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SAGA

Em “Carvão Animal”, que acaba de sair pela editora Record, Ana Paula Maia subverte qualquer atitude condenável em feito redentor. Mas, nesta abordagem, não há espaço para heroísmo. Seus personagens são homens rudes e simples, lidam diariamente com a morte e a sujeira. Artífices de funções desprezadas, moldados por elas, vivem à margem da sociedade. Em meio à pobreza, carregam seus fardos em silêncio. E em silêncio desnudam as feridas de suas almas. Seja como refugos do crematório onde trabalha Ronivon que “acredita que o homem deve retornar ao pó, pois do pó foi criado. Não concorda com as cinzas finas. Para ele tornar-se pó é necessário. As cinzas são subversivas”. Seja nos incêndios que Ernesto Wesley combate. Este é um brutamonte de ombros largos, voz grave e queixo quadrado, “porém tudo se torna pequeno caso se repare em seus olhos. São olhos profundos, de cor negra e de intenso brilho. Mas não é um brilho de alegria, senão do fogo admirado e confrontado diversas vezes”.

* Com uma narrativa seca, crua e sem retóricas, Ana Paula molda uma localidade universal, onde os infernos particulares se descortinam nos fragmentos de diálogos. Nas reflexões sobre vida e morte. Amizade e hipocrisia. No olhar mortiço dos homens-besta, sobrecarregados pelo fardo da própria existência. Pelo peso da desesperança, da falta de perspectiva. Seus heróis são trabalhadores sempre à margem da sociedade, presos na ambigüidade das próprias funções, condicionados pelas próprias escolhas. Marginalizados por elas.

* No final das contas, Ana Paula consegue exibir com maestria a motivação de personagens amorais, extraindo lirismo do sujo da vida. E não se tem dúvida de que eles estão por toda parte, que poderiam ser qualquer um de nós.

* “Carvão Animal” é a terceira parte da trilogia “A Saga dos Brutos”, iniciada com as novelas “Entre Rinhas de Cachorros e Porcos Abatidos” e “O Trabalho Sujo dos Outros”.

Por Anna Lee

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