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EM ÓTIMA MÁ COMPANHIA

Faço parte da ala que acredita que uma obra literária nunca está concluída, que todo livro é reescrito cada vez que um leitor o lê, e esta é a grande potência da literatura: a possibilidade de, a partir de um mundo inventado, criar outros e outros e outros mundos.

* Já Reinaldo Moraes (1950-), um dos escritores que integra o clã dos “malditos” da coleção Má Companhia, da editora Cia. das Letras, não deixa essa tarefa de reescritura apenas para os leitores, ele que se diz “tão despudoradamente perfeccionista”, retoca suas obras a cada edição.

* Este foi o caso de seus dois romances cult dos anos 1980, “Tanto Faz” (1981) & “Abacaxi” (1985), com os quais fez sua estreia literária, e que agora está lançando num volume único. O segundo é uma espécie de continuação do primeiro.

* Ricardo de Mello é o herói-narrador de “Tanto Faz” – um garotão à beira dos trinta que deixa um emprego burocrático em São Paulo para morar em Paris, com um ano de bolsa de estudos num curso de “planificação econômica para basbaques do terceiro mundo”. Mas seu verdadeiro projeto é ser escritor. E ele logo abandona a faculdade para investir numa vida aventureira e desregrada, animada com bebida, haxixe, drogas pesadas e dezenas de girls que vai seduzindo. “A cidade me excita como uma namorada nova”, afirma o narrador, lá pelas tantas.

* Depois de um ano de esbórnia em Paris, é hora de voltar para casa. E é essa volta, com escala em Nova York e no Rio, que ele narra em “Abacaxi”, com muitas de cenas de sexo ou escatológicas e toda sorte de jorros e fluidos.

Por Anna Lee

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