Como esquecer a malvadeza de Vinícius, personagem de Flávio Tolezani, em “O Outro Lado do Paraíso”, que abusava de sua enteada na trama? Dando vida para um bonzinho. O ator não acredita nisso, mas Raimundo é seu novo desafio na televisão. Na novela “Verão 90”, que estreia no próximo dia 29 de janeiro, ele é um nordestino que vai morar no Sudeste para ter o que comer e que não mede esforços para ajudar as pessoas a sua volta. No papo com o Glamurama, o ator fala sobre a necessidade de personagens que sejam fontes de inspiração, os tempos atuais de egoísmo, como se realiza na TV e no teatro e suas lembranças adolescentes embaladas pelo som do Nirvana… (por Fernanda Grilo)
Glamurama: Você acredita que será fácil para o público esquecer o Vinicius de “O Outro Lado do Paraíso”?
FT: Não, e nem vejo essa necessidade porque a reação do público foi tão boa, apesar do medo de como iriam reagir. Para mim, o personagem foi positivo e tinha como função alertar para questões importantes. Ele é para ficar e não esquecer.
Glamurama: O que destaca no Raimundo, seu personagem em “Verão 90”? Se inspirou em alguém?
FT: Não tem inspiração específica, ele é um emaranhado de referências que tenho e também pelo texto dos autores. O Raimundo é um cara que deixou suas raízes para conseguir comer, que vem do Nordeste. Essa mudança era tudo ou nada e essa é uma realidade de muitos brasileiros. O personagem tem um olhar altruísta, assim como ele teve muita ajuda, ele vai agregando pessoas que precisam de ajuda. Ele é bom!
Glamurama: O Brasil está precisando de personagens honestos e inspiradores?
FT: Oh se seu acho…O que a gente precisa é deixar de ser egoísta. Essa questão tomou grande parte da população: “nós vamos nos salvar e não quero saber das minorias, pessoas com necessidades especiais. É só nos”. Tem que ter um olhar para o outro, e o Raimundo viveria dessa forma nos tempos de hoje. Essa é uma característica do nordestino, viver intensamente, com verdade e afinco. Precisamos desse altruísmo, agregar e não separar. Fato!
Glamurama: Atualmente os vilões ganham mais destaque junto ao público. Como fazer um personagem bonzinho cair no gosto dos telespectadores?
FT: Nossa, não sei te responder essa. Mas se tivesse a fórmula, guardaria segredo…rs
Glamurama: Se o Raimundo fosse malvado igual ao Vinicius, teria aceitado o personagem?
FT: Veio o convite e gostei do Raimundo, assim como se viesse um outro papel que me desafiasse. Essa alternância é interessante para a continuidade do meu trabalho.
Glamurama: Quais suas memórias dos anos 1990, época que será retratada a novela?
FT: Era minha pré-adolescência, nasci em 1978. Estava na fase da formação, perspectivas, vontades, interesses. Tenho muita clara a minha relação com a música e a novela traz muito dessa lembrança. Tinham os clipes que a gente assistia. Gostava muito de Nirvana e hoje minha filha, Ana Clara, que tem 14 anos, também é apaixonada pela banda. Essa nova geração tem acesso a tudo, então eles nos fazem reviver essas lembranças.
Glamurama: O que acha que mudou de lá para cá?
FT: Mudou para o ruim e o bom. O fato da gente não ser mais acessível pessoalmente, não ter o contato físico com as pessoas. Acredito que o mundo era mais positivo, as pessoas viviam mais o presente, o momento. Não tinha como achar no celular, internet e estamos todos aqui. Era mais fácil ter foco porque hoje você faz tudo ao mesmo tempo. Eu vejo que perdemos, pois, ter acesso a tudo de forma tão fácil não me parece tão positivo.
Glamurama: Você é um ator com muita experiência em teatro. É de lá que vem sua essência?
FT: Comecei no teatro bem antes, em 2002, e minha primeira participação em TV foi só em 2008. Como minha vivência era no palco, me identificava mais. Agora está mais equilibrado, tenho vivido as duas possibilidades com a mesma intensidade. Gosto dos dois, são contraponto, o dia a dia é diferente, me alimentar do público ao vivo e depois do estúdio é gratificante.
Glamurama: Quais os outros projetos para 2019?
FT: Depois da novela, pretendo voltar a circular pelo país com a peça “Carmen”, que faço ao lado da minha mulher, Natalia Gonsales. Agora, só a novela, mas isso não é comum, pois estou sempre com muitos projetos ao mesmo tempo e gosto disso. Quando dou uma diminuída no ritmo, já penso no que posso fazer a mais. Já cheguei a trabalhar em cinco espetáculos ao mesmo tempo, só que em funções diferentes. Não gosto de tempo sobrando.