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Negra Li é capa e recheio da revista J.P de setembro || Créditos:Pedro Dimitrow / Styling: Fernanda Batista / Beleza: Jayme Vasconcellos (capa mgt)
Negra Li é capa e recheio da revista J.P de setembro || Créditos: Pedro Dimitrow / Styling: Fernanda Batista / Beleza: Jayme Vasconcellos (capa mgt)

Em processo de revolução pessoal, que inclui disco novo e aulas de pompoarismo, a rapper prepara-se para ocupar de vez seu posto de diva

Por: Luciana Franca / Fotos: Pedro Dimitrow / Styling: Fernanda Batista / Beleza: Jayme Vasconcellos (capa mgt)

A melhor fase da mulher é aos 40 anos, os novos 40… Todos esses clichês caíram no colo de Negra Li – que comemora 41 nesta quinta-feira – há um ano e ela decidiu ressignificar algumas áreas da vida. Terminou o casamento de mais de uma década e, recentemente, começou a fazer aulas de pompoarismo; passou a ser representada pela Mynd, uma das maiores empresas de música e entretenimento do país; e transformou o apelo dos fãs em impulso para ocupar seu espaço de diva na música. É em trazer à tona uma nova versão de si mesma que ela tem trabalhado desde o começo do ano, e mais intensamente durante a quarentena, com a preparação de seu novo álbum, que tem produção artística de Timbó e lançamento até o fim de 2020. Dois anos após seu último disco, Raízes, a rapper promete algumas parcerias no novo trabalho, mas prefere não antecipar os nomes porque os convites ainda estão sendo feitos.

“Os fãs querem me ver em um lugar que ultimamente não estou mais ocupando, já ocupei, que é estar nas paradas, estar mais em evidência. Eu estava feliz, confortável do jeito que estava vivendo e já estive lá, sei que cada hora é um, o mundo artístico vai girando e, para mim, estava tudo ok”, conta Negra Li, enquanto faz a maquiagem para a capa desta edição em um estúdio em São Paulo. “A torcida do público me deu um gás, é como se estivesse me empurrando. Entendi que tem um lugar vazio que preciso ocupar. Tem muitas cantoras maravilhosas já, mas não tem a Negra Li. Sou única, preciso estar lá, não só por mim, mas por representar tudo o que represento: a mulher, a mulher preta, a mulher da periferia, o rap.”

Ela começou no rap aos 16 anos, na Vila Brasilândia, periferia de São Paulo, e logo passou a fazer shows com o grupo RZO. Participava de várias apresentações aos finais de semana, às vezes até três em um mesmo dia, e ganhava R$ 50 em cada uma. Orgulhava-se de poder ajudar a completar a refeição da família. Caçula de cinco irmãos, a menina Liliane cresceu em um lar evangélico, onde não existiam discos e só teve uma televisão quando completou 12 anos. Diz que foi com o discman dos irmãos que conheceu um novo mundo. A mãe, bem religiosa, do tipo que não usa calça nem maquiagem, sempre apoiou a trajetória da filha; já o pai torcia o nariz no início. “Dona Neuza canta muito bem, é superafinada, sempre disse que era um sonho dela cantar e nunca pôde realizar por causa daquela doutrina da igreja. Ela achava lindo tudo o que eu fazia. Meu pai, que morreu em 1999, tocava saxofone na igreja. Então, eu já tinha esse lado musical”, conta.

Além de fã número 1, a mãe é uma inspiração para a cantora. “Ela era professora de desenvolvimento infantil, fez magistério depois dos 40, se formou em Pedagogia aos 50. Foi uma luta, no começo meu pai não queria… Ela sempre trabalhou fora, dentro de casa e estudava, não sei como dava conta de tudo, com cinco filhos”, relembra Negra Li. Já sobre a sua relação com os filhos, Sofia Kymani, de 11 anos, e Noah Malik, de 3, do casamento com o músico Junior Dread, ela revela-se superprotetora, carinhosa, do tipo que fala que ama e abraça o tempo inteiro. “Sou mãe meio ‘vó’, sabe? Não deixo para a avó mimar, não, eu mesma faço o serviço de estragar um pouco meus filhos. Sabe aquilo de só se vive uma vez?”, diz. “Mas consigo balancear.” A primogênita, segundo ela, já é uma diva; faz ginástica artística, canta e gosta de atuar. As duas se divertem juntas com performances no TikTok e também levam papos sérios. “Eu a respeito muito, escuto o que ela tem a dizer, o que pensa, porque não lembro de alguém me ouvir realmente, prestar atenção nos meus sentimentos quando tinha a mesma idade. Converso com a Sofia sobre tudo, preparo ela para a vida. Isso me dá muito orgulho como mãe.”

Até um ano atrás, antes de decidir abalar qualquer estrutura, Negra Li estava tranquila com suas conquistas e tocava a vida sem maiores ambições. “Já realizei um grande sonho que era constituir uma família, tenho minha casa – e sempre fui muito caseira. Viajo uma vez por ano, meus filhos estão em uma boa escola, faço shows, sou respeitada na música… Eu estava feliz onde estava, só que me faltava um motivo para querer mais e hoje tenho.” A fagulha que os fãs e os amigos mais próximos acenderam nela para que conquiste ainda mais espaço no meio musical transformou-se em uma labareda que esquentou também sua autoestima e vida sexual. “Não sei onde essa mulher estava! Estava morna, precisando dar uma apimentada e veio tudo! Este último ano foi intenso para mim: me separei, mudei de escritório, fiz 40 anos… Faço pompoarismo agora, redescobri minha sexualidade. E descobri muita coisa também”, conta ela, aos risos, e solta que está com um “crush” dez anos mais jovem. O interesse pela técnica de fortalecimento milenar, que promete sexo mais prazeroso, surgiu durante a pandemia, após assistir a uma live com a especialista em sexualidade feminina Cátia Damasceno.

Já a própria rapper não entrou na onda de fazer lives como tantos músicos. Fez apenas uma, com doação para a comunidade da Brasilândia, porque prefere olhar para o futuro e dedicar este momento em casa às novas músicas, a criar material inédito. “A quarentena está sendo importante porque voltei a compor, eu não estava fazendo isso, não tinha tempo, era engolida pelos afazeres… Quando a gente para, observa mais, consegue refletir melhor sobre tudo o que está acontecendo e as coisas vêm. Você quer falar, colocar para fora, isso está sendo muito bom.” Com sua revolução pessoal, o que não falta é inspiração.

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