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AINDA O CASO DREYFUS

Coincidência ou não, depois de falar na última coluna que o caso Dreyfus é um dos temas do novo romance de Umberto Eco, “Il Cimitero de Praga” (“O Cemitério de Praga”), me deparei com o livro “O Caso Dreyfus – Ilha do Deserto, Ilha do Diabo, Guantánamo e o Pesadelo da História”, de  Louis Begley, que a editora Companhia das Letras acaba de lançar. E isto reafirmou minha crença de que não há relato histórico definitivo, que fatos podem ser contados e recontados inúmeras vezes, de diversas perspectivas, sem que ninguém seja dono da verdade única e inquestionável. Esta é a potência da História que me deixa fascinada. E é por isso que resolvi indicar este novo livro aqui.
Desde que o Caso Dreyfus inspirou a carta aberta “J’accuse!” (“Eu acuso!”) publicada pelo romancista Émile Zola, em 1898, ele foi abordado diversas vezes. Zola fez uma defesa de Alfred Dreyfus, judeu, capitão do exército francês, que, desde 1984, ficou preso durante cinco anos numa solitária na ilha do Diabo, na costa da Guiana Francesa, acusado de alta traição ao Estado, no lugar do major francês Esterhazy.
Agora, em “O Caso Dreyfus – Ilha do Deserto, Ilha do Diabo, Guantánamo e o Pesadelo da História”, o relato é do advogado Begley, que nasceu em 1933 na cidade de Stryj, então pertencente à Polônia; estabeleceu-se com a família no Brooklyn, em Nova York, em 1947; graduou-se em Harvard, em 1959; e atuou em sua profissão até se aposentar, em 2007, quando passou a dedicar-se exclusivamente à literatura.
Dreyfus foi julgado a portas fechadas por uma corte marcial e condenado ao degredo perpétuo na ilha do Diabo. A base para a acusação foi um papel que enumerava segredos militares franceses entregues ao adido militar na embaixada alemã em Paris. O antissemitismo recrudescia na sociedade francesa da época e era ainda mais acentuado no exército, de modo que o nome de Dreyfus saltou à vista dos encarregados de encontrar o traidor.
O Caso Dreyfus dividiu a sociedade francesa entre os que exigiam um julgamento justo e os que não admitiam que se contestasse a palavra de membros da cúpula do exército francês para defender um judeu. O resto do mundo horrorizou-se com o desrespeito às regras de procedimento jurídico no país da liberdade, igualdade e fraternidade.
Em seu livro, Begley se utiliza de seus conhecimentos jurídicos para mostrar com clareza a complexidade do Caso Dreyfus, e ainda relaciona este fato com as detenções de acusados de terrorismo no episódio de 11 de setembro de 2001, quando muçulmanos foram condenados e submetidos a maus tratos na base naval americana de Guantánamo, em Cuba. Sem dúvida uma maneira interessante de olhar para a história.

por Anna Lee

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