Meca do turismo ostentação, Dubai mostra seu lado mais discreto

A piscina do One&Only The Palm, em Dubai || Créditos: Divulgação/Revista J.P

Por Danae Stephan para a Revista J.P

Em Dubai, uma das principais cidades do Oriente Médio, tudo é superlativo. O maior shopping do mundo está lá, assim como o maior aquário suspenso e a maior pista de esqui indoor. Existem ilhas inteiramente construídas pelo homem, hotéis submersos e pista de golfe nas alturas; mercados de ouro com centenas de lojinhas resplandecentes, carros banhados com o vil metal e até vending machines de barrinhas de vários quilates.

Mas nem tudo é ostentação nessa meca do luxo. Na contramão da mania de grandeza estão os hotéis da rede One&Only, um oásis de sofisticação à beira-mar. A começar pela quantidade de quartos: no recém-inaugurado One&Only The Palm, são apenas 90 apartamentos e quatro vilas exclusivas de frente para o mar, com decoração de influência mourisca e andaluza.

Mesmo o primeiro endereço da rede, o One&Only Royal Mirage, com cerca de 400 suítes, é considerado pequeno perto da média de Dubai – todos os grandes hotéis por lá têm pelo menos mil quartos.

A vantagem se traduz no serviço impecável e na discrição, que se não interessa para os bilionários que gostam de exibir suas Ferrari e Maserati, é um alento para as ocidentais não acostumadas a ter que esconder partes do corpo por onde passam. Nas praias, afastadas e pouco frequentadas mesmo na alta temporada, há até quem arrisque um tímido topless.

Fora dos hotéis, nada de exibir muita pele. Nem transparências, decotes ou fendas. Não é necessário cobrir a cabeça como em outros países muçulmanos, mas algumas coisas são permitidas apenas dentro dos hotéis. Beber, por exemplo.

O Burj Khalifa, prédio mais alto do mundo, com 828 metros || Créditos: Divulgação/Revista J.P

Território livre

Com a proibição de álcool pela cidade, é natural que os hotéis se traduzam em ilhas de costumes ocidentais. Um dos points da região, que atrai tanto turistas quanto jovens locais, é o The Jetty Lounge, do O&O Royal Mirage. Um bar pé na areia, com música ambiente e uma carta de drinques bem completa. O garçom, um indiano que morou alguns anos no Brasil, sugere a bebida mais parecida com a nossa caipirinha: o brigantine, que leva cachaça, lima, açúcar e frutas vermelhas. Indicação bem-vinda, já que alguns dos outros drinques provados na mesa pecavam pelo excesso de açúcar.

De lá, a dica é dar uma esticada para dançar no Kasbar, também no O&O. A pista demora para esquentar: só depois do baticum eletrônico, com músicas de influência árabe e latina, é que os frequentadores, em sua maioria homens, se animam. Sem lei antifumo, cigarros e shishas – ou narguilés – são liberados em bares e casas noturnas.

Também não é preciso ir muito longe para ter experiências sensoriais das mais exóticas. O banho turco, ou hammam, do spa do Royal Mirage, é imperdível. Feito em grupos de até quatro pessoas por vez (todas do mesmo sexo, claro!), combina sauna, banhos mornos dentro e fora da banheira, esfoliação e massagem relaxante sobre uma mesa de mármore quente. O ritual todo pode durar mais de duas horas.

No The Palm, o spa é assinado pela Guerlain, com tratamentos exclusivos como o Dubai Harmony, massagem revitalizante com toques quentes e frios. Em seus 2.400 m2, o spa oferece uma seleção de fragrâncias Guerlain, além de maquiagens. E se você estiver disposto a desembolsar US$ 45 mil, é possível criar sua própria fragrância exclusiva, que vem em um frasco de cristal Baccarat dos mais finos.

Nos dois hotéis, é importante marcar as massagens e banhos com certa antecedência, já que mulheres e homens têm horários específicos, e não podem frequentar os ambientes ao mesmo tempo.

O restaurante Stay, com menu assinado pelo chef Yannick Alléno || Créditos: Divulgação/Revista J.P

Mesa farta

A comida é outro ponto alto dos hotéis. As melhores pedidas são certamente as opções à base de frutos do mar, mas as carnes não decepcionam. No 101, no O&O The Palm, a vista da marina dá um tempero a mais à comida mediterrânea. Tudo equilibrado, sem muitos condimentos ou pimentas. Já no Tagine, no Royal Mirage, cuja especialidade é a culinária marroquina, a chef Naima prepara uma iguaria muito comum em vários países africanos, mas bastante estranha para os brasileiros: pombo! De tão bom, quase pedimos repeteco – ainda bem que mudamos de ideia, assim pudemos provar a torta de baunilha, dos deuses!

Mas a experiência mais exótica em termos de gastronomia foi no elegante Stay, no The Palm. O chef Yannick Alléno – três estrelas no Guia Michelin pelo restaurante do Hotel Le Meurice, em Paris – criou mais que um cardápio. Ele usa uma técnica de extração de caldos para preparar bebidinhas, chamadas extractions, que harmonizam com a comida em um menu à parte, composto por cinco pratos. Tudo pensando nos costumes locais. Escolhas como o filé de trilha ao azeite marroquino e a paleta de cordeiro confit com ras el hanout ganham extractions de aipo, cogumelos, erva-doce e cenoura, e de abóbora, aipo, cogumelos e alcachofra.

A praia do One&Only Royal Mirage, onde costumes ocidentais, como beber álcool ou usar biquíni, são permitidos || Créditos: Divulgação/Revista J.P

Compras

Os shoppings são uma atração à parte. No Dubai Mall, considerado o maior do mundo em extensão, uma área reúne as principais grifes internacionais. Mas as novidades são poucas para quem frequenta lojas em Paris e Nova York. Lá, visite o aquário suspenso – o maior do mundo, claro –, que tem mais de 400 espécies de tubarão, arraias gigantes e milhares de peixes em 10 milhões de litros d’água.

São vários souks, três só de ouro. Para evitar falsificações, atenha-se às lojas físicas, onde as peças têm garantia e sobre as quais as autoridades mantêm boa fiscalização. Mas não espere encontrar souvenirs com a cara do destino. Quase tudo em Dubai é importado, da alface às calças “indianas” – iguaizinhas às vendidas nas praias de São Paulo. De local mesmo, só a produção de tâmaras e de chocolate de leite de camelo.

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