UMA BIOGRAFIA
O livro “Why This World: A Biography of Clarice Lispector” – traduzido no Brasil como “Clarice,” (lê-se “Clarice vírgula”), pela Cosac Naify –, do norte-americano Benjamin Moser, acaba de ser indicado como um dos finalistas da premiação The National Book Critics Circle.
A biografia da escritora brasileira – assim Clarice Lispector fazia questão de ser reconhecida (nascida na Ucrânia, ela foi naturalizada brasileira) –, desde seu lançamento no final do ano passado, tem sido resenhada com destaque pela imprensa estrangeira, como o jornal “The New York Times” e a revista “The Economist”. E, sem dúvida, isto tem sido importante para despertar a atenção internacional para a literatura de Clarice, até agora restrita a alguns meios.
Nas 648 páginas da obra, Moser traça a trajetória da escritora, desde a origem miserável e violenta na Ucrânia até o reconhecimento crítico, sendo que no desenrolar da narrativa ele relaciona aspectos da vida e obra de Clarice com episódios significativos da história do Brasil, e também mundial.
A leitura de “Clarice,” é impactante (li em dois dias, sem conseguir parar). Mas muito mais pela trajetória da escritora que escrevia “como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a” sua “própria”, do que pela prosa literária de Moser. Empenhado em estabelecer ligações entre a biografia de Clarice com fatos históricos, às vezes, ele se estende mais do que o necessário em alguns episódios e, em outras, trata superficialmente assuntos que mereceriam algumas linhas a mais, sem conseguir encontrar um ponto de equilíbrio entre as duas formas. O autor também abusa de conjunções adversativas (mas, no entanto, porém, contudo, apesar disso etc.) para ligar fatos ou mudar de tema. Se bem que, como li a versão traduzida (por José Geraldo Couto) e não a original, não posso dizer que isso também acontece no texto em inglês. Nota-se ainda uma preocupação excessiva de Moser com a “questão judaica”, o que faz parecer ser esta uma causa muito mais dele do que de Clarice.
De toda maneira, qualquer “porém” que se possa perceber em “Clarice,” é superado pela extraordinária, até mesmo invejável, pesquisa feita pelo autor e pela forma como ele conseguiu juntar tão extenso material. A leitura do livro de Moser tornou-se fundamental não só para estudiosos da obra de Clarice Lispector mas também para seus leitores comuns.
P.S.: O vencedor do “National Book Critics Circle” deve ser anunciado em 12 de março e concorrem com Moser: Blake Bailey, “Cheever: A Life” (Knopf); Brad Gooch, “Flannery: A Life of Flannery O’Connor” (Little, Brown); Stanislao G. Pugliese, “Bitter Spring: A Life of Ignazio Silone” (Farrar, Straus and Giroux); e Martha A. Sandweiss, “Passing Strange: A Gilded Age Tale of Love and Deception Across the Color Line” (Penguin Press).
por Anna Lee