MC Guimê posa de homem de negócios para a revista PODER

 

Guimê veste terno e lenço Alexandre Won, camisa Ricardo Almeida, gravata Camargo Alfaiataria, relógio Jaeger-Le Coutre para Frattina, anéis, brincon e óculos acervo pessoal

O sucesso chegou a galope para MC Guimê, hoje um dos funkeiros mais famosos do Brasil. Mas por trás de tanta marra e ostentação, o que se encontra é um garoto tranquilo, risonho e sonhador

Por Caroline Mendes para a revista PODER de outubro
Fotos Maurício Nahas
Styling Renato Souza

Guilherme Aparecido Dantas sempre quis ser rico e famoso. Sonhava com o dia em que teria quantos carros importados coubessem na garagem, viajaria para Miami para fazer compras sem se preocupar com taxas de excesso de bagagem e daria festas regadas a champanhe em seu próprio apartamento em algum bairro nobre de São Paulo. De tanto sonhar, ele conseguiu.

Hoje, MC Guimê é um dos mais famosos funkeiros do Brasil, fatura cerca de R$ 1 milhão por mês entre shows e contratos com marcas graúdas como New Era (de bonés), Beats by Dre (de fones, conhecida só como Beats) e Nike (dispensa apresentações), só usa roupas de grife e joias de vários quilates, dirige ora um Citroën DS5 ora um Porsche Boxster e mora sozinho em um senhor apartamento em uma parte nobre do Tatuapé, bairro da zona leste paulistana, onde dá tantas festas quanto tem vontade. “Graças a Deus, consegui levar a ‘parada’ longe!”

NA HUMILDADE

A “parada” começou em Osasco, região metropolitana de São Paulo, onde Guimê nasceu e foi criado pelo pai e pela madrasta – “não gosto dessa palavra, ela é minha segunda mãe” – em uma casa bastante simples, mas onde nada faltou. Tanto que, quando começou a trabalhar, aos 12 anos, o objetivo não era ajudar com as despesas da casa, mas, sim, ter dinheiro para poder comprar um tênis ou um boné “mais da hora”. “Eu não gostava de ‘trampar’, só arranjava uns bicos em quitanda e lava-rápido porque meu pai me cobrava. Hoje, vejo que essa cobrança foi boa pra mim, me trouxe independência e me ajudou a dar uma vida melhor pra eles”, conclui um Guimê muito mais maduro, apesar dos 22 anos.

O que ele gostava mesmo era de cantar – ou “rimar”, como diz. Começou no rap inspirado por grupos paulistanos como Trilha Sonora do Gueto, Racionais MC’s e SNJ (sigla de Somos Nós a Justiça), mas logo percebeu que, no Brasil, rappers não fazem tanto sucesso quanto funkeiros. “Tocava funk em novela, em balada classe A, em todo lugar. Escolhi o funk pra ir mais longe e também porque eu queria fazer uma ‘parada’ nova, diferente”, conta, se referindo ao funk ostentação, que já existia na época, principalmente em São Paulo, mas que ganhou proporções nacionais em 2011 com “Tá Patrão”, primeiro hit de MC Guimê. “Foi o primeiro clipe que eu fiz pra valer, em parceria com o (produtor) KondZilla. Eu tinha marcado três shows no mesmo dia pra juntar dinheiro pro vídeo. Num deles eu nem cantei porque a casa estava vazia, no outro, recebi só metade do cachê e no outro nem recebi. Acordei ‘virado’ no dia seguinte, tinha dormido só umas duas horinhas, e não tinha grana. Mesmo assim o KondZilla estava acreditando na ‘parada’, a gente fez o clipe e graças a Deus deu certo”, lembra. Para MC Guimê, “dar certo” significa ter mais de 1 milhão de views no YouTube em uma semana.

NO FLOW

Logo o rei do funk ostentação estava, de fato, “contando os plaquês de 100 dentro de um Citroën”, como diz a letra de “Plaquê de 100”, seu segundo hit – para quem não sabe, “plaquê” significa nota de dinheiro. “Tudo aconteceu muito rápido! Quando vi, estava nos bastidores de um programa de TV e a Roberta Miranda veio falando que era minha fã e que adorava meu trabalho… Até tirou foto comigo”, lembra. A conhecida amizade de MC Guimê e Neymar veio um pouco mais tarde, em 2013, com o clipe da música “País do Futebol”, hit não oficial da Copa do Mundo de 2014, que acabou se tornando trilha de abertura da novela Geração Brasil, da Rede Globo, exibida no mesmo ano. “Quando isso tudo aconteceu, eu vi que estava entrando  em outro mundo!”

No novo mundo, MC Guimê chegou a fazer cerca de 30 shows por mês – hoje, faz entre 20 e 25 –, faturar mais de R$ 1 milhão mensalmente – “não ganho mais tanto, mas não fica muito longe disso, não (risos)” – e ter mais de 200 pares de tênis – “dei vários, ficaram uns 100”. Sob seu comando estão cerca de 40 funcionários, entre motoristas, seguranças, produtores, técnicos de luz e som, bailarinas e assessores pessoais, que, ele garante, o colocam na linha. “Se não fosse tão cobrado, ia curtir muito mais! Os caras me botam pra trabalhar. Mas eu sei da responsabilidade que eu tenho e sou bastante focado. Já percebi que quando a gente acaba desvirtuando, as coisas não dão certo.”

Neste mês, MC Guimê deve lançar um CD com 20 músicas inéditas em parceria com artistas como Claudia Leitte, Mr. Catra, Negra Li e Lexa. Também vai inaugurar a Náutica Tattoo, mix de loja, barbearia e estúdio de tatuagem no Jardim Anália Franco, a ala rica da zona leste paulistana. Trata-se de seu primeiro empreendimento. “No futuro, quero pendurar uma rede numa casa de interior e ficar tranquilão”, ri.

Apesar das caras e bocas cheias de marra e da ostentação, MC Guimê está muito mais para um garoto deslumbrado e de bom coração do que um egocêntrico ambicioso. A maioria dos pingentes que leva em pesadas correntes no pescoço – todas de ouro  – remete a símbolos da religião católica. Seu favorito, que funciona como amuleto, é um busto de Santa Bárbara, de quem sua avó paterna era devota. “Rezo todo dia, toda hora”, conta. Entre uma frase e outra, ele deixa transparecer uma calma de monge apesar da fala acelerada e se mostra discípulo das máximas “viver um dia de cada vez” e “fazer o bem não importa a quem”. “Eu posso comprar um videogame pro meu irmão mais novo. O dinheiro paga o brinquedo, mas o sentimento dele e o meu sentimento o dinheiro não compra.” Coisa de cordeiro em pele de lobo.

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