Por Michelle Licory
Glamurama foi assistir à sessão para convidados de “Cássia Eller – O Musical”, essa segunda-feira no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio. Do nosso lado, Nando Reis, ansioso. “Até hoje ninguém superou a Cássia porque a força dela está em ser insuperável. Quem pretende superá-la já começa errado. Estou aqui hoje com sentimentos ambivalentes. É a história de alguém que foi muito importante pra mim. Preferia que ela estivesse aqui e eu não.”
* Começa o espetáculo. Quem é essa menina na pele da cantora? Tacy de Campos é de uma semelhança assustadora. Que voz! “Come Together”, “Eleanor Rigby” e uma versão à capela de “Mercedes Benz”, de Janis Joplin, para dar o tom de Cássia adolescente, antes da fama. Depois vieram “Palavras ao Vento”, “Por Enquanto”, “Meu Mundo Ficaria Completo”. Tudo entremeado com a não aceitação do pai de sua homossexualidade, o teste para a peça de Oswaldo Montenegro, ainda em Brasília, a imensa timidez, a mudança para o Rio, a falta de dinheiro, a introdução às drogas, a bebida em exagero, seus dilemas com a indústria musical, o momento em que conhece a companheira do resto da vida, Maria Eugênia, a “mãe” de Chicão, o filho dela [Cássia engravidou em uma temporada festeira, quando Eugênia teve que voltar pra sua cidade por um período]. E aí veio uma performance linda de “Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher…” Pra quem não sabe, Renato Russo escreveu essa música inspirado no arranjo familiar das duas com um bebê para criar.
* O texto é muito bem construído e mostra as trapalhadas e paqueras da cantora de forma leve e engraçada. São tiradas impagáveis, peito de fora, muitos beijos em várias namoradas… A gente adorou um apelido pelo qual os músicos a chamavam: sapatroa. Ainda escutamos “Todo Amor Que Houver Nessa Vida”, “Malandragem”, “E.C.T”, “Luz dos Olhos”. Então é mostrada a chegada da percussionista Lan Lan na carreira e na vida amorosa de Cássia e a história dela com Nando Reis, um dos momentos mais poéticos do espetáculo. “Suas versões são melhores que minhas músicas”, diz o Nando da ficção em cena. E a trama emenda com “Relicário”, “All Star”… O Nando na plateia chora tanto que precisa levantar os óculos para enxugar as lágrimas. E aí começa o fim. Na trilha, a participação dela no Rock in Rio, o cover de “Smells Like Teen Spirit”, o esgotamento físico, o abuso do álcool… A sua morte é ilustrada com “O Segundo Sol”, que o resto do elenco canta sem ela. Sutil e emocionante. Especialmente nessa noite, ao final da peça, a Lan Lan de verdade, que assina a direção musical, subiu no palco para uma canjinha de “Gatas Extraordinárias”, que Ceatano Veloso fez para Cássia, com os atores. O que Nando tinha a dizer depois de tudo? “Deu uma saudade doída. A semelhança é impressionante… Na voz, nos trejeitos. Fiquei arrepiado. Foi bonito e triste. É evidente que fui apaixonado pela Cássia.”
* E depois de descarregar tudo isso no palco, surge Tacy no coquetel, quase um bichinho do mato, acuado com os cumprimentos efusivos do público. Com todo esse talento, ela – bebendo uma cerveja – não conseguiu – sem exageros – responder uma só pergunta que fizemos, bastante encabulada, vermelha de vergonha. Quando Nando foi elogiá-la, ela ficou olhando para o chão. Tacy não se inscreveu para as audições. Foi pescada por causa de um vídeo seu na internet. E precisou ser convencida a aceitar o papel. “Quando ela cantou ‘Por Enquanto’ pra gente, comecei a chorar. A gente sabia que tinha que ser a Tacy. Não conheci a Cássia quando ela tinha 24 anos. E estou conhecendo através da Tacy. Elas têm a mesma trip. Agora minha saudade infinita é uma saudade boa por estar revivendo isso”, nos disse Lan Lan. Sobre a forma como Cássia morreu: “A gente procurou ser fiel, mostrar o bom humor dela, a atmosfera dos bastidores. As pessoas constroem um drama, mas a verdade que a morte dela foi uma fatalidade, algo que não tem explicação, como diz a letra da canção.”