O QUASE INESPERADO
Não se pode dizer que a escolha de Mario Vargas Llosa (1936-) como Prêmio Nobel de Literatura de 2010, anunciada pela Academia Sueca em Estocolmo, na quinta-feira, 7, tenha sido totalmente inesperada. Afinal o nome dele tem aparecido frequentemente na lista de possíveis ganhadores. Mesmo assim, a bolsa de apostas deste ano passou longe do escritor peruano, apostando muitas fichas no sueco Tomas Tranströmer.
Segundo a decisão divulgada pela Academia, Vargas Llosa foi premiado por sua “cartografia das estruturas do poder” e pelas “imagens vigorosas da resistência, rebeldia e derrota do indivíduo”.
A sua produção literária, marcada por questões políticas da América Latina, inclui peças teatrais, ensaios, memórias e, sobretudo, romances, entre eles, “A Guerra do Fim do Mundo” (publicado originalmente em 1982 e reeditado no Brasil pela Alfaguara em 2008), no qual o autor mergulha no sangrento confronto da Guerra de Canudos para tentar decifrar a verdadeira face por trás do mito chamado Antônio Conselheiro.
Em 1972, Llosa se encantou com a leitura de “Os Sertões” (1902), de Euclides da Cunha e, em 1977, começou a escrever “A Guerra do Fim do Mundo”, tendo criado, inclusive, um personagem que é um jornalista com traços inspirados no próprio Euclides, além de ter se dedicado a exaustivas pesquisas em arquivos históricos e viagens pelo sertão da Bahia. Este é o primeiro romance que Llosa ambientou fora do Peru, e, nele, conseguiu dar uma nova dimensão à história de Antônio Conselheiro, criando uma espécie de épico moderno.
A editora Objetiva também acaba de colocar no mercado brasileiro o livro “Sabres & Utopias – Visões da América Latina”, que traz uma seleção de ensaios do autor, organizados pelo colombiano Carlos Granés, nos quais ele fala sobre os mais diversos temas: política, direitos humanos, literatura e artes plásticas, economia e história. Nesta obra, Llosa se mostra defensor da democracia e da liberdade, colocando-se contra os regimes militares de direita, segundo ele, corruptos e violentos, assim como contra as ditaduras de esquerda, das quais diz prometerem utopias, mas entregarem somente repressão e autoritarismo.
Sobre Brasil, Llosa faz análises da situação política atual, com duras críticas à relação entre Lula e Fidel Castro, e constrói relatos comoventes sobre importantes nomes de nossa literatura – como Euclides da Cunha e Jorge Amado.
Já seu novo livro, “El Sueño del Celta”, que será lançado pela editora Alfaguara no início de novembro em todos os países de língua espanhola, tem como tema a trajetória de Roger Casement (1864-1916), diplomata irlandês que, no início do século XX, denunciou massacres cometidos no Congo belga e na Amazônia peruana contra populações locais. No Brasil, a tradução em português deve ser publicada no ano que vem.
O Prêmio Nobel da Literatura, no valor de 10 milhões de coroas (1,5 milhão de dólares), será entregue no dia 10 de Dezembro. Antes disso, está programada uma vinda de Llosa ao Brasil, na quinta-feira, 14, para participar do evento Fronteiras do Pensamento, realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.
OS MAIS VENDIDOS NA VILA 24/9 a 01/10
Ficção
1. “O Tempo entre Costuras”, Maria Duenas (Planeta)
2. “Em Alguma Parte Alguma”, Ferreira Gullar (José Olympio)
3. “Trem Noturno para Lisboa”, Pascal Mercier (Record)
4. “A Elegância do Ouriço”, Muriel Barbery (Cia. das Letras)
5. “A Ilha Sob o Mar”, Isabel Allende (Bertrand Brasil)
6. “As Brasas”, Sandor Marai (Cia. das Letras)
7. “Surdo Mundo”, David Lodge (L&PM)
8. “De Verdade”, Sandor Marai (Cia. das Letras)
9. “Felicidade Demais”, Alice Munro (Cia. das Letras)
10. “68 Contos de Raymond Carver”, Raymond Carver (Cia. das Letras)
Não-ficção
1. “1822”, Laurentino Gomes (Nova Fronteira)
2. “Comer, Rezar, Amar”, Elisabeth Gilbert (Objetiva)
3. “Comprometida”, Elisabeth Gilbert (Objetiva)
4. “1808”, Laurentino Gomes (Planeta)
5. “Não há Silêncio que não Termine”, Ingrid Betancourt (Cia. das Letras)
6. “O Século Moderno”, Henri Cartier Bresson (Cosac & Naify)
7. “Ayrton Senna – Uma Lenda a Toda Velocidade”, Christopher Hilton (Global)
8. “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil”, Leandro Narloch (Leya)
9. “A Ilusão da Alma – Biografia de um Ideia Fixa”, Eduardo Giannetti (Cia. Das Letras)
10. “Ágape”, Padre Marcelo Rossi (Globo)
por Anna Lee