Se você pudesse entrevistar o seu próprio pai, qual a primeira pergunta que faria? E quais são as suas maiores curiosidades sobre a vida dele? Pensando nisso, Glamurama convidou Ronnie Von e Babu Santana, pais de gerações e realidades totalmente diferentes, para participarem dessa experiência: serem entrevistados pelos próprios filhos, em um bate-papo interessante que envolve desde perguntas mais profundas, até as mais ingênuas. A seguir, a gente mostra o resultado dessa conversa particular e diversa que celebra o Dia dos Pais e a paternidade presente. Ah, e não se esqueça de dar aquele abraço – virtual, para quem não está passando a quarentena em família – no seu pai.
Leo Von (33) & Ronnie Von (76)
Leo Von: O que considera sua maior vitória como pai?
Ronnie Von: Eu acho que essas coisas não são analisadas dessa maneira, ou por competição ou por meritocracia, melhor ou pior pai. Eu tenho uma visão de que o pai, inconscientemente, não admite a ideia da mortalidade. Conscientemente ele sabe que é falível, que um dia ele vai… mas o inconsciente dele, o super ego, seja como você quiser chamar, não admite a ideia de mortalidade. Portanto, o filho é a sequência da vida do pai. O pai deve viver na vida do filho. Essa é a minha visão. Eu não fui um pai primoroso, exemplar, que me sentava no chão e brincava com as crianças, fiz isso também, mas não era uma coisa sistemática na minha vida. Na verdade, eu criei os meus filhos com o maior amor do mundo, mas não para mim, eu criei para viverem nesse mundo maluco, em sociedade. Somos animais gregários e eu os eduquei para isso. Não tem méritos maiores como pai. Sou um pai que ama seus filhos, e eu acho que isso já basta.
Leo Von: Em que você acha que seu pai (o Zé) poderia ter sido melhor como figura paterna e como isso influenciou sua postura como pai com meus irmãos e comigo?
Ronnie Von: Olha, meu pai foi um ser humano extremamente carinhoso. Essa história eu não posso negar. Ele morreu com 99 anos, quando eu já era avô há muito tempo e ele me chamava de meu filhinho e meu amor. O que eu sinto falta, na verdade o que eu senti, e isso de certa forma ficou permanente na minha vida, é que meu pai não foi muito presente. Não porque não quisesse e sim por trabalho, porque saía cedo e voltava tarde, muitas vezes eu já estava dormindo. Ele também saía antes de eu ir para o colégio, então a presença do meu pai é uma coisa que não foi de grande constância. Mas um ser humano muito amoroso, muito carinhoso, demais! Eu com meus filhos tento não dirimir isso, porque a minha atividade profissional também era uma maluquice, viajando o tempo inteiro. Mas isso me traumatizou a tal ponto que eu cheguei uma hora e disse ‘não vou viajar mais não, eu tenho que ficar com meus filhos’. Isso aconteceu quando me separei e ganhei a guarda deles.
Leo Von: Isso você fala com a Alessandra e o Ronaldo, seus dois filhos do primeiro casamento. Do seu último casamento você teve a mim. Como isso se reflete na figura de pai?
Ronnie Von: A minha relação com você é muito diferente. Ela é uma coisa de ‘brother’, nós somos amigos, comungamos dos mesmos gostos, das mesmas coisas. Trocamos ideias o tempo inteiro. É uma relação de pai e filho? Seguramente. Mas é muito maior a história da fraternidade, do amigão, do que do pai e do filho, sem que em nenhum momento existisse uma falha, minha por parte de um autoritarismo paterno, e sua no que diz respeito como filho. Pelo contrário, nos entendemos perfeitamente bem, mas é uma coisa um pouco diversa do que foi a criação dos meus filhos mais velhos.
Leo Von: De todas os álbuns que você gravou, qual o que você mais gosta de ouvir? E qual o disco que você menos gosta de ouvir?
Ronnie Von: O que eu mais gosto de ouvir é o quarto álbum que gravei Absolutamente Psicodélico, e o que eu menos gosto de ouvir é o número um. A música que estourou “Meu Bem” foi incluída no disco, mas não gosto porque ele não tem nada, absolutamente nada, a ver com o primeiro sucesso que eu fiz que foi a versão do “Girl”. É um trabalho com grandes orquestrações, com maestros, com grandes músicos e tudo, mas não gosto dele, não.
Leo Von: Se você pudesse ouvir somente um único disco pro resto da vida, qual seria e por quê?
Ronnie Von: O disco que eu ouviria, eu já tenho inclusive, é o que tem os Doze Concertos de Corelli. Eu tenho paixão por música do século 18, adoro canção barroca. Mas o Corelli, eu estava nos Estados Unidos, vendo televisão com você e a Alice, e passou uma coisa que eles colocam lá que tem todos os discos tocando e você pode escolher e pode comprar. Quando vi que tinha os Doze Concertos de Corelli fiquei doido. No dia seguinte, a Alice e você tinham comprado pra mim.
Leo Von: Você gosta de Beatles, e falando neles, qual seu preferido: Paul, John, George ou Ringo?
Ronnie Von: Olha, eu acho que todo mundo vai imaginar Paul porque é, de fato, o grande músico da banda, pessoa de talento indiscutível. Mas eu cultuo mais a personalidade do George, que era low profile e fazia tudo que havia sido combinado com os outros, e raramente compunha, mas quando fazia uma canção, arrebentava! Então eu tenho essa minha queda pela personalidade, pelo ser humano que foi George Harrison.
Laura (17), Carlos (16) e Pinah (4) e Babu Santana (40)
Carlos: Pai, como você acredita que podemos tornar o mundo um lugar justo para os jovens pretos e de periferia?
Babu Santana: Apenas com políticas públicas, protagonismo e lideranças. Tudo isso para os pretos. Porque só o discurso não vai mudar o mundo. É necessário representatividade, referências. Isso, sim, ajudará numa revolução.
Laura: O que sua mãe te ensinava sobre as mulheres que você nunca esqueceu?
Babu Santana: Ela me falava sobre o valor de uma mulher. Que as tarefas em casa, por exemplo, são obrigação de todos. Além disso, minha mãe sempre me ensinou sobre ser parceiro, ser um pai presente, estar atento a criação dos filhos. E por sempre ter tido o desejo de ser pai, essas lições eu carrego para sempre.
Pinah: Por que alguns pais não se vestem de princesa para brincar com sua filha?
Babu Santana: Porque alguns pais acham que é feio, mas feio é não brincar. Mas devemos sempre entender que a roupa de princesa, que pode ser de qualquer cor, não define uma pessoa. Alguns pais ainda não aprenderam isso, ou não querem.