POUCAS PALAVRAS
“Um Erro Emocional”, o novo romance de Cristóvão Tezza, que acaba de sair pela editora Record, é todo ele uma conversa de poucas palavras entre os protagonistas Donetti e Beatriz. Nessa conversa, o que menos importa é o que se diz. Importa o quem, o quanto, o quando, o onde do não dito. Importa, sobretudo, o como não se diz. O como o não dito emerge de frases banais, tipo: “Vamos pedir pizza? Você deve estar com fome”.
* Antonio Donetti, escritor conhecido, e Beatriz, sua fã e revisora de textos, tinham se conhecido na noite anterior àquela em que ele bateu à porta da casa dela, segurando uma garrafa de vinho na mão direita e uma pasta com textos, na esquerda, e declarou, sem antes sequer dizer “oi”: “Cometi um erro emocional”.
* Donetti pedira para Beatriz ajudá-lo em seu novo romance, uma forma de dizer, sem dizer, que queria ficar próximo, afinal, se apaixonara por ela. Beatriz, por seu lado, “soterrada pela timidez” diante da declaração, prefere não dizer nada, “cuidando de manter a sombra do sorriso no rosto para que ele interpretasse o seu silêncio do modo certo (…)”.
* E assim os dois vão criando espaços e tempos particulares por meio dos quais passam e repassam as suas vidas em pensamentos que brotam do pouco que realmente dizem e ouvem. Ela flagrara o ex-marido com uma prostituta em um hotel barato e, agora, dá aulas de português. Ele vive um momento de crise profissional e existencial.
* É tão intensa a ligação que se estabelece entre Donetti e Beatriz que, no plano do real, só cabe entre eles frases em princípio insignificantes: “Você não vai abrir o vinho?” Seus momentos de confronto com a verdade, que são as passagens decisivas do romance, não são da ordem do dizível, são da ordem do afeto. E, deste, só o corpo dá conta, as palavras são insuficientes.
* Tezza é categórico ao afirmar que “Um Erro Emocional” é um livro bastante diferente de todos os outros que escreveu: não foi pensado inicialmente como um romance, mas como um conto que ele, a certa altura, sentiu necessidade de “levar adiante”. Os personagens foram retirados de textos anteriores e amadureceram aos poucos até que, enfim, exigiram a catarse. O mais importante de tudo: o livro não tem nada de autobiográfico, apesar de ele muitas vezes passar por situações em que se depara com a admiração de leitoras. E, principalmente, não tem nada a ver com “O Filho Eterno”, seu último romance que, em 2008, recebeu os mais importantes prêmios literários brasileiros como o Jabuti e ainda o Prêmio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa. Sua “cota de autobiografia”, Tezza diz ter esgotado com este livro, que trata da relação entre pai e filho, este portador da síndrome de Down, como o primogênito do escritor, Felipe.
* O escritor, que mora em Curitiba, conversou com “Na Estante”, pelo telefone:
Na Estante: Existe uma cobrança para que “Um Erro Emocional repita a performance de “O Filho Eterno”, que recebeu importantes prêmios literários?
Cristóvão Tezza: Da minha parte, posso dizer que estou ansioso e angustiado da mesma forma que fiquei quando lancei os meus outros livros, mas isso não tem nada a ver com a expectativa de ser premiado. Sou um escritor maduro, antes de “O Filho Eterno”, passei por fases de ostracismo, então, sinceramente, o que vier é lucro.
NE: Mas agora a situação é outra. Não acha que seu trabalho ganhou um peso bem maior no mercado editorial brasileiro?
Tezza: Não há como negar que “O Filho Eterno” mudou minha vida. Consegui parar de dar aulas e viver só da literatura.
NE: Com isso a sua prática de escrita mudou?
Tezza: “Um Erro Emocional” foi um livro feito fora do método. Primeiro, ele fazia parte de um livro de contos que a Record me encomendou, mas que teve fôlego para se tornar um romance. Depois, ele foi escrito de forma fragmentada, por conta das minhas viagens profissionais para palestras e divulgação de “O Filho Eterno”. Mas para o ano que vem estou programando criar uma rotina: começar a trabalhar todo dia às sete e meia da manhã para me dedicar ao meu próximo projeto, que tem o título provisório de “Um professor”.
por Anna Lee