ELOGIEMOS OS HOMENS ILUSTRES
Para produzir uma reportagem para a revista “Fortune”, o escritor e jornalista James Agee e o fotógrafo Walker Evans partiram para o sul dos Estados Unidos, em 1936, com o objetivo de retratar os efeitos da Grande Depressão que assolava o país. O resultado dessa experiência extrapolou totalmente o conceito do que era conhecido como boa reportagem, tal a riqueza de detalhes da descrição de cenários e relações humanas, e a matéria nunca chegou a ser publicada na imprensa, mas virou livro em 1941 e, agora, chega ao Brasil com o título “Elogiemos os Homens Ilustres” pela Companhia das Letras, que promove debate no MASP nesta sexta-feira, 27, às 18h, para o lançamento. Participarão do evento o coordenador do Instituto Moreira Salles e professor de literatura, Samuel Titan, o coordenador da coleção Jornalismo Literário, Matinas Suzuki Jr., e o fotógrafo e professor da ECA-USP, João Musa.
Depois que sua reportagem foi rejeitada, James Agee reformulou o texto e o deixou ainda mais pessoal e refinado, aprofundando-se no relato sobre a convivência que ele e Walter Evans tiveram durante quatro semanas com três famílias de meeiros pobres do Alabama, numa relação tão próxima que chegaram a dormir na choupana de uma delas e a flertar com uma garota de outra família. Na verdade, ela faz uma reflexão pungente acerca do encontro entre duas realidades bastante diversas – a dos dois “invasores” urbanos e cultos e a dos iletrados roceiros.
Em “Elogiemos os Homens Ilustres”, Agee conseguiu produzir ao mesmo tempo um retrato minucioso – a ponto de dedicar várias páginas à descrição de um único aposento de casebre rural – e reflexão audaz sobre os limites da observação e da representação, o que fez com que seu trabalho se tornasse referência obrigatória para os estudos de jornalismo, literatura e antropologia.
Já as 61 fotos em preto e branco de Evans abrem o livro como um filme mudo. Sem legendas, elas traduzem, comentam e amplificam o impacto do texto. Com uma franqueza sem efeitos, captam a dor e a desesperança da paisagem humana.
Não à toa, “Elogiemos os Homens Ilustres” é considerado o documento mais completo e corajoso da Grande Depressão e, até hoje, sete décadas depois de realizado, impressiona como sua tentativa de conhecer e compreender a miséria do “outro”.
Por Anna Lee