A compra da 20th Century Fox pela The Walt Disney Company criou um impasse inusitado para a dona de personagens como o Mickey Mouse, que se autointitula “um negócio para a família” nos Estados Unidos: há anos sem permitir que cigarros apareçam em suas produções, a gigante de mídia ainda não decidiu se deve estender a regra ao estúdio, pelo qual pagou US$ 52,4 bilhões (R$ 181,4 bilhões) no fim do ano passado.
Pode parecer um detalhe, mas vale lembrar que um dos principais produtos da Fox – a decana série “Os Simpsons” – tem vários personagens que fumam, inclusive uma das irmãs de Marge Simpson, Selma Bouvier, e uma vez até desenvolveu um episódio inteiro sobre uma variedade de tomate cruzado com nicotina batizado “tomacco”. Isso sem falar em franquias como “Avatar” e “X-Men”, ambas também da Fox e cheias de fumantes.
CEO da Disney, Bob Iger decidiu em 2015 banir os fumacinhas dos filmes, séries e afins que a empresa produziu desde então e em todas suas subsidiárias, o que inclui a Marvel, a Pixar e a Lucas Film (“Guerra nas Estrelas”). Na época, o executivo recebeu uma carta assinada por 46 ativistas antitabagismo, sendo vários membros de entidades religiosas com ações da Disney agindo em conjunto, clamando pela proibição que eventualmente acatou.
Nos EUA, esses grupos são conhecidos como “faith-based shareholders”, e estão cada vez mais se unindo para investir em pequenas fatias de grandes empresas de capital aberto para pressioná-las a acatar suas ideias. E olha que no momento o problema se restringe aos cigarros: imagina quando chegar nos palavrões de “Deadpool”, maior hit da Fox em 2016, com mais de US$ 783 milhões (R$ 2,71 bilhões) em ingressos vendidos? (Por Anderson Antunes)