Fernanda Lima sobre os filhos: “Não tem esse papo de ‘engole o choro’”

Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert || Créditos: Reprodução/ Instagram

Fernanda Lima tem tanto a dizer. E disse. Prestes a voltar com seu bem-sucedido “Amor & Sexo” – são quase 10 anos no ar, na Globo – ela falou que nesse tempo aprendeu muitas coisas, como… “Não adianta pensar: ‘Ah, eu sou dele, ele é meu, a gente se ama, só vou olhar pra ele e ele só vai olhar pra mim’. Não, querida, acorda. A gente precisa estar preparado para todo tipo de onda que pintar na nossa vida sem necessariamente se separar”. Sim, ela comentou que vive uma relação conservadora, mas tem refletido sobre monogamia. Também disse que “gaúchos são mais reprimidos sexualmente e não tenho como me desvincular das minhas origens”. O papo foi sincero nesse grau.

Filhos? Também foram pauta. A apresentadora explicou que deixou o Brasil para oferecer para seus gêmeos um ensino “não formal”, “sem quadro negro”. Contou como fala de sexo com eles e qual o foco da educação que dá aos dois, especialmente por serem meninos, para ajudar na luta contra o machismo: “Os meus meninos vão costurar, sim. Eles usam rosa, sim, e choram, sim”. Fernanda ainda falou sobre situações de assédio que enfrentou ao sair de casa com 14 anos. “Sempre soube dos perigos que corria, mas ainda assim a gente às vezes cai em armadilhas”. Falamos até sobre os conselhos que ela deu a Pabllo Vittar quando a cantora, ainda desconhecida, entrou no programa. “Paga tuas contas, não te endivida, não briga com ninguém, não compra briga, não aceita desaforo. Não vai namorar, pegar homem… Foca na tua história”. Vem ler a entrevista completa aqui embaixo! (por Michelle Licory)

Fernanda Lima || Créditos: Reprodução/ Instagram

Como manter o frescor de “Amor & Sexo”

“A pergunta de um milhão de dólares. Na verdade, é labuta mesmo. A gente tem que estudar muito, acompanhar os materiais literários que estão saindo… Assuntos que são novos no mundo de fato. A gente não falava de relação aberta, de transição de gênero, de sexo sem amor… Na época da minha mãe casada com meu pai não se falava em divórcio. É a mesma coisa. O tempo não para. A gente precisa estar atento e forte. A gente tem que se informar para poder colocar esses assuntos, às vezes densos e delicados, em uma linguagem para a TV, que as pessoas entendam e assimilem. E que seja leve, que divirta, uma receita que agrade, mas que não fuja do tema”. Toda temporada Fernanda diz que é a última… “Agora nem falo mais do fim. Se for pra rolar, rola. Se não, acabou e pronto”.

Como o programa mudou a Fernanda na intimidade, em casa, com o marido 

Perguntamos de que forma o que aprende e discute no trabalho mudou seu casamento. “Os relacionamentos precisam ser revistos. A gente vive numa sociedade mais democrática também no sentido de que você não precisa mais ter o telefone do seu ‘crush’. Você pode mandar um direct pelo Instagram. São mudanças muito radicais e é importante levar em conta essas ferramentas que fazem o mundo mudar – e por que ele está mudando tão rápido. São muitas questões só sobre relacionamento, muitas possibilidades de se relacionar. São muitas chances de colocar o relacionamento na mesa de jantar, abrir a história, conversar, pensar como vai ser se caso… né… Não adianta pensar: ‘Ah, eu sou dele, ele é meu, a gente se ama, só vou olhar pra ele e ele só vai olhar pra mim’ [diz fazendo voz de menininha] e a gente vai vivendo assim até os 90 anos’. Não, querida, acorda. O mundo mudou e a gente precisa estar preparado para todo tipo de onda que pintar na nossa vida sem necessariamente se separar ou algo mais radical”.

