Nelson Motta é o autor de “S’Imbora – O Musical: a História de Wilson Simonal”, que estreou essa quarta-feira no Teatro Carlos Gomes, no Rio. Glamurama foi conversar com Nelson por lá. “Simonal foi um anti-herói da MPB, o conheci bem. E acompanhei seu drama de perto, essa história de ascensão e queda. Sempre fiquei com essa coisa engasgada de ele ter virado um tabu, um nome que não se podia nem mencionar.” (Por Michelle Licory)
“Se fosse branco, teria uma segunda chance”
“Ele sofreu com racismo, preconceito. Foi o primeiro pop star negro do país. Isso, naquela época, era muito ousado. E ele fazia o estilo crioulo americano, não era sambista. Sim, o Simonal era folgado, arrogante, marrento, isso tudo. Mas qual estrela do rock ou hip hop não é? Isso, ser bad boy, é quase obrigatório. Simonal era autoritário, violento, mas foi uma sucessão de erros que culminou com a queda dele, no auge da carreira. Mandou os ‘canas’ sequestrarem o contador dele… Burro. Fez muita inimizade. Mas se fosse branco, teria uma segunda chance. Ele era o maior cantor do Brasil, ao lado do Roberto Carlos. Foi o criador de um estilo. E toda criação musical dele ficou amaldiçoada, foi banida. Eram músicas sensacionais, alegres, de altíssima qualidade.”
“Certeza absoluta: não foi dedo duro da ditadura”
“Cheguei a produzir um disco dele, já em sua decadência. Aceitei porque… Bom, condenaram ele de todas as formas. Achei horrível. Ficou preso umas duas semanas em Bangu [penitenciária], preso comum! Sofreu humilhação pública. Senti muita compaixão. Eu o conhecia bastante bem mesmo. Tenho certeza absoluta de que ele não foi dedo duro na época da ditadura [como reza a lenda]. E não digo que não foi por conta de ética ou bom caráter, e sim porque não tinha capacidade técnica pra isso. Imagina se alguém ia convidar o Simonal pra alguma assembléia secreta! Eu fui a dezenas, mas ele nunca iria saber onde seria… Ele foi só burro. Mandaram assinar um papel ‘pro forma’ dizendo que ele colaborou, ele foi lá e assinou.” Mas como o espetáculo tem que terminar bem… “A gente deu um jeito de ter um final feliz, afinal é um musical.”
* Em tempo: na entrada da peça, a gente encontrou com Marcelo D2. “Sou muito fã, um suingue do caramba. Sobre essas questões polêmicas… Fui preso também, né? Tamo junto.”