Na estante

SER OU NÃO SER DIGITAL NÃO É MAIS A QUESTÃO

O livro digital é uma realidade, e quanto a isso não há o que discutir. Uns – ou muitos – podem até continuar optando pela relação lúdica com a obra impressa, ou seja, não prescindir de sentir o seu cheiro, de manusear suas páginas, de adormecer abraçado ao seu livro predito, mas não dá mais para voltar a uma época em que não exista e-books.

* A questão, agora, é como lidar com essa realidade. A polêmica levantada pelo fato de os usuários do Kindle, o leitor de e-books da Amazon, verem suas cópias de “1984” e “A Revolução dos Bichos” (George Orwell) apagadas, de um dia para o outro e sem aviso prévio, esquentou a discussão em torno dos direitos autorais sobre livros digitalizados. A Amazon alegou que tomou a decisão porque descobriu que a empresa da qual adquiriu os livros não tinha os direitos sobre as obras, e devolveu o valor pago pelos clientes. Então vem a pergunta que não quer calar: a Amazon não checa a procedência dos produtos que adquire?

* Os usuários do Kindle mesmo assim reclamaram, pois não se tratava de apenas receberem seu dinheiro de volta, mas de se sentirem lesados em seu direito de propriedade, já que consideram que, uma vez que pagaram pelos arquivos dos livros, estes os pertenciam. E eles têm razão. Mas aí surge outra pergunta que não quer calar: os autores dos livros que esses usuários adquirem na internet e pelos quais não foram pagos direitos autorais também não estão sendo lesados?

ACORDO

Para tentar encontrar algumas respostas para as muitas perguntas sobre a questão dos direitos autorais na internet, na próxima quarta-feira, 29, será realizado um seminário – online, claro –, promovido pela “Publishers Weekly”, em que a Google Library, que desde 2005 vem digitalizando livros, vai propor um acordo aos representantes da indústria editorial norte-americana.

ENQUANTO ISSO

A Barnes & Noble, a maior cadeia de livrarias do mundo, está lançando sua loja online de livros digitalizados nos Estados Unidos, com mais de 700 mil títulos.

TANTA DISCUSSÃO…

… em torno do livro faz lembrar “Como e Por Que Ler”, de Harold Bloom. Esta publicação não é nova, mas vale a pena ter na estante ou, se preferir, num suporte digital, como Iphone e Blackberry. Bloom é um dos mais importantes nomes da crítica literária contemporânea e, nesse livro, ele conduz o leitor numa viagem pelos grandes textos da literatura universal. “Como e Por Que Ler” está dividido em: Contos, Poemas, Romances, Primeira Parte, Peças Teatrais e Romances, Segunda Parte, e nele se encontra, por exemplo, as impressões de Bloom sobre “As Neves de Kilimanjaro”, de Hemingway; “As Irmãs Vane”, de Nabokov; “Soneto 144: Dois Amores, um Calmo e um de Aflição”, de Shakespeare; “Dom Quixote”, de Cervantes; “A Importância de Ser Prudente”, de Oscar Wilde e “Moby Dick”, de Melville. No prefácio, Bloom diz: “Literatura de ficção é alteridade e, portanto, alivia a solidão”.

DICA DA VILA

Um século em Nova York – Espetáculos em Times Square” – (Cia. das Letras) – R$ 55,00 Neste livro, Marshall Berman – autor do brilhante ensaio histórico e literário “Tudo que É Sólido Desmancha no Ar” (1986) – coloca o leitor em pleno cruzamento da rua 42 com a Sétima Avenida e a Broadway, e, no meio de uma multidão de americanos e turistas, à sombra de arranha-céus e diante de um impressionante painel de outdoors, letreiros luminosos e anúncios eletrônicos, lhe conta a história dos cem anos do surgimento de Times Square. Para quem quer entender a raiz das contradições que invadem o espaço urbano de uma metrópole contemporânea é uma boa pedida.

Por Anna Lee

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