Relacionamento aberto

Encararia um relacionamento aberto? “Eu? [risos] Sou ciumenta. Tenho 40 anos, né? Não tenho 20. Acredito que quem tem 20 hoje já lide de uma outra maneira. Eu ainda estou presa a modelos um pouco mais antigos de relação, então sinto ciúmes, tenho um casamento monogâmico, mas venho refletindo muito e tentando entender como eu posso ser melhor nesse mundo de hoje”.

“Hoje eu falo: ‘Você olhou!’ Sabe? Coisas que jamais falaria”

“Tenho uma relação conservadora monogâmica, mas de muito diálogo. Hoje tenho muito diálogo. Quando a gente tinha os nossos 20, não falava sobre nada disso. Eu não falava e o Rodrigo menos ainda. Quando eu conheci o Rodrigo, ele nem falava. Depois ele começou a perder a timidez. Estamos há um monte de tempo juntos. A gente mudou muito e hoje conversa. Claro que tem assuntos mais difíceis. Antes eu sentia alguma coisa e ficava quieta. Hoje eu falo: ‘Senti isso’ ou ‘você olhou!’ Sabe? Coisas que jamais falaria. Sobre sexo a mesma coisa. Acho que a gente está aqui sempre… Quem tem vida sexual ativa tem que estar sempre tentando melhorar, mas aí perguntam o que a gente faz para apimentar. Gente, somos casados, dormimos todo dia de pijama juntos, acorda, olha pro outro… Não tem muita ‘apimentação’ de relação. A gente tem que ter sonhos juntos, se valorizar, se gostar, se sentir bem com o outro, olhar no olho, beijar na boca, abraçar, ficar junto, querer estar junto. Não tem muito segredo. Mas a gente tenta, com o diálogo, aprofundar nosso casamento”.

“Rejeitada, abusada, esculachada”

De que forma Fernanda percebe, de fato, a relevância do programa? “Eu, mais do que ninguém, recebo um feedback direto. No aeroporto, no supermercado… As pessoas tem um approach bem íntimo comigo, já que entro na casa delas falando essas coisas. Se sentem no direito de ‘ah, Fernanda, deixa eu te contar!’. Então vejo que o programa tem, sim, um impacto muito grande. Muita gente não consegue ter nenhum diálogo sobre sexualidade em casa. Isso não é um julgamento, é um fato. A maioria das pessoas da minha idade ou mais velhas são frutos de famílias que não discutiam sexo em casa e quando a gente fala de aceitação, minorias, pessoas saindo do armário… Aí é um universo muito solitário. Muito sofrido mesmo: muitas famílias batem, jogam pra fora de casa, abusam. A gente fala de coisas muito sérias. Quando a pessoa liga a TV e consegue ter algum entendimento de que ela é legal, que é só diferente, e não é por isso que tem que ser rejeitada, abusada, esculachada. Temos tempos mais livres pra falar disso. Em contrapartida, a gente encontra discursos de ódio, absolutamente retrógrados, que vêm pra se chocar com essa tentativa de liberdade, mas acho que o bem vai vencer. Espero que o bem vença. Você conseguir dizer para um pai que não há problema em ter um filho gay, que isso é lindo e o que importa é o caráter… O pai se perdoar por ter julgado e conseguir acolher esse filho… Isso é muito poderoso, potente. A gente está cansado dessas pessoas falando em nome da família brasileira…. Bobagem… E pessoas ainda comprando essa história… Tudo que a gente acredita, luta e acha que tem que ser dito está no programa. Na minha opinião, não está faltando nada. Está tudo bem pensado e da maneira que a gente queria passar. Tem programas leves, outros picantes, focados no sexo, outros focados no amor, nas dores do amor. Não só exaltando, mas pisando nos calos do amor. Cada programa tem sua cereja e todos estão muito poderosos”.

Fernanda, roteirista

“Não é uma escolha. Se pudesse, não faria o roteiro do programa porque não sou roteirista e é o que dá mais dor de cabeça. Estou ali porque sou eu que estou com microfone na mão então o discurso tem que ser compatível com o que eu penso, a maneira como eu falo, a maneira como ajo em sociedade, como mãe, como esposa. Mas daqui a pouco vou ter que fazer um curso de roteiro porque não é fácil e tive que aprender na raça”.

