Daqui da janela de minha sala, onde trabalho, eu vejo um pé de pitangas. Ou melhor, uma pitangueira. Quando é época, ela fica cheinha de frutas pequenas, coloridinhas, em tons avermelhados. Agora, na verdade, não está no tempo delas. Só que umazinha, sozinha, cismou de florescer fora de hora. E virou uma fruta, cor-de-abóbora, bem forte. Ela está aqui, bem na minha frente, pendurada, única. Assim que olhei para ela nessa segunda-feira, achei que tinha cara de Juno. Sim, também única, diferente, reinando num território meio fora de compasso. Juno mexeu comigo. Deve ter mexido com muita gente, pelos mais variados motivos: um filme sobre uma família não ortodoxa, num lugar totalmente ortodoxo e uma adolescente muito especial. Tudo bem que todo mundo, na verdade, é único e especial. Mas tanto Juno quanto a pitanga da minha árvore desabrocharam fora do tempo. Funcionaram num timing próprio. Isso tem um preço, na maioria das vezes, muito alto – no caso de Juno, uma gravidez aos 16 anos, dar seu filho para ser criado por outra mulher… e retomar com o namorado adolescente que, assim como ela, não chegou nem a entender o que estava acontecendo. Mais sorte tem a pitanga – Juno. Está, sim, meio fora do compasso – mas com certeza é a rainha entre as folhas verdes.