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A atriz interpreta Karine em Éramos Seis e está na série Rotas do Ódio, da Globoplay / Crédito: Instagram
A atriz interpreta Karine em Éramos Seis e está na série Rotas do Ódio, da Globoplay / Crédito: Instagram

Dona de traços marcantes, Mayana Neiva retorna às novelas depois de interpretar a prostituta Leandra em ‘O Outro Lado do Paraíso’. Dessa vez, ela dá vida à Karine, em ‘Éramos Seis’, mulher de personalidade forte e que promete mexer com a vida de Assad (Werner Schünemann) e Soraia (Rayssa Bratillieri). “Karine é uma mulher bem à frente da sua época, traz um traço de ousadia e modernidade. Eu estou curtindo bastante fazer esse remake”, conta.

Mas não é só a personagem que tem personalidade forte. A atriz paraibana de 36 anos, formada em Direito e Letras, é cheia de opinião e também interpreta a delegada Carolina na série ‘Rotas do Ódio’, que debate questões bastante atuais. “Rotas do Ódio é um dos grandes projetos da minha vida. Primeiro, porque acredito muito nessa temática, de discutir a intolerância nos tempos de hoje e todo esse discurso de ódio legitimado que estamos vivendo nesse governo. Precisamos realmente de um campo de discussão e acho que nunca se falou tanto… e se viveu tanto crimes de ódio e intolerância”, diz ela.

E Mayana ainda tem tempo para o cinema, uma de suas grandes paixões, e aproveita para comemorar o crescimento de produções brasileiras. Ela está em ‘Beiço de Estrada’, longa de Eliézer Filho, na pele da personagem Dora, uma mulher que decidiu sair do sertão para buscar a sorte em outros lugares do Brasil. “É um filme muito especial pra mim. Dirigido pelo Eliézer, que é paraibano, está na Itália agora e tem viajado o mundo em festivais. Esse longa tem muitos atores paraibanos, inclusive Suzy Lopes, que está em ‘Bacurau’. É delicado, poético, super diferente de tudo o que já fiz”, diz. E como o papo está bom, confira a entrevista completa abaixo:

Glamurama: Conte um pouco sobre a sua personagem em ‘Éramos Seis’? Quais são os maiores desafios?
Mayana Neiva: Meu personagem é a Karine. Ela é a segunda esposa do Assad, interpretado por Werner Schüneman. É uma mulher que vem para movimentar a vida dele. Entra na segunda fase, já nos anos 30. Karine é uma mulher bem à frente de seu tempo, e traz um traço de ousadia e modernidade. Eu estou curtindo bastante fazer esse remake! A autora, Angela Chaves, pôde aproveitar essa oportunidade para reconstruir personagens femininos, que ganham relevância agora em 2019.

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G: Além da novela, você estrela também ‘Rotas do Ódio’, que já está indo para a 4ª temporada. Como é interpretar uma delegada?
MN: ‘Rotas do Ódio’ é um dos grandes projetos da minha vida. Primeiro, porque acredito muito nessa temática, em discutir intolerância e todo esse discurso de ódio legitimado por esse governo. Precisamos realmente de um campo de discussão, e eu acho que nunca se falou tanto, e se viveu tanto crimes de ódio e intolerância. Então, essa série é muito importante, não só porque é um trabalho de atriz em que acredito, que sou protagonista, mas porque tem esse retrato de nosso tempo ali refletido.

G: Precisou fazer laboratório para a personagem?
MN: Sim. Me inspirei em delegadas reais, trabalhei e acompanhei o dia a dia delas. A gente teve um treinamento específico, para entender a inteligência da polícia e como ela pensa, e não só a parte física. Mas, o que para mim mais caracteriza a delegada Carolina é essa ligação com os direitos humanos. Ligada não só à polícia civil, como à estratégia do crime especificamente, ou do que acontece, mas como pensar aquilo, como trazer uma personagem que agrega uma camada ainda maior. Esses laboratórios foram bem importantes para mim, para entender esse ponto de partida humano. Na 4ª temporada a personagem lida com imigrantes e refugiados. Então, tem essa assistência da justiça internacional. ‘Rotas do Ódio’ é uma série que é bem importante pro nosso tempo, que reflete, esclarece e provoca uma série de questões que estão bem no nervo da nossa realidade.

G: No que você se identifica com a Carolina?
MN: Fazer uma delegada é muito interessante. Considero um dos personagens mais importantes da minha carreira porque ela debate o feminino de uma maneira bem ativa. É uma personagem dirigida por mulher, escrita por mulher, para uma mulher. Ela sai desse lugar óbvio do delegado masculino. Me identifico justamente com o interesse que ela tem pelas pessoas, com esse traço de aprender com o que o outro traz. Isso realmente me conecta muito com o espírito da Carolina, me sinto muito próxima da alma dela.

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G: Sua visão sobre a realidade dentro de uma delegacia mudou depois da série? Como é lidar com um ambiente tão masculino?
MN: Em geral, como fui pesquisar delegadas mulheres e todo o trabalho que eu acho que a série propõe, é esse olhar feminino diante de um mundo que já é muito masculino. É a mulher que coloca a sua escuta e o seu feminino a serviço de se compadecer das narrativas que atravessam a delegacia, e se transforma também através disso. Sinto que essa personagem traz para o campo do feminino, a responsabilidade, a coragem, outras cores e outras qualidades.

G: Vamos falar sobre cinema. O filme ‘Beiço de Estrada’ está agora na Itália. Você acha que o mundo está valorizando mais o cinema brasileiro?
MN: ‘Beiço da Estrada’ é um filme muito especial pra mim. Dirigido pelo Eliézer Filho, que é um diretor paraibano e tem viajado o mundo com ele em festivais. Esse longa tem muitos atores paraibanos, inclusive Suzy Lopes, que está em Bacurau, e que é uma grande amiga também. É um filme delicado, poético, super diferente de tudo o que já fiz. Faço Dora, uma mulher do sertão que decide sair de lá e que passa a morar na estrada. Estamos passando por um momento muito bonito, em que o cinema brasileiro recebe um acolhimento emblemático. ‘Bacurau’ ter ganhado Cannes, toda a repercussão que está acontecendo, ‘A Vida Invisível’, de Karim Aïnouz, e mesmo o filme do Wagner nos festivais lá fora. Esse acolhimento diz muito do valor do nosso cinema, no momento em que a arte está sendo tão questionada, atacada e perseguida.

G: O brasileiro está mais interessado em filmes e séries que são feitos aqui no nosso país? 
MN: Houve uma abertura para o desenvolvimento do nosso próprio mercado. O Brasil se vê na novela há muito tempos. As séries e os filmes completam isso, conquistando mais espaço. Além de criar mais oportunidades de trabalho para uma grande indústria, que emprega muita gente, milhões de pessoas, é um jeito de a gente se enxergar. Infelizmente sinto que o cinema, apesar de todo o reconhecimento, está passando por um momento difícil e isso é muito triste. A competição com as produções americanas, os espaços nas salas e toda essa política de restrição à arte que está sendo feita. Estamos passando por uma espécie de regressão na nossa cultura, em termos de políticas públicas.

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G: Nas redes sociais, você adota uma postura feminista. O que mudou na sua vida quando conheceu o movimento? 
MN: Comecei lendo “O Segundo Sexo”, de Simone de Beauvoir. Foi o primeiro livro que me marcou muito sobre o feminismo. Existe uma série de questões, mas uma das que mais me marca é o nascimento do feminino. Ela explica as meninas ganham bonecas e veem ali a representação de si mesmas – o que é uma coisa bem impactante pra uma mulher. Uma boneca loira, alta, de olho azul, não corresponde necessariamente à imagem dela. Daí ela passa para a imagem do desejo masculino quando adolescente, se moldando a esse olhar externo. Então, o feminismo é um movimento que busca que as mulheres sejam quem elas vieram ser: sua própria liberdade, e também uma igualdade de direitos. É essencialmente sobre ter os mesmo salários, por exemplo. Acontece comigo. Em muitos trabalhos que faço, os homens em papéis equivalentes ganham muito mais. Existem sim, uma série de desigualdades que estão presentes na nossa sociedade, como o desejo da mulher que é combatido desde sempre, e o do homem não.

G: O cenário político atual te assusta? 
MN: O cenário atual político me assusta bastante, porque estamos regredindo de uma maneira exponencial. Estamos tendo que defender Fernanda Montenegro, por exemplo. Uma série de coisas que são muito óbvias, o ataque ao pensamento como um todo. Um país que deixa de ter pesquisa, deixa de incentivar as faculdades de pensamento, de artes, filosofia, e tudo mais. Toda esse discurso de ódio, que legitima mais ódio, é muito perigosa para um país que não investe em sua própria educação. Esse é um dos momentos políticos mais difíceis que vivi.

G: E uma curiosidade, se não fosse atriz, o que seria? 
MN: Se eu não fosse atriz, gostaria de ser cantora. Além disso, eu estudei Letras e Direito. Talvez eu tivesse enveredado por alguma dessas áreas: literatura ou Ministério Público, diplomacia…

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