Fernanda Lima e os filhos, João e Francisco || Créditos: Reprodução/ Instagram

Parte II – maternidade

Por que Fernanda saiu do país com a família? “Essa é uma ideia de proporcionar para meus filhos um novo tipo de educação. Tenho estudado muito e cheguei à conclusão de que vou proporcionar algo diferenciado pra eles, diferente do que eu tive. Pode dar certo, pode dar errado, mas isso não tem no Brasil ainda, então estou fazendo uma experiência fora. Não é um ensino formal, não tem quadro negro, nem quem é o primeiro, o grande vencedor, o melhor do mundo. Nada disso. A gente está por aí. Não tem um lugar certo. Estamos lá e cá, em todos os lugares. Prefiro não falar onde estou morando porque não posso expor meus filhos e muito menos meu marido, que não está aqui. A gente tem que saber separar as coisas”. Mas… “A vida de anonimato está ótima. Tem sido ótimo cuidar da casa. A gente tem ficado muito em família, aprendendo juntos, investindo nesse tempo em família. Leva pra lá, leva pra cá. Lê junto, escreve junto. Tá sendo muito bom”.

Mas eles falam inglês e português? “Falam. E francês, e espanhol. Estamos trabalhando todas as línguas. Não falam, né… Mas estão aprendendo. Eu sou uma pessoa do mundo, sempre fui. Saí de casa com 14 anos, viajei o mundo inteiro, morei fora. Nunca mais voltei para Porto Alegre. São Paulo me acolheu, depois vim para o Rio, casei com Rodrigo… Continuo viajando, sou apaixonada por poder sair da minha cultura, olhar de longe, ter parâmetros, me inspirar. Sou assim e de alguma maneira os meninos vão ficando um pouco parecidos. Dou a maior força pra eles…”

“Nudez é normal, mas é aquela coisa de criança”

“O diálogo com as crianças é muito aberto, sincero e direto… Eles são curiosos. Não temos assunto proibido em casa, muito pelo contrário. Eu estou de olho neles, muito atenta, pra saber o que andam escutando por aí e como eu posso ajuda-los a esclarecer, desmistificar coisas. E tem sido muito bom. Eles têm vergonha, né? Quando escutam a palavra sexo já dão risada, escondem o rosto. Beijo na boca acham engraçado. Alguém pelado? ‘KKKKK’. Pergunto: ‘Mas por que vocês estão rindo? É tão normal’. Nudez é normal, mas é aquela coisa de criança”.

“O diálogo à mesa é importante principalmente para os homens. É nosso maior foco de tentativa de mudança, de elaborar, de conversar e acabar de uma vez por todas com essa violência contra a mulher. As mulheres são muito responsáveis pela criação desses meninos. Nós também fomos criadas numa sociedade patriarcal então também temos muitos valores que ainda caminham do lado do machismo. Tem que estar muito atento com a maneira que criamos os meninos. As meninas também, mas é que normalmente a gente cria meninos e meninas de forma diferente. Os meus meninos vão cozinhar, sim, vão costurar, sim. Eles usam rosa, sim, e choram, sim. Não tem esse papo de ‘engole o choro’. Jamais falei, jamais falaremos. ‘Ah, mãe, não sei quem falou que eu sou filhinho da mamãe’. E aí: ‘Você é filhinho da mamãe, sim, Que sorte que sua mãe está do seu lado, está na escola, vai te defender sempre. Esse cara que falou isso provavelmente tem uma mãe que trabalha 24 horas por dia e não tem tempo de ficar com ele, que está querendo te provocar. Não cai nessa’. Estou sempre quebrando umas coisinhas e eles estão muito fofinhos”.

