“Mentiras”, do diretor coreano Jang Sun Woo, por Luciana Pessanha

Baseado no romance de Jang Jung-II, proibido logo após a publicação por ser considerado pornográfico, o filme “Mentiras”, “Gojitmal” no original, de 1999, do diretor coreano Jang Sun Woo é bem ousado.  Y, interpretada pela atriz estreante Kim Tae Yeon, tem 18 anos e é estudante. J, papel de Lee Sang Hyun, é um artista plástico de 40 anos. Uma amiga de Y se apaixona por suas esculturas, mas não tem coragem de falar com ele. Y resolve ligar para ajudar a amiga e, no meio do telefonema, descobre que quer transar com J. Na verdade, a menina resolve entregar sua virgindade ao escultor, antes de ser estuprada, como aconteceu as duas irmãs mais velhas.

No primeiro encontro, que é registrado com a frieza de uma câmera de documentário, eles já fazem de tudo. Mas é a partir do segundo que a coisa esquenta e cintos, chicotes, galhos de árvores e tocos de madeira começam a fazer parte da rotina sexual do casal. A proposta do filme, declarada logo na sua sequência de abertura, é falar da possessão. A maneira fria de Jang Sun Woo filmar, não nos dá a chance de nos envolvermos com esse casal, e nos deixa de fora de suas transas, não como voyeurs, mas como simples observadores.

Se há uma falha no filme é que a progressão dramática se dá mais pelo aumento do poder de ferir dos objetos de espancamento do que pela dramaturgia propriamente dita. Até mesmo quando acontece a virada de um dos personagens, ela não redunda em nada mais instigante do que as mesmas cenas que vimos anteriormente, sob um novo ponto de vista. Mas vale pela frieza, audácia da câmera, despudor das cenas e pela trilha de música eletrônica sul-coreana dos anos 1990, que embala algumas surras.

 

 

Por Luciana Pessanha

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