Nem só de fiordes e esportes radicais vive o turismo da Nova Zelândia. Na Ilha Norte, pesca, caça, golfe e trilhas estão entre as atividades mais procuradas por quem quer fugir do agito e fazer uma imersão na natureza selvagem
Por Danae Stephan* para a revista PODER de julho
Quem pensa em turismo na Nova Zelândia dificilmente imagina uma ilha de sossego, com campos extensos perfeitos para a caça, trilhas de todos os níveis ou rios de pesca farta, além de alguns dos melhores campos de golfe do mundo. Pois é assim que os inúmeros lodges espalhados pelo país atraem visitantes dos cinco continentes.
Na Ilha Norte, que concentra três quartos da população de 4,5 milhões de habitantes, paisagens montanhosas em uma paleta de tons terrosos dão o clima. É lá também a terra dos maori, povo que descende dos polinésios orientais. A relação dos maori com os pakia, como são chamados os descendentes de europeus, é de respeito mútuo. Mas qualquer morador vai garantir que não foi sempre assim. Nos últimos 30 anos, os direitos dessa população têm sido uma questão-chave no país, com a devolução de terras, o reconhecimento da língua – todas as placas de sinalização são escritas em inglês e maori – e a valorização das danças, da culinária e dos rituais. Quem nunca viu uma demonstração da haka, dança de guerra incorporada pelo time de rúgbi All Blacks?
Lá não é preciso visitar uma reserva para ter contato com um representante dos povos originários. No Treetops, um dos lodges mais premiados de Rotorua, por exemplo, uma das principais atividades é o safári gastronômico conduzido pelo chef maori Eru Tutaki aos jardins orgânicos da propriedade de 2.500 hectares. A turma pode experimentar algumas das plantas e ervas nativas, que depois são transformadas em iguarias pelas mãos de Tutaki. Ele é um dos primeiros a ressaltar os avanços das últimas décadas. “Na minha época de escola, nós não aprendíamos a língua maori. Ser maori não era motivo de orgulho. Hoje é completamente diferente. Meu filho aprendeu na escola, e fala maori bem melhor do que eu”, afirma.
UM DIA DA CAÇA…
Durante a colonização, em 1769, os europeus introduziram várias espécies de caça para fins esportivos nas ilhas, que se multiplicaram livremente pela falta de predadores naturais – o único mamífero endêmico é uma espécie de morcego. Hoje, o controle da população de porcos, veados, camurças e cabras é feito pela caça. A regulamentação é bastante rígida, com época, locais e classes de armas controladas – são recomendadas espingardas calibre 270, no mínimo, que podem ser alugadas nos lodges. Mas quem preferir algo mais politicamente correto pode trocar a emoção da caçada pelo tiro em disco, outra atração bastante requisitada, ou por vara e anzol.
Se a Nova Zelândia é o paraíso da pesca, Rotorua é sua capital, com rios e lagos cheios de truta arco-íris e salmo trutta. Taupo, com um dos maiores lagos do país, o Lake Taupo, também é uma referência na pesca. Mas é preciso se informar bem sobre regulamentação e licenças, assim como para a caça.
Os pacotes de caça e pesca variam bastante, e podem passar dos R$ 100 mil. Tudo vai depender do período de hospedagem e do tipo de caça, que depois de abatida é cortada e embalada para transporte, caso o hóspede queira levar para viagem.
COM MUITO SUINGUE
A 20 minutos de helicóptero do Treetops, em Taupo, o Kinloch, dos mesmos proprietários, difere pela arquitetura, sofisticada e contemporânea, e pelo campo de golfe de 18 buracos, desenhado pelo campeão mundial do esporte, Jack Nicklaus. O workshop com profissionais da Professional Golf Association (PGA) é das atividades mais divertidas, mesmo para quem nunca balançou um taco.
No restaurante, ingredientes 100% orgânicos e muitos produtos da região. A produção local, aliás, é um dos diferenciais do país: missão quase impossível é encontrar um “made in China” em qualquer produto, de chaveiro de kiwi de pelúcia a gorros de lã de ovelha. O que não é “orgulhosamente produzido na NZ” é, na maior parte das vezes, da vizinha Austrália, com quem o país mantém boas relações comerciais.
Se for no período de março a junho, experimente o “exótico” suco de feijoa, uma febre por lá. A fruta, que tem safra curtíssima, é adorada pelos kiwis, como são chamados os neozelandeses – mas sua origem é bem brasileira. Aqui, é mais conhecida como araçá, goiaba-do-mato ou goiaba-abacaxi, mas bastante incomum nos grandes centros.
Nos dois lodges, o cardápio de massagens é bem completo, mas o destaque é a massagem maori. Durante a sessão, nenhuma grande diferença em relação a outras massagens relaxantes. Mas o efeito depois é único: um leve formigamento por todo o corpo que dura alguns minutos, prolongando a experiência.
Cercado por montanhas e geleiras, o Lake Taupo concentra boa oferta de atividades. Empresas como a Chris Jolly oferecem um cardápio variado com passeios de barco, helicóptero e bicicleta, além de canoagem, rafting, caminhada e várias modalidades de pesca. O passeio de barco até as esculturas de pedra maori é tipo obrigatório para quem quer saber um pouco mais sobre a cultura local.
CULTURA E GLAMPING
O Poronui Lodge, em Taupo, também oferece uma imersão na cultura maori. Recepcionados por Tom Loughlin, da tribo ngati tuwharetoa, os hóspedes têm a chance de aprender sobre a tradição maori de um jeito bem relax: em um passeio pela propriedade de 16 mil acres ou um jantar tradicional preparado pelo próprio Loughlin pelo método hangi, com carnes de porco, carneiro e frango, lagostas e vegetais cozidos sob a terra, utilizando o vapor de pedras aquecidas.
Mas nenhuma imersão seria completa sem uma demonstração da kapa haka, mistura de música, canto e dança tradicionais. Grupos de estudantes fazem apresentações particulares para os hóspedes, em troca de uma contribuição para a tribo.
Além das sete acomodações individuais, o Poronui tem uma área para glamping – camping com glamour. São três chalezinhos de madeira à beira do rio Mohaka, sem eletricidade ou internet, com um chef à disposição para preparar as refeições. Rústico na medida.
* A jornalista viajou a convite do Turismo da Nova Zelândia