Fernanda Lima, Rodrigo Hilbert e os filhos do casal || Créditos: Reprodução/ Instagram

Menor de idade sozinha em SP: “A gente aprende a se defender”

Sobre ter saído de casa com 14 anos: deve ter passado por muita coisa, não é, Fernanda? “É difícil para qualquer mulher, principalmente para a minha geração, que já é mais livre, mas ainda… Uma adolescente morando sozinha em São Paulo… Acho que todas as mulheres já sofreram algum tipo de assédio. Todas nós já passamos por situações que não gostaríamos de ter passado. Tivemos que nos proteger, nos defender, e até hoje vamos sair daqui, se estiver escuro, vamos botar a bolsa na frente porque o nosso decote pode estar provocando… Vai demorar muito, mas acredito que as menininhas novinhas de hoje, a mulherzinha que está nascendo agora… Essa vai se dar muito melhor que nós, eu espero. Mas a gente aprende a se defender. Sempre fui muito forte, guerreira, corri atrás dos meus sonhos, mas sempre soube me preservar, me cuidar. Sempre soube dos perigos que eu corria, mas ainda assim a gente às vezes cai em armadilhas”.

“Achar que com uma terapia resolve… Não”

“Nós gaúchos somos um pouco mais reprimidos… – que delicado, para eles não me xingarem depois… Mas acho que a gente ainda é mais reprimido sexualmente porque vem de um lugar muito frio, onde a gente tem que se fechar muito. Aqui é diferente como as pessoas lidam com o corpo, na praia… Sou fruto de uma família de catalães, da Espanha. Não tenho como me desvincular das minhas origens. E venho de origens muito duras, frias, rígidas. Descobri que as mulheres jovens na Catalunha ficavam trancadas, literalmente. Com chave. Tenho bisavó criada assim. A gente não se desvincula disso imediatamente. Achar que com uma terapia resolve… Não. São décadas. Tendências… Demora muito para mudar comportamentos”.

Pabllo Vittar, Fernanda Lima, Dudu Bertholini e o cantor Régis Paulino || Créditos: Reprodução/ Facebook

“Pabllo era uma menina supertímida, xucra”

Sobre o sucesso de Pabllo Vittar, que começou no “Amor & Sexo”… “Acho o máximo, incrível. A Pabllo, quando chegou… Quando a conhecemos ela era uma menina supertímida, xucra. Lembro bem quando conversamos pela primeira vez. A gente tinha visto um videozinho dela de uniforme da escola cantando. O Leo [Jaime] tinha acabado de sair, aquela pessoa insubstituível. De repente a gente mandou buscar ela em casa… Chegou lá no escritório, em Botafogo, superbonitinha, cantou. Chamei ela e falei: ‘Tua vida vai mudar, tu é muito talentosa, no momento que aparecer na TV vai ter uma repercussão muito grande, mas a gente vai cuidar de ti o máximo possível. A ideia não é anunciar: temos uma cantora drag queen, sei lá o que’. Nunca exploramos isso, nunca levantamos rótulos e isso ajudou a protege-la por grande parte da temporada” .

“Achei que ela precisava de um cuidado. Disse: ‘Paga suas contas, não te endivida, não briga com ninguém, não compra briga, não aceita desaforo. Foca. Não vá namorar, pegar homem… Foca na tua história porque tem um caminho bom aí’. E ver tudo isso acontecer é muito bonito. Adoro a Pabllo. Além de acha-la talentosa e com esse physique perfeito para o que ela está fazendo, é uma pessoa muito querida. E muito responsável, muito profissional. Todo mundo gostou dela no programa. Adorei trabalhar com ela. A gente ensaiava, se via quase todos os dias e só tenho coisas boas pra falar dela”.

“Sou a favor da democracia e da alternância de poder”

Já sabe em quem vai votar? “Está difícil. Ainda estou… O que priorizo na escolha? O #elenao. Basicamente isso: qualquer coisa menos fascismo. Agora estou muito preocupada porque acho que a gente está num quadro bastante delicado. As pessoas realmente estão venerando um fascista e isso é muito triste, mas eu vou procurar uma terceira via. Sou a favor da democracia e da alternância de poder. Tá na hora da gente mudar, mas jamais para esse homem inominável. Alguém é Bolsonaro aqui? Sai daqui agora [diz, em tom de brincadeira]”.

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