Ki-duk, consegue a proeza de, mesmo sendo rejeitado por público e crítica em seu país, fazer um filme por ano, há 12 anos. São dele: “Primavera, Verão, Outono, Inverno e Primavera”, “Casa Vazia” e “Time – O amor contra a passagem do tempo”. Queridinho dos festivais de Cannes, Veneza e Berlim, ele agora aparece com “Fôlego”, 2007, lançado por aqui em DVD, recentemente. O filme não é tão bom quanto os anteriores, mas ainda assim tem a sua marca: planos belíssimos, poucas palavras, pessoas e relações complexas e muita delicadeza, uma espécie de artigo de luxo nos nossos tempos.

 

Yeon, uma dona de casa vivida por Park Ji-a, tem um casamento onde não há mais nem as trocas de palavras básicas, e passa seus dias fazendo esculturas e vendo televisão. Até o momento em que é capturada pela notícia de que um assassino condenado à morte, Jin Jang, vivido por Chen Chang, tentou se suicidar. A partir deste momento, fica obcecada por este homem e resolve conhecê-lo. Fazendo-se passar por uma ex-namorada, Yeon vai à prisão conhecer Jin Jang. Proibida inicialmente de entrar, sua imagem fascina o diretor do presídio, que a vê pelas câmeras de segurança e, a partir deste momento, passa a monitorar os encontros de Yeon com Jin Jang, como num Big Brother do cárcere. Vivido por Kim Ki-duk, que só é visto de relance, através do reflexo do seu monitor, é esse diretor do presídio quem define o tempo dos encontros e regula a sua intensidade.

 

A poesia fica por conta da decisão de Yeon de fazer o pouco tempo que resta a Jin Jang, se estender. Assim, a cada visita ela simula uma estação do ano, com figurino, cenário e trilha sonora específicos. Suas cenas de canto são patéticas e absolutamente cafonas, o que cria um clima hilário e, por esse motivo, comovente. É emocionante ver como uma mulher emocionalmente morta redescobre a vida através de sua necessidade de dar sentido aos últimos dias de outra pessoa. “Fôlego” tem ainda um outro núcleo bastante teatral, o da cela, com mais 3 presidiários, entre eles um amante rejeitado de Jin Jang, que não se conforma com o novo amor do parceiro. Vale observar a forma como cada um dos personagens da trama lida com o seu desejo e com a morte. Mesmo fazendo um filme por ano, mesmo não acertando em cheio em todos eles, Kim Ki-duk tem sempre alguma coisa interessante a nos dizer, ou melhor, mostrar, já que seus filmes chegam a lugares extremamente delicados, quase sem palavras.

Por Luciana Pessanha

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