Marina Ruy Barbosa por Fabio Assunção para Revista J.P: “Ela é uma senhora praticamente…”

Neste turbilhão de atrizes que existem por aí, Marina Ruy Barbosa brilha. Na TV, na internet, na moda e na publicidade – quem já percebeu que ela está pegando quase todas as campanhas brasileiras que eram de Gisele? Com 23, já casou, se arrisca como escritora, virou it girl e leva uma rotina que pode começar 8 da manhã e terminar só às 4 do dia seguinte – com direito a dancinha de funk até o chão no final. Foi assim com a gente. Agora, Marina emenda a segunda novela no ano para viver Luz de ‘O Sétimo Guardião’, sua primeira protagonista das 9, na Globo, e encara por aqui um bate-papo com Aguinaldo Silva, autor da história e fã declarado. E alerta textão: Fabio Assunção e sua versão da atriz

fotos maurício nahas / edição de moda flavia pommianosky e davi ramos (s.d mgt) / beleza krisna carvalho

Aguinaldo Silva: Marina, você já é uma atriz veterana. Começou criança. E assim o público pôde acompanhar seu crescimento pelas várias fases de sua carreira. Agora está na idade em que, na ficção, deixa de viver papéis de mocinha e passa a ser uma mulher adulta e dona do seu nariz.

Marina Ruy Barbosa: Era bem novinha mesmo, mas sempre olhei para essa profissão com seriedade e com a certeza de que essa seria a minha escolha de vida. Nunca parei de trabalhar e as personagens acompanharam o meu crescimento e amadurecimento. Então essa transição na frente das telas aconteceu de forma natural para mim. São 13 novelas, três séries e dois filmes. Para quem está de fora e não acompanha desde o início pode achar: “Ah, ela é nova e conseguiu tudo rápido!”. Mas não é bem assim, não…

AS: Você tem milhões de seguidores nas redes sociais e, em suas postagens, passa um ideal de serenidade, discrição e beleza. Essa é a imagem da Marina de verdade?

MRB: Cada vez mais a gente percebe que a rede social, por mais que seja um recorte que a gente escolhe fazer da nossa vida, precisa ser de verdade. Mas a gente não é daquele jeito o tempo todo. Acredito que, pelo menos, para minha felicidade, preciso preservar certas coisas. Então, vai ser muito difícil você ver uma postagem que “entre” completamente na minha intimidade. Tem que ter um limite, não dá pra fazer da minha vida um reality show (não que ache errado, cada um faz o que quer! rs). Tenho um marido que não trabalha nesse meio, que é dono de uma empresa de energia eólica e que muitas vezes não faz nem ideia de quem é quem do meu meio artístico. E acho isso maravilhoso, porque não vivo essa loucura 24 horas por dia. Eu tenho os pés no chão, não quero ser celebridade, não acredito nesse glamour como algo real. E acho que se você acredita, você pira ou fica insuportável! Real é o trabalho, o reconhecimento, a família, o prazer. O resto é consequência e um pouco superficial.

AS: Você é muito bem casada, aliás. Já está pensando em ter filhos?

MRB: Não é um plano para agora. Os filhos estão nos planos, claro, mas não há prazos. Sou muito jovem e sinto que ainda não estou preparada para essa responsabilidade enorme. A gente fala sobre isso e quando for a hora, vamos sentir. Quero ter tranquilidade para curtir a maternidade. Antes, ainda tenho algumas ambições e vontades próprias, como ficar um tempo fora estudando.

AS: Sobre a mulher de hoje (e de amanhã), você acha que ela deve dar espaço apenas às certezas… Ou deve sempre deixar uma porta entreaberta para que entrem algumas dúvidas?

MRB: Que graça a vida teria sem o inesperado? Sou uma pessoa organizada, mas adoro ser surpreendida. Sou inquieta, embora calma, e isso faz com que me alimente também daquilo que não está previsto. Como atriz, acredito que não deva fechar essa porta para o incerto. Ele alimenta a alma, nos recicla e nos tira do lugar. Não sei, tenho a sensação de que faz a energia circular e a gente se refaz para os novos “recomeços”. Atuar é recomeçar eternamente. É viver várias vidas! Gosto de criar metas, sou bem focada e tenho alguns lemas: “O impossível existe até que alguém duvide dele e prove o contrário” e “acredita que acontece!”.

AS: Para os grandes atores, a profissão é um eterno aprendizado. Você que, na minha opinião, já é uma grande atriz, ainda estuda?

MRB: Aguinaldo! Te amo! Fico lisonjeada em ter essas palavras de alguém que tanto respeito e admiro. E acho muito especial que você foi uma das pessoas que acreditou em mim, me deu um papel tão especial em Império. Fazer um triângulo amoroso com Lilia Cabral e Alexandre Nero aos 17 anos. Foi lindo! Para mim, uma coisa não anda sem a outra: atuar e estudar. Não sei fazer nada sem estar inteira. Faço preparação com uma psicanalista, que me ajuda a traçar perfil psicológico da personagem, preparadora corporal, e mantenho o estudo ao longo das gravações. Posso ter a vida corrida, ter mil compromissos, mas a da preparação é sagrada para mim.

 

Menina Veterana. Marina. Marina Ruy Barbosa

23 anos. De profissão? De idade? Não sei, acho que os dois. Não! Acho que ela nasceu antes
Agora tô na dúvida.
Não sei exatamente o que isso significa, mas seu signo é Câncer.
Ela é branquinha e o cabelo tá sempre pegando fogo, não sei como não arde.
Ela tem crise de riso que todo adulto deve ter e é séria como qualquer criança deve ser.
Ou ao contrário. Sim? Talvez não.
Você encontra tudo sobre ela no Google. Espera! Eu não li nada dizendo que ela se diverte trabalhando. No meu cenário, onde sua Eliza (em ‘Totalmente Demais’) morou por meses e gravávamos mil cenas por semana – aliás, deixo um beijo aqui nas fãs de “Arliza” que shippavam o casal da fábula. Continuando, na mesa de jantar tinha uma geleia indiana, algo assim. Meu personagem comprava especificamente aquela. Um capricho de bon-vivant. Logo nas primeiras cenas, Marina/Eliza foi se servir da geleia e eu/Arthur cheguei com a mão primeiro, impedindo o abuso (cara fresco). Mas isso se tornou logo uma das nossas brincadeiras em cena. Íamos pra mesa ensaiar e assim que a direção “dava o gravando”, lá iam nossas mãos em sentidos opostos disputar a geleia. História boba? Talvez, mas isso nos jogava no play e, na velocidade de uma novela, com carga de trabalho e responsabilidade grandes, essas bobagens eram coisa de gente crescida que não se leva tão a sério, impróprio para a menina de 20 anos na época. Queremos sempre apresentar um trabalho redondo, mas com a Marina a excentricidade nunca será zero como numa circunferência. Marina produz elipses e parábolas, dentro e fora de cena. E isso não está no Google.
Ela é trabalhadora. Braçal. Todo dia é dia. Ou é uma foto ou um vídeo, campanha, desfile, posts, novelas, presenças e mais um monte de coisas, mas está sempre ali, com um sorriso fácil de se arrancar. Você se sente preguiçoso do lado dela.
Ela cantarola entre as cenas os hits sertanejos universitários que você nem teve chance ainda de escutar (não posso afirmar que isso é ruim, mas outro dia chorei ouvindo, tava sensível…), muito menos de saber quem é a dupla. Você é um desinformado perto dela. Isso também não está no Google.
Marina é menina. Moça. Mulher. Veterana. Uma senhora praticamente,
que nasceu lá nos anos 1990.
Marina é romântica. Doce. Forte. É precoce dentro de um padrão, muito fora da curva,
no melhor dos sentidos.
E ela ainda terá 25, 33, 46, 57, 71 anos, 90… Nada aconteceu ainda. Na verdade, nada precisará acontecer. Marina é essa máquina poética, emocionante. Já é um acontecimento em si. Uma princesa de conto de fada que não tem medo da guerra que é viver.
Marina. Vou estar sempre aqui, te aplaudindo.

Fabio Assunção

*

Confira mais fotos do ensaio incrível de Marina para a Revista J.P:

[galeria]4604873[/galeria]

Sair da versão